(foto: Bruno Poletti 20/03/2015 Folhapress)

Uma grande festa marcou o aniversário de 70 anos de Marta Suplicy, mais de dois anos atrás. Com convites cor-de-rosa, vestido branco bordado assinado pelo estilista Samuel Cirnansck, finíssimo e altíssimo salto agulha e cobertura da revista “Caras” e do site "Glamurama", a festa ocorreu no salão de festas do seu prédio no Jardim América.

A comemoração se deu às vésperas de sua mudança de partido, provavelmente motivo pelo qual nem Lula nem Dilma compareceram ao evento. Apesar de ainda estar no PT, Marta já preparava sua troca de partido e já havia informado a Lula que “iria buscar seu caminho”.

Marta andava com a cabeça na eleição. Àquela altura se acreditava que a aniversariante iria para o PSB. Seis meses depois, ela se filiaria ao PMDB, sigla pela qual viria a disputar em 2016 a Prefeitura de São Paulo —e perder para o tucano João Doria. Ela só recebeu um então colega de sigla: Delcídio do Amaral (MS), que teve o mandato de senador cassado em 2016.

Mas os amigos políticos de então compareceram ao evento. O atual presidente Michel Temer com a mulher Marcela, o vice-governador paulista, Márcio França (PSB-SP), o ex-presidente José Sarney e Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, marcaram presença. Além disso, ela recebeu Joesley Batista e Ticiana Villas Boas, casal de quem tinha ido ao casamento.

Ironicamente, o amigo de outrora se tornou seu delator de hoje. O dono da JBS pode se tornar o responsável por nova investida da Lava Jato contra Marta. Joesley contou em delação ter pago mesada de R$ 200 mil a ela por 15 meses e dado R$ 1 milhão para a campanha ao Senado em 2014. Ela, porém, diz que só recebeu doações legais.

De qualquer forma, ela se livrou graças à idade (aquela que completou na festança de dois anos atrás), ao menos por enquanto, da Operação Lava Jato. Na segunda-feira (7), um pedido de inquérito contra a peemedebista foi arquivado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) porque Marta já passou dos 70. Com isso, não caberia punição, caso a investigação seguisse.

O prazo de prescrição de um crime é reduzido pela metade quando a pessoa chega a essa faixa etária. Além de Marta, 72, os deputados Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), 74, e Roberto Freire (PPS-SP), 75, foram beneficiados pelo arquivamento. Todos são citados na delação da Odebrecht, suspeitos de receber caixa dois em campanhas.

A Odebrecht afirmou na delação que fez doações ilegais às campanhas dela em 2008 (para prefeita) e em 2010 (para o Senado). Marta sempre negou e recentemente não quis comentar o arquivamento, quando procurada pelo jornal Folha de São Paulo.

Marta pode, portanto, comemorar seu aniversário de 73 anos no ano que vem sem medo de ter se envolvido em escândalos de corrupção. Pode fazer novamente uma grande festa para seus atuais e mesmo antigos amigos políticos, para comemorarem juntos a impunidade pela qual são beneficiados. Talvez convide novamente Joesley, sem ressentimentos. É o sistema judiciário mostrando novamente a que classe está servindo.