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NOSSAS VIDAS VALEM MAIS QUE O LUCRO DELES
243 anos de Campinas: nossas vidas valem mais que os lucros deles
Danilo Paris
Editor de política nacional e professor de Sociologia
Gabriel "Biro"
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Nesta sexta-feira, dia 14 de julho, Campinas completou 243 anos desde sua fundação. O prefeito Jonas Donizette (PSB) aproveitou para propagandear seu governo em todos os jornais da cidade, falando de emprego e qualidade de vida. Através da observação de alguns dados da cidade, mas também das ruas, hospitais e outros espaços públicos, é surreal essa “bela imagem” de Campinas na vida de um trabalhador comum, que tem seu emprego, saúde e direito à vida contestados por Jonas e seus amigos empresários e grandes industriais. Na luta, nós trabalhadores respondemos que nossas vidas valem mais que o lucro dos patrões.

Na reportagem escrita para o jornal Metro, o recado da prefeitura foi de comemoração pelos $37,6 bilhões de faturamento da cidade, contentando-se com 83,9 mil empregos na indústria. Segundo o prefeito, em reportagem para o jornal Correio Popular, “Campinas está entre as cidades com a melhor qualidade de vida do País”. Ao que tudo indica, Jonas não mora na mesma Campinas que nós.

Campinas desempregada

Campinas, é reconhecida pelo seu enorme parque industrial e tecnológico, que agrega cerca de 429 empresas associadas, sendo que destas 50 são multinacionais e 165 são exportadoras. Porém esse enorme acumulo de riqueza está longe de chegar nas mãos dos 1,1 milhões (IBGE2016) de habitantes. Enquanto Jonas comemora, os índices de emprego em Campinas vêm caindo mês após mês. O ano de 2016 já começou com a empresa multinacional Mabe fechando suas portas e colocando 2000 famílias na rua. Segundo a FIESP, somente no setor industrial, de jun/2015 à jun/2016, o Nível de Emprego Industrial foi de -6,75%, registrando ao final do ano passado recorde de desemprego na região com 12,11% População Economicamente Ativa em situação de desocupação segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego), ou seja, 227.169 trabalhadores ficaram fora do mercado formal de trabalho. Chegamos a junho de 2017 e a situação não está diferente, segundo a FIESP Nível de Emprego Industrial foi de -1,63% referente aos últimos 12 meses. Além disto Campinas e Americana estão entre as quatro cidades do estado de São Paulo com mais registros de funções análogas à escravidão nos últimos 14 anos, segundo dados do Observatório Digital do Trabalho Escravo no Brasil. Dados de 2003 até abril deste ano e apontou que os dois municípios somam, juntos, 204 casos de trabalhadores nesta condição.

É explícito no dia a dia de um qualquer um que ande pelas ruas de Campinas a situação do desemprego na cidade, basta perceber o aumento cotidiano da população pobre pelas ruas, ou então para as enormes filas nas agências de emprego centrais pela manhã. Também é preciso lembrar que o aumento do desemprego por consequência achata os salários devido ao aumento na concorrência no mercado de trabalho, afetando diretamente a qualidade de vida. Entre os trabalhadores das metalúrgicas é muito comum os relatos daqueles que foram demitidos e tiveram que aceitar a metade do que recebiam de salário para se recolocarem no mercado de trabalho.

Porém esta é a fotografia antes da reforma trabalhista ser aprovada, pois a tendência, ao contrário do que diz os patrões a mídia e o governo, é piorar. Com a flexibilização dos direitos trabalhistas a taxa de exploração do trabalho irá aumentar drasticamente. Além disto grandes empresas passarão a implementar profundas reestruturações para se aproveitar das novas leis trabalhistas. Desta forma uma nova leva de demissões pode estar por vir nos principais ramos da indústria e os novos empregos oferecidos serão ainda mais precários.

Campinas na fila dos hospitais

A saúde sem dúvidas é um dos quadros mias calamitosos da cidade. A taxa de mortalidade infantil média na cidade é de 8.13 para 1.000 nascidos vivos. As internações devido a diarreias são de 0.3 para cada 1.000 habitantes. Estes dados fazem com que quando comparada às demais cidades de todo o Brasil, Campinas está nas posições 3639 de 5570 em mortalidade infantil e 3907 de 5570, em casos de internações, ou seja a baixo da média nacional (IBGE2014).

Os atendimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) de Campinas (SP) aumentaram 45% em um ano, segundo um levantamento da Prefeitura. Em 2015, o total de consultas foi de 1,5 milhão, e passou para 2,3 milhões em 2016.

Saiba mais: O drama da saúde em Campinas

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o número de leitos em Campinas está a abaixo do recomendado. Os hospitais públicos estão sempre lotados precarizando seriamente o atendimento a população. São comuns os relatos de vidas de familiares e amigos que poderiam ter sido salvas mas faleceram devido a erros ou atrasos no procedimento médico. Ao processo de privatização, sempre seguido pela precarização do serviço também afeta os hospitais da Unicamp e do Ouro Verde. Neste processo o atendimento público é achatado para dar espaço ao exclusivo atendimento particular para os que podem pagar. Um verdadeiro processo de elitização do acesso a saúde. Fruto desta precarização e privatização, um dos principais complexos de saúde da cidade que fica na Unicamp, o pronto-socorro adulto do HC chegou a suspender o atendimento. A unidade de emergência chega a manter uma média diária de 70 macas ocupadas, distribuídas pelos espaços disponíveis no hospital, inclusive os corredores sendo que a capacidade oficial do setor é de 28 leitos. A superlotação atingiu também o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), que também chegou a fechar para o atendimento a gestantes e recém-nascidos. A notícia mais recente sobre caos da saúde na cidade é sobre a vacina pentavalente, que garante imunidade contra várias doenças em recém-nascidos, e está em falta em Campinas desde o final de maio, segundo informações da prefeitura.

Em quanto isso os hospitais particulares lucram fortunas com o alto preço de seus atendimentos, se aproveitando do desesperos daqueles não querem morrer e não possuem outra alternativa.

Campinas feminicida

O machismo estrutural está presente de cima a baixo desta cidade que possui apenas uma vereadora mulher, dos 33 eleitos. O machismo institucional também é explicito quando em 2015 a câmera de vereadores aprovou uma moção de repúdio contra questão do ENEM que cita Simone de Beauvoir, proposta pelo vereador Campos Filho (DEM). Esse é o exemplo que a casta política campineira dá para uma cidade onde somente no ano passado foram registrados na Delegacia de Defesa da Mulher 3.525 boletins de ocorrência, além de outros 4,9 mil registros em outras delegacias que tiveram a mulher como vítima. Campinas também teve um aumento de 34,4% de estupros oficialmente registrados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) entre 2015 e 2016.

Não atoa foi na cidade de Campinas que ocorreu uma das maiores chacinas de feminicídio da história recente do Brasil, quando Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, matou 12 pessoas a tiros antes de se suicidar na noite de Réveillon, sendo das 12 vítimas, nove mulheres, entre elas sua ex-esposa Isamara Filier, de 41 anos.

Campinas sem educação

Em Campinas 4% dos jovens de 6 a 14 anos não frequentam a escola, posicionando o município na posição 600 de 645 dentre as cidades do estado e na posição 4570 de 5570 dentre as cidades do Brasil. Ou seja, um dos piores índices nacionais de escolarização infantil (IBEGE2010).

A estrutura física das escolas municipais seguem a linha nacional e estadual de precarização da educação. Os modelos de escolas pré-fabricadas instaladas pela Secretaria de Educação do Estado em 2003 vem apresentando corrosão, fissuras e mofo. O déficit de vagas nas creches também é recorrente e aumenta ano após ano. Cerca de 7,5 mil crianças que ficaram sem acesso a este direito em 2016 segundo o Ministério Público. Além disto, assim como na saúde, a privatização também assola a educação de Campinas, com projetos de administrações privadas e terceirização dos serviços, levando a precarização dentro da sala de aula para alunos, professores e funcionários.

Campinas lgbtfóbica

Campinas registrou 1.571 casos de homofobia entre janeiro de 2012 e abri de 2017. A cada três dias, a cidade registra dois casos de discriminação ou violência motivada pela orientação sexual. Nos primeiros quatro meses de 2017, foram 81 denúncias. Aqui os políticos reacionários da Cidade também dão o exemplo da homofobia institucional quando a Câmara de Vereadores aprovou o projeto de emenda à Lei Orgânica do Município, proposta mais uma ver pelo vereador Campos Filho (DEM), que proíbe o debate de gênero e sexualidade nas escolas. Ao todo, 25 vereadores votaram a favor e apenas cinco, contra. O texto veta a criação de novas leis que apliquem os termos "gênero" ou "orientação sexual" às políticas de ensino. Mas as tentativas de calar os LGBTs na cidade não parou por ai, em 2016 a prefeitura de Campinas mandou reprimir a polícia militar parada LGBT com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.

Campinas sem salários

Alegando uma séria crise financeira na prefeitura de Campinas, Jonas Donizette atrasou e parcelou o salário e o décimo terceiro dos servidores públicos. Milhares de trabalhadores do município ficaram sem receber. Em 2015 os trabalhadores terceirizados que prestam serviços na rede pública também ficaram sem salários, pois a prefeitura atrasou meses de repasse para suas empresas. Neste período escolas, creches e até postos de saúde chegaram a fechar para a população. A terceirização vem se alastrando pelos serviços públicos de Campinas, e junto com ela aumenta a precariedade do trabalho e dos serviços, aumenta também os custos da prefeitura e seu endividamento. Para tentar mascarar as dívidas de sua administração fraudulenta, Jonas Donizette aprovou uma lei em 2016 que permite a prefeitura utilizar o Fundo de Pensão Previdenciário dos Servidores Municipais, fundo que foi criado pelos próprios trabalhadores para bancar suas aposentadorias, para pagar os salários atrasados e as dívidas do município, ou seja, um roubo legalizado do dinheiro dos servidores públicos por parte da prefeitura.

Campinas em luta

A cidade de Campinas está longe de ser as mentiras propagandeadas por Jonas Donizette e seus aliados. É uma cidade cruel que divide os trabalhadores, explora suas forças produtivas e depois os largam para morrer na frente dos hospitais. É uma cidade opressora, que acumula riqueza para os ricos, e esbanja miséria para os pobres. Mas é uma cidade que não abaixa a cabeça e não aceita calada. Os processos de luta em Campinas contra a exploração e a opressão, por direitos e melhores condições de vida, vem se desenvolvendo desde 2013. Os ataques contra os trabalhadores, a juventude e os setores oprimidos não ficam sem respostas. Mas as lutas que viemos protagonizando nos últimos anos é apenas uma pequena amostra da verdadeira força da classe trabalhadora de Campinas. E contra cada uma das condições de miséria que nos é imposto precisamos nos levantar, contra Jonas Donizzete, Campus Filho e os patrões no topo das multinacionais, pois nossas vidas valem mais que o lucro deles.

 
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