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VENEZUELA
Venezuela: Inspetor da polícia sobrevoa o Tribunal Supremo com helicóptero e pede a renúncia de Maduro
Milton D’León
Caracas

A tensão causada pelo voo de um helicóptero que haveria lançado granadas sobre o Tribunal Supremo e os atos de violência nas imediações da Assembleia Nacional expressam a magnitude da crise

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Um inspetor da polícia científica (CICPC) sobrevoou nesta terça-feira, 27, a sede do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) em Caracas em um helicóptero desta corporação com a mensagem "350 Libertad" e, mais tarde pediu, através de um vídeo, a renúncia de Maduro.

O inspetor do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (CICPC), Oscar Pérez, logo apareceu nas redes sociais fotografado ao lado de outros fardados a bordo da aeronave segurando uma pequena faixa em que se lia "350 Libertad", em alusão ao artigo da Constituição que desconhece "qualquer regime" que contrarie as garantias democráticas.

Ainda que até o momento não estejam muito claras quais são as bases que justificam este comando policial que sequestrou o helicóptero para realizar tal ação, posto que nenhum setor assumiu a responsabilidade por ela, o que está colocado sobre a mesa é a enorme magnitude da crise política. No instante em que o helicóptero sobrevoou a sede do Tribunal Supremo, escutaram-se algumas detonações supostamente originadas de bombas sonoras lançadas a partir da aeronave. As imediações do TSJ, a poucas quadras da sede do Palácio de Miraflores, a casa presidencial, foram resguardadas com segurança militar, incluindo um tanque de guerra.

Durante a tarde, conforme denúncias do deputado da MUD (Mesa de la Unidad Democrática) e presidente do partido Primero Justicia, Julio Borges, também houve a ocorrência de ataques de grupos civis armados à sede do Legislativo, logo após um confronto entre alguns deputados e membros da Guarda Nacional dentro da instituição. Estes grupos, reconhecidos como coletivos chavistas, teriam lançado bombas sonoras no interior do pátio da Assembleia Nacional.

No entanto, este feito ficou ofuscado pela ação do integrante do CICPC que, enquanto sobrevoava o TSJ, tinha um vídeo difundido nas redes onde podia ser visto lendo uma nota, mostrando o seu rosto e acompanhado de outros quatro homens uniformizados, encapuzados e armados, com o intuito de alcançar "a cada base militar" do país.

Lendo um comunicado, o inspetor declarava que: "Somos uma coalizão entre funcionários militares, policiais e civis na busca de equilíbrio e em oposição a este governo transitório criminoso. Não pertencemos nem temos tendência política partidária, somos nacionalistas, patriotas e institucionalistas". Também disse que, neste dia, estaria se realizando uma "demonstração aérea e terrestre" para "devolver o poder ao povo democrático" e assim "cumprir e fazer cumprir as leis para restabelecer a ordem constitucional".

Ainda no vídeo, pediu ao presidente Maduro a sua "renúncia imediata" junto a sua bancada ministerial "e que sejam convocadas de maneira imediata as eleições gerais". Fez um chamado "a todos os venezuelanos, de oriente a ocidente, de norte a sul para que nos acompanhem nesta força de luta e saiamos às ruas, no Fuerte Tiuna [base militar] de Caracas, e no interior do país em cada base militar". Sinalizou que isto se daria para que os venezuelanos se reencontrem "como irmãos" com as forças armadas "e juntos recuperemos nossa bela Venezuela".

Isso tudo ocorre ao mesmo tempo que, em Aragua, uma grande e extensa jornada noturna de saques se prolongou durante o dia de hoje em várias zonas do estado, levando o governo a fazer uso do exército militar nas ruas. Também contou com o posicionamento de tanques militares em algumas entradas dos principais setores populares nos arredores de Miraflores, como na Avenida Sucre, na altura de Manicomio.

Como era previsto, a situação política do país pode tomar rumos inesperados, sobretudo quando nas últimas semanas se fizeram intensas as exigências da oposição aglutinada na chamada Mesa de Unidad Democrática (MUD) aos militares para que retirem seu apoio a Maduro, conscientes de que as Forças Armadas são um dos pilares centrais do governo. Como publicado recentemente no La Izquierda Diario, a crise política se agudiza a partir de um empate "catastrófico" entre o governo e a MUD, e a direita passa a jogar uma carta maior: o chamado a uma saída militar após a queda de Maduro.

Buscando exercer mais pressão para fragmentar as Forças Armadas ou a retirada de seu apoio ao governo, estes chamados surgem no momento da "decisão" da MUD "de não reconhecer o Governo" e que "sua autoridade e decisões são inconstitucionais e não podem ser reconhecidas nem obedecidas por ninguém". Referem-se, inclusive, aos artigos 350 e 333 da Constituição - que dizem respeito aos casos em que se deve deslegitimar um governo -, que "se impõe a toda a sociedade o não reconhecimento da convocatória de fraudes constituintes, a nomeação de novos poderes públicos e o chamado a eleições livres para um novo governo". Justamente o artigo ao qual fazia alusão o inspetor de polícia no comando do helicóptero.

Entretanto, até o momento em que este artigo é escrito, nenhum setor da oposição fez declarações a respeito, ou seja, aplaudem e reconhecem a ação para dar-lhe apoio. Apenas foram feitas declarações como a de que um helicóptero com essas características e nessas condições sobrevoando a cidade é de responsabilidade do governo, como fez Capriles Radonski (advogado e fundador do Primero Justicia).

O governo, por sua vez, nas palavras do próprio Nicolás Maduro, denunciou o ocorrido como parte de um plano golpista e vinculou este funcionário policial com Miguel Rodríguez Torres, o general ex-ministro de Interior e Justiça com quem o governo tem se enfrentado abertamente durante estes dias, com direito a trocas de acusações. O governo disse que Rodríguez Torres, opositor ativo ao chamado por uma Constituinte e homem de confiança de Chávez durante muitos anos, é um agente da CIA.

Independente de esta ação estar respondendo aos chamados da oposição ou à atuação dos militares que respondem a forças maiores, o que está claro é que os trabalhadores e o povo pobre venezuelano não podem esperar nada progressista de um acordo com este setor que não só tem deixado passar uma brutal repressão em um estado de exceção, como também tem enriquecido nos últimos anos em torno da administração direta das principais empresas e do controle dos recursos do país.

(tradução por André Arruda e Laura Scisci)

 
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