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Frente Ampla pelas Diretas Já: uma política de conciliação de classes
Thiago Flamé

No dia 07 de junho foi lançada uma Frente Parlamentar pelas Diretas Já, por iniciativa de cinco partidos (PSB, PSOL, PT, PDT e PCdoB). Essa iniciativa faz parte do calendário, votado em uma reunião dias antes, que formou com a mesma política, porém com nome mais “amplo”, outra frente, a Frente Ampla Nacional pelas Diretas Já.

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As duas reuniões tiveram composição diferentes, mas a unidade política entre ambas iniciativas é garantida pelo PT. Mas qual a política do PT?

No Congresso do partido no dia 2 de junho, Lula deu a linha: “2018 pra nós já começou, é por isso que eles estão com medo, nós não estamos com medo, nós estamos com certeza, que se a esquerda for para a disputa, com um programa preparado, com uma coisa bem factível, a gente vai voltar a governar esse país a partir de 2018.” Não só tem a desfaçatez de falar em nome da esquerda, o amigo dos Odebrecht e dos Bunlai, como diz abertamente que seu objetivo é se reeleger em 2018. Três dias depois, no dia 5, é lançada pelo PT a Frente Ampla pelas Diretas Já, na sequência, é formada a Frente Parlamentar. 2018 já começou...

A luta efetiva do PT não é derrubar Temer agora e barrar as reformas com a greve geral, que Lula nem citou no seu discurso. A campanha Fora Temer e Diretas Já vindo do PT é parte da campanha eleitoral. 2018 já começou... A Frente Ampla e a Frente Parlamentar são complementares. A Frente Ampla serve para disciplinar o movimento social, garantir o controle político do PT sobre o movimento de massas, enquanto a Frente Parlamentar vai sedimentando uma possível base parlamentar para governar a partir de 2019.

Além de PT e PCdoB a Frente Ampla conta também com o PSB, PSOL e dezenas de sindicatos, entidades civis e associações religiosas. Na Frente Parlamentar somam o apoio oficial do PDT, além de adesões do PR, PSD, REDE, PV, com a ilustre presença do senador Roberto Requião, do PMDB.

Dessa unidade não se pode esperar um combate sério contra as reformas de Temer, mas uma retomada, em outra situação, do mesmo projeto de conciliação de classes que nos trouxe até aqui. O manifesto da Frente Ampla, coerente com o espirito da iniciativa, aponta: “Só a eleição direta, portanto a soberania popular, é capaz de restabelecer legitimidade ao sistema político.” É literal o objetivo de recompor o regime político dos conchavos, dirigido pela corrupção inerente dos capitalistas. Agora se necessário, ou em 2018 quando as reformas já tiverem sido aprovadas. No entanto, a tarefa é justamente a oposta. É preciso destruir este sistema político podre com a força da mobilização de massas.

O que a esquerda faz nessa Frente Ampla?

O próprio caráter desse arco de alianças com setores burgueses que o PT está constituindo em torno da demanda de Diretas Já, deveria ser suficiente para um partido que pretende ser uma alternativa pela esquerda ao petismo como o PSOL se convencer do equívoco que é se lançar na defesa dessa bandeira, mas ao contrário, a maioria das correntes do PSOL vê nisso uma senha para se lançar com mais força ainda na campanha das diretas.

As declarações e os discursos ao lado dos líderes petistas e parlamentares de partidos como o PMDB só servem aos interesses eleitorais do PT e dos partidos que se colam nele. A única unidade que serve aos interesses do povo é a unidade para a luta, para organizar a greve do dia 30 e medidas cada vez mais contundentes para derrotar as reformas e derrubar o governo Temer. As Frentes e os conchavos do PT com os setores burgueses, inclusive com um partido como o PSB que apoiou o golpe, poderiam ser utilizados como oportunidade para desmascarar a política do PT para milhões. Para setores do PSOL como o MES de Luciana Genro, que apoiam a lava jato, a submissão política à repactuação do regime é ainda maior, é expressão de uma política profundamente pragmática, que oscila entre a adaptação ao golpismo ou ao petismo.

Frente Ampla ou Frente única?

Para os setores que se reivindicam revolucionários e pretendem se apoiar no legado de Lenin e Trotsky, como o MAIS, a confusão não poderia ser maior. Nem toda frente serve para a classe trabalhadora e entre a Frente Única e a Frente Popular (ou Frente Ampla, se quisermos usar a terminologia uruguaia e agora parece que também a brasileira), existe um abismo.

A política da frente única é a da unidade da classe trabalhadora para enfrentar unificada os ataques da burguesia, a forma mais eficiente dos revolucionários para avançar na sua influência sobre a classe e desmascarar a política do reformismo e das direções sindicais burocráticas. A Frente Popular é a aliança do reformismo com setores burgueses para conter e desviar o movimento de massas. A Frente Ampla que se formou está entre as alianças do segundo tipo. Isso significa que PSOL, MAIS e todas as organizações que assinam esta Frente ao lado de PSB e tantos outros estão em aberta capitulação a uma política de conciliação de classes e desvio da mobilização de massas.

Contra a política do avestruz e a capitulação ao PT: Abaixo Temer e as reformas, por uma constituinte imposta pela luta

Na esquerda também existem os que opõem à adaptação ativa ao petismo via campanha das diretas já, consignas de mera propaganda, como poder aos conselhos populares (PSTU), ou simplesmente poder popular, como o PCB. Para quem não entendeu, os conselhos na concepção do PSTU seriam um tipo de sovietes, com o importante detalhe de que eles não existem (pois só podem surgir como organismos de poder em meio a ascensos proletários de massas como a forma mais elevada da frente única nas épocas revolucionárias, condição prévia que ainda está por ser criada no Brasil, ). O esquerdismo das palavras esconde o oportunismo nos atos e o PSTU já admite que se o Temer cair e os conselhos não estiverem prontos para tomar o poder é melhor eleições gerais que indiretas...

Se a esquerda que se pretende revolucionaria quiser ser capaz de se fortalecer e se constituir como alternativa de massas ao PT, precisa levantar respostas mais profundas para a crise política e econômica do país do que adiantar o calendário eleitoral de 2018. É possível lutar pela constituição de comitês de mobilização contra as reformas com milhares de ativistas, que comecem a ser uma alternativa de auto-organização desde a base para milhões de trabalhadores que já não confiam nas direções sindicais petistas poderem tomar a greve geral e a luta em suas mãos.

É possível fazer política sem se adaptar. Não adianta, frente ao movimento pelas diretas do PT, simplesmente bradar poder aos comitês que não existem. Se é verdade que o movimento das diretas é parte da campanha eleitoral de Lula para 2018, é verdade também que se apoia num sentimento progressista de 85% da população que quer decidir através do voto os rumos do país. É possível e necessário participar das ações que sejam convocadas pelos setores do reformismo e da burocracia sindical. Sem isso, é impossível disputar a consciência de milhões e derrotar os ataques. Mas isso não se faz compondo alianças políticas como essa frente oportunista e com uma política que revitaliza o regime, e sim participando dos movimentos com uma política independente, como adefesa de eleições para representantes de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que dirija esse sentimento popular contra o poder dos empresários e da casta política e judicial que controla o país e a luta para que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

 
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