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CRISE NO GOVERNO E A LAVA JATO
Lava Jato não é “imparcial”: beneficia imperialismo e fortalece autoritarismo judiciário
Fernando Pardal

Com o escândalo da delação de Joesley contra Temer, a mídia saí com nova ofensiva em defesa da "imparcialidade" da Operação Lava Jato e sua suposta defesa de um país sem corrupção. Nada mais falso. Os interesses da Lava Jato são os interesses dos capitalistas internacionais, e de um judiciário fortalecido para atacar os trabalhadores e atuar como árbitro da política nacional.

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Basta de Temer! Esse é o grito a uma só voz que ouvimos em todo o país, com dezenas de atos marcados e milhares que irão às ruas para dizer que não aceitaremos mais um dia de governo golpista, imerso em vergonhosos esquemas de corrupção para que seu aliado Eduardo Cunha não coloque à luz do dia todos os podres que Temer esconde debaixo do tapete. Queremos com esse texto debater porque a única saída para arrancar Temer e todos os corruptos, e acabar de vez com a corrupção, é a mobilização independente dos trabalhadores. E como o judiciário, o STF e a Lava Jato não merecem um milímetro de nossa confiança para cumprir essa tarefa história que cabe aos trabalhadores.

Análise d’O Globo de ontem faz uma entusiasmada defesa da Lava Jato, afirmando que "Ao completar o álbum de figurinhas da política brasileira, pode-se dizer com segurança que promoveu uma reforma ética que não estava na agenda brasileira. A Lava-Jato não tem cor, não tem time, não tem controle possível. Alguém duvida ou precisa desenhar?"

Esse texto é apenas um exemplo de um discurso que desde ontem não sai da boca dos representantes da mídia e, infelizmente, se alastra cada vez mais entre setores da esquerda, como expressou de forma lamentável o deputado do PSOL carioca, Jean Wyllys, ao dizer que declarou em sua página no Facebook: "não tiramos uma posição partidária, mas eu Jean Willys confio muito mais na ministra Cármen Lúcia, pra conduzir o país até uma eleição direta". Wyllys expressa que um dos objetivos da Lava Jato vem ganhando terreno, que é o de legitimação do judiciário e fortalecimento de seu autoritarismo. Quando um deputado da esquerda afirma que quer, de forma totalmente autoritária, que a presidente do STF tome a condução do país em suas mãos, podemos saber que essa "esquerda Lava Jato" segue o curso estabelecido por esse judiciário.

Desenhemos nós, então, como a Lava Jato não tem nenhum interesse na "defesa do país" e de "eliminar a corrupção". Nem, tampouco, como afirmavam os petistas (e nesse ponto podemos dar razão a O Globo), tem como objetivo pegar o PT e abrir caminho para a direita. É verdade que no momento pré-golpe a Lava Jato se centrou em atacar as figuras petistas e abrir caminho para o golpe institucional, e, por isso mesmo, preservou figuras centrais para a política do golpe, como Eduardo Cunha, que só quando tinha feito seu trabalho sujo de conduzir o impeachment foi afastado e preso.

Mas em seguida a Lava Jato avançou, sempre seletivamente e de acordo com seus interesses, sobre figuras importantes do PMDB e PSDB, com maior profundidade após as delações da Odebrecht e a lista de Fachin. Mas mesmo essa lista mostra claramente como há elementos da podre e corrupta política institucional sendo salvos pelas mãos do STF. Um exemplo foi Alckmin, que com citações em diversas delações, continuou sem sofrer um inquérito sequer. E hoje vimos os esforços de Fachin para preservar Aécio, apesar do incrível escândalo no qual está metido. Se esses esforços continuarão até o fim, é um jogo cujo resultado não depende apenas de Fachin.

O fortalecimento da confiança no judiciário e suas saídas autoritárias

Um dos efeitos imediatos das delações, prisões e inquéritos contra políticos que são massivamente odiados é o aumento de confiança no judiciário. Eles foram pra cima do petismo quando esse estava nas cordas, com a impopularidade de Dilma batendo recordes e o governo em frangalhos. Com Cunha foi o mesmo. E, agora, quando Temer não tem nem 5% de aprovação, a mira da Lava Jato se volta contra ele. Escancarando alguns casos de corrupção e fazendo vista grossa para outros, o STF e o judiciário fortalecem a sua imagem - com uma bela ajuda da Globo e da mídia patronal em geral - de que sua busca é por ética e limpar a política da corrupção.

São poucos os que lembram - como recorrentemente fazemos no Esquerda Diário ou como fez de forma magistral o humorista Gregório Duvivier em seu programa - que o judiciário é um antro de autoritarismo. Em primeiro lugar, não são eleitos por ninguém, e os mais altos postos, os do STF, são indicados pelos próprios políticos. Segundo, eles desfrutam de privilégios absurdos, tanto financeiros quanto políticos, que ninguém está autorizado a contestar. Afinal, quem pode julgá-los ou investigá-los? Quem sabe de seus próprios esquemas?

Quando todos batem palmas para essa casta de intocáveis, aí sim eles tem o caminho livre para seguir fazendo o que bem entendem: prendem quem querem e soltam quem querem. Mantém os presídios brasileiros abarrotados de negros, pobres cuja maior parte nunca foi sequer julgado; e soltam Eikes Batistas e perdoam quaisquer crimes de Joesleys Batistas, deixando que fiquem em Nova Iorque impunemente mesmo tendo sido parte ativa - tão ativa quanto qualquer um desses políticos, de qualquer forma - dos esquemas de corrupção. Quem decide? Os juízes e, em primeiro lugar, o STF. De acordo com suas vontades e interesses. E, como mostramos muitas vezes, os interesses deles nada tem a ver com os dos trabalhadores

Uma operação a serviço do imperialismo e de suas empresas

Em relação ao condutor da Lava Jato, o juiz Sergio Moro, podemos mostrar bem qual o outro objetivo que vem sendo conduzido com sucesso pela operação, e que está muito longe de ser o fim da corrupção. Em primeiro lugar, como membro dessa casta, Moro lucra milhões com as delações premiadas, garantindo assim, além de seu salário e privilégios de dezenas de milhares de reais, um "extra" que, tal como as propinas e esquemas dos políticos, é financiado com um dinheiro que deveria ser público.

Mas não para por aí: Moro foi pessoalmente treinado nos EUA para cumprir sua missão. Casado com uma advogada da Shell, empresa americana com um vasto império petrolífero, não é à toa que a Petrobras foi a primeira a sofrer uma devassa por parte da Lava Jato até derrubar totalmente suas ações e abrir caminho para que os golpistas vendessem a preço de banana o patrimônio da Petrobras. Por trás de Moro se escondem alguns dos "donos do mundo".

A escolha da Odebrecht como "próxima vítima" também não foi casual. A maior empreiteira brasileira, envolvida em décadas de escândalos de corrupção, foi levada à beira da falência pela Lava Jato. Seus negócios no Brasil e em diversos países foram arruinados, e, mais uma vez, quem se beneficiou não foi "a ética na política brasileira", mas sim as empresas estrangeiras que veem o caminho livre para abocanhar o mercado que deixará de ser ocupado pela gigante empreiteira. Com as empresas estrangeiras, o "rigor da lei" de Moro e da Lava Jato foi bem distinto: em 2015 já apareciam 22 empresas estrangeiras nas delações, e nenhuma delas foi sancionada como a Odebrecht (falamos aqui da empresa, pois a grande parte dos executivos se livrou com suas delações premiadas e foram para suas mansões com uma tornozeleira eletrônica).

A JBS representa um "furo" na teoria da Lava Jato pró-imperialista?

Então chegamos ao escândalo da delação de Joesley Batista, proprietário da JBS, que entregou Temer de bandeja. Mas, como vimos ontem Joesley teve autorização para permanecer nos EUA, confortavelmente em seu apartamento, completamente perdoado, após ter delatado o que todos já sabiam, mas ninguém podia provar. A JBS foi poupada. E não é à toa: há alguns anos a empresa negocia a transferência de sua sede para outro pais, preferencialmente os EUA. Se seu proprietário permanece brasileiro, as suas remessas de lucros não: serão americanas. E com isso, JBS e Lava Jato dão as mãos alegremente, enquanto as ações das empresas brasileiras despencam e Temer está por um fio de perder seu mandato.

O judiciário sai fortalecido, como a JBS. A mídia celebra a "imparcialidade" da Lava Jato, esperando que o judiciário ou algum "salvador da pátria" eleito pelo congresso corrupto ou mesmo por eleições diretas onde seriam os mesmos canalhas de sempre a concorrer, possa assumir as rédeas e implementar as reformas que Temer já não será capaz de fazer.

O país se levantou novamente após a divulgação da delação que mostra Temer atuando para calar Eduardo Cunha com sua "mesada", e todos estamos ainda mais revoltados com esse golpista que conduziu todos os esforços de seu governo ilegítimo para nos atacar enquanto comprava o silêncio de seus crimes e corrupções com dinheiro para seu cúmplice detestável, o canalha Cunha que conduziu o processo do golpe na Câmara dos Deputados. Os únicos que podem arrancar Temer e dar uma resposta de fato para a corrupção, sem trocar "seis por meia dúzia", são os trabalhadores!

Se assistirmos passivamente a esse cenário, batendo palmas para um judiciário cujo fortalecimento só significará mais ataques aos trabalhadores, ou exigindo dele uma eleição direta em que nada mudará, então podemos ter certeza que o futuro dos trabalhadores e do povo pobre brasileiros é o de enfrentar novos ataques por parte dos patrões. Por isso dizemos: nenhuma confiança no judiciário, na Lava Jato e nem nesse Congresso de corruptos e patrões. Exigimos o fim do sigilo de todas delações, investigação independente e juris populares para todos os corruptos! Temos que ir às ruas às centenas de milhares e construir uma grande greve geral, não para lutar por um "novo Temer" e nem tampouco de um Lula que nos traga mais treze anos de acordos com os patrões que enriqueceram patrões como os donos do Itaú, JBS e Odebrecht aos custos de nossa exploração.

Precisamos lutar para impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, em que possamos lutar por nossos representantes para votar medidas que resolvam o problema. Juri popular para julgar os corruptos, expropriação sob controle dos trabalhadores de todas as empresas envolvidas em corrupção, que todos os políticos e juízes sejam eleitos e tenham mandatos revogáveis, ganhando o mesmo salário que uma professora.

 
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