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A “Marcha Pela Ciência no Brasil” em BH, a luta na UFMG e os ataques de Temer
Maré
Professora designada na rede estadual de MG

A “Marcha Pela Ciência no Brasil” em BH reuniu cerca de 50 pessoas, a maioria delas da comunidade acadêmica da UFMG, na Praça da Liberdade, tendo como programação uma oficina de cartazes e uma marcha simbólica em volta da praça.

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No dia 22 de Abril, quando celebra-se o dia mundial da Terra, aconteceu em mais de 50 países a “March For Science”. Cientistas de todo mundo se uniram contra os “fatos alternativos” e pelo “Trump-resistence”, mas no Brasil a situação da ciência tem uma peculiaridade: um governo golpista que uniu o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ao Ministério da Comunicação (passando a ser MCTIC) com a desculpa de cortar gastos, acabou com o programa Ciência Sem Fronteiras e, só em 2017, cortou 44% do orçamento destinado à ciência no MCTIC.

A “Marcha Pela Ciência no Brasil” em BH reuniu cerca de 50 pessoas, a maioria delas da comunidade acadêmica da UFMG, na Praça da Liberdade, tendo como programação uma oficina de cartazes e uma marcha simbólica em volta da praça. Os cartaze mostravam a grande insatisfação com os cortes de Temer, que ameaçam os próximos anos de ciência e tecnologia no Brasil. Esse é mais um ataque desse governo que se coloca a serviço dos grandes empresários e banqueiros enquanto despeja a crise sobre os ombros da juventude e dos trabalhadores, que em BH se levantaram com força contra Temer e suas reformas, no dia 15 de Março.

Foram importantes as manifestações de ontem, que se espalharam por muitas cidades do país, mas é preciso muito mais. Precisamos ligar as lutas em defesa da ciência à luta contra este governo golpista, em aliança com os trabalhadores, questionando o fictício posto de imparcialidade da ciência, embora essa imagem ainda se mostre muito forte para os próprios cientistas. Um exemplo é que dentre as recomendações para a marcha em São Paulo constava que “A marcha é apartidária. A ideia não atacar grupos, pessoas ou partidos. No máximo atacamos medidas.” Isso mostra como ainda tenta-se assumir para a ciência a alcunha de “pura”, quando na verdade os jogos políticos estão sempre acompanhando o fazer científico.

Em Belo Horizonte a “imparcialidade” perdeu espaço para os cartazes de “fora Temer”, “volta MCTI”, “Chega de cortes na educação e ciência! Que os capitalistas paguem pela crise!!!” e “Ciência em Greve 28A. Com os trabalhadores contra Temer e seus ataques”, mas não houve uma reivindicação comum que caracterizasse a marcha para além da defesa da ciência. A manifestação foi organizada por um grupo de estudantes e professores da UFMG, estando à frente das ações os estudantes de pós-graduação membros da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos), que também garantiram grande parte do aparato para que a marcha acontecesse.

O sindicato dos professores da UFMG (APUBH), o DCE dos estudantes e o sindicato dos técnico-administrativos da universidade (SINDIFES) devem tomar a frente dessa luta, convocando assembleias sobre o assunto e organizando desde baixo a luta dos pesquisadores e professores em defesa da ciência e da universidade.

Sem verba não há ciência

Os cortes de Temer, de tão absurdos, foram matéria na Revista Nature e os impactos têm sido sentidos há tempos, já que o governo Dilma também cortou drasticamente a destinação de verba para federais como a UFMG em 2014. Hoje a situação na universidade é de atraso de bolsas para alunos de graduação e cancelamento de vagas para concorrer a bolsas. A doutoranda em fisiologia no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Valéria Fernandes, conta como está o andamento das pesquisas por lá:

“Basicamente, a maioria dos laboratórios está sem recurso para qualquer coisa, inclusive manter os animais. O que tem acontecido são trocas com outros laboratórios, porque não é possível continuar as pesquisas sem a ajuda dos vizinhos. Muitos experimentos deixam de ser feitos por falta de reagentes ou dinheiro pra consertar equipamentos que estão estragando por falta de manutenção. É bem caótica a situação. Vários professores não têm mais condições de aceitar alunos de mestrado e doutorado, e os alunos que defendem o doutorado encontram enorme dificuldade em conseguir bolsa de pós-doutorado.”

Unir as demandas e lutar com os trabalhadores

Não só de cientistas a ciência vive. Além de o fazer científico se apoiar, muitas vezes, nas demandas da população e na receptividade que um “produto” pode ter (por exemplo os transgênicos), é na população que os cientistas buscam se apoiar quando Trumps e Temers ameaçam destruir o desenvolvimento da ciência, e, consequentemente, do ensino, da saúde, da conservação, da tecnologia... ou seja, da sociedade. A prova disso é o crescente valor que tem sido dado à divulgação científica, que também sai lesada com os cortes, como canal aproximador entre cientistas e não cientistas.

A ciência não é – e por isso não deve estar – descolada da política. A “Marcha Pela Ciência”, em todo o mundo, mostra como os cientistas precisam sair de seus laboratórios e gabinetes e se juntar à luta dos trabalhadores, apoiando suas demandas. Afinal, cientistas também somos trabalhadores e seres políticos que, ao contrário do que querem supor com projetos como o “Escola Sem partido”, podemos e devemos nos posicionar combativamente contra a retirada dos nossos direitos, organizando nossas lutas pela base com assembleias e a formação de comitês.

A luta em defesa da ciência e contra os cortes de verbas deve ser também uma luta pela transformação do fazer científico. Pela total liberdade aos pesquisadores; pela expulsão das grandes empresas e fundações privadas das universidades, porque querem o conhecimento a serviço dos lucros; pelo fim do vestibular; pelo aumento das verbas para educação e para a ciência. E devemos ter uma busca constante por uma produção científica que dialogue também com os problemas cotidianos dos trabalhadores e do povo.

E para nos unirmos às grandes lutas que os trabalhadores vêm protagonizando, na UFMG devemos nos levantar não só pela ciência, mas também contra a terceirização irrestrita que explora os trabalhadores da limpeza e dos serviços gerais que fazem a universidade funcionar, contra a reforma da previdência que fará com que, depois de anos de graduação e pós-graduação, contribuamos por 49 anos para podermos nos aposentar e trabalhemos até morrer, e contra a reforma trabalhista que rasga a CLT, flexibiliza as demissões e autoriza em cartório a escravização nas fábricas e indústrias.

No dia 28 de Abril devemos parar a UFMG e nos unir à Greve Geral em defesa da ciência, da educação, da previdência!

 
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