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NEGROS NO ABC PAULISTA
A situação da população negra no mercado de trabalho da Região do Grande ABC paulista
Thiagão Barros
morador de Mauá, no ABC paulista

Os negros são os que começam trabalhar mais cedo e os últimos a sair do mercado de trabalho. Desemprego, alta rotatividade, baixos salários e empregos ultra precarizados é a dura realidade, sobretudo das mulheres negras.

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"A carne mais barata do mercado é a carne negra". Esta frase tirada da canção A Carne eternizada na voz da cantora Elza Soares define qual foi e qual é a realidade dos negros no mercado de trabalho. A região do grande ABC paulista é composta por sete cidades que se ligam por corredores fabris e a indústria principal motor da economia da região tem sofrido diversas baixas com a crise econômica. Segundo os dados da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), feita em parceria entre a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o ano de 2016 terminou com 46 mil postos de trabalhos fechados sendo 25 mil postos no setor da indústria de transformação, fazendo o desemprego chegar a 16,3% no final do mesmo ano. Observando os dados é possível ver que o desemprego em negros é de 18,6%, número maior que os 15,4% dos não-negros. É esta diferencia que vamos discutir neste artigo.

Ocupação

Segundo os dados da pesquisa Os Negros no Mercado de Trabalho da Região do ABC publicados pela Fundação Seade e o Dieese que compreende de 2014 a 2015, a proporção de ocupados negros na região era de 28,8%, sendo 15,9% homens e 12,9% mulheres. Os negros eram 50,5% do total de ocupados do setor de serviços e os não-negros 53,7%. Na indústria a relação é praticamente igual, com 24% para negros e 24,4% para não-negros; semelhante o comércio, com 16% e 16,8%.

As maiores diferenças são encontradas nos setores de construção e serviços domésticos, onde os negros ocupam quase a metade das vagas em relação aos não-negros (na construção 4,3% e 8,5% respectivamente, e nos serviços domésticos 4,1% e 8,1%, respectivamente), que são os setores mais mal remunerados e com baixa escolaridade. Verificando as ocupações com menor nível de regulamentação, ou seja, trabalhos com rendimentos e condições precárias, os negros possuem maior representatividade, como em autônomos e sem carteira assinada no setor privado com 16,2% a 14,7% e 8,2% a 7,0%.

Rendimentos de trabalho

Os dados sobre rendimento mostram claramente os efeitos do racismo como opressão que potencializa a exploração. O rendimento médio dos negros por hora é de R$9,78 e dos não-negros é R$15,46, uma diferença de R$5,68 que evidencia que os negros recebem por horas 36,7% a menos que o não-negros.

Na análise por setor de atividade a pesquisa aponta que não existe nenhum setor em que os negros ganhem acima dos não-negros. Na indústria os valores são R$11,44 a R$17,84, seguido por serviços R$9,49 a 15,85% e comércio com R$8,08 a R$11,96 de negros a não-negros. Por posição na ocupação é possível observar a diferença, no caso de negros com carteiras assinadas e autônomos com R$10,20 a R$15,63 e R$8,52 a R$12,71.

Desemprego

A despeito do discurso de Dilma de que a situação dos negros teve uma melhora nos anos de governo do PT, o que vimos durante esses anos foi o aumento da terceirização de 4 para 12 milhões de trabalhadores terceirizados, ou seja, são criados empregos precarizados que tem sua maior parte das vagas ocupadas pela população negra. O desemprego em 2014-2015 atingia 13,9% dos negros e 10,6% dos não-negros na região do ABC, e hoje o número saltou para 18,6% e 15,4% respectivamente. A situação da juventude negra também é alarmante com 25,5% dela desempregada, valor um pouco maior que os dos não-negros com 24,4%.

Mulher Negra

É estatístico: em todos os campos a mulher negra é a que mais sofre, sob as seus ombros pesa as mais brutais explorações e opressões do sistema capitalista. Elas ocupam os piores trabalhos e sua presença é menor nos setores mais dinâmicos, como na indústria, onde os homens negros são 28,6% dos trabalhadores e as mulheres negras apenas 7,6% deste montante. Recebem também os piores salários, cerca de R$8,35 em média por hora, sendo que um homem negro recebe R$10,92 e entre não-negros as mulheres recebem R$13,71 e os homens R$17,43 em média por hora. As mulheres negras são as que mais sofrem com o desemprego, com 15,4% contra 10,0% de homens brancos desempregados.

O verdadeiro combate ao desemprego é repartir as horas de trabalho aos que precisam trabalhar, reduzindo a jornada de trabalho sem redução de salário. Mas os capitalistas respondem com demissão, ajuste de salário, terceirização e todas as formas de arrancar o dinheiro dos que produzem.

Que os capitalistas paguem pela crise

Fica óbvio diante dos dados que a população negra é a que mais sofre com as amarguras do sistema capitalista no marcado de trabalho, sobretudo as mulheres negras. A situação que já é difícil se torna mais complicada quando Temer aplica golpes na classe trabalhadora, como reforma da previdência, terceirização irrestrita e a reforma trabalhista que inclui alteração de 100 pontos da CLT, configurando assim o seu pleno desmonte. A população negra é a primeira a entrar no mercado de trabalho e a última a sair, já que os salários são menores e a rotatividade também. Se a situação já é desesperadora para os negros, a aprovação reforma da previdência coloca uma lápide na possibilidade de aposentadoria da maioria esmagadora dos negros, as reformas de Temer são um brutal ataque aos trabalhos negros do Brasil.

Por outra parte é absurdo que as grandes centrais sindicais chamem greve geral apenas para o dia 28 abril garantindo assim para o governo de Temer 30 dias de trégua.

Precisamos construir uma mobilização pra que sejam os capitalistas que paguem a crise e que todos os sindicatos e centrais sindicais lutem pelo fim da terceirização e que os trabalhadores hoje terceirizados sejam incorporados ao quadro de funcionários sem a necessidade de concurso público nos cargos públicos, assim como pela igualdade salarial entre mulheres e homens, negros e brancos, com um teto mínimo do Dieese (R$ 3.673,09).

A luta contra o racismo se da para além de eventos em dias “festivos”. É necessária uma paralisação efetiva e um plano de luta rumo à greve geral para derrotar todos os ataques e garantir nossos direitos.

 
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