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CONGRESSO CONLUTAS
Qual esquerda alternativa ao PT? Debate no Congresso da Conlutas
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
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Como dissemos aqui, o debate de conjuntura nacional, que contou com Mauro Iasi do PCB, Luciana Genro do PSOL e Zé Maria do PSTU, foi dedicado a discutir as saídas à esquerda diante da crise atravessada pelo PT.

A questão da votação favorável à cláusula de barreira por parte dos 4 deputados federais do PSOL não foi o único debate de divergências da mesa. Inspirando-se no surgimento dos fenômenos reformistas Syriza e Podemos, que se aproveitaram da crise de representatividade do bipartidarismo europeu (em que conservadores e socialdemocratas se alternaram por décadas no poder) para conquistar espaços nas instituições da democracia liberal, Luciana Genro afirmou que “o espaço para a esquerda radical se amplia também no Brasil com a crise do PT”. Chegou a comparar a crise desta mediação com a “queda do Muro de Berlim” brasileira, pois tal como na Europa, “uma mediação histórica se enfraquece e abre espaço à esquerda radical”.

Esta “esquerda radical”, entretanto, não foi definida programaticamente por Luciana. O que não é um debate menor, uma vez que o fim de ciclo dos governos posneoliberais em toda a América Latina coloca a questão de “que programa” se aproveitará desta crise.

O fato é que estas formações políticas, Syriza na Grécia e o Podemos no Estado espanhol, não fundamentam seu discurso “antiausteridade” num programa político anticapitalista. Enquanto capitalizaram a ruptura à esquerda das massas com a socialdemocracia e a indignação e o descontentamento de massas com a série ininterrupta de ataques aos direitos trabalhistas e da juventude, não orientam suas posições a reverter contundentemente os planos de austeridade da Alemanha e atacar o direito de propriedade dos capitalistas.

Luciana Genro disse que estas formações “souberam dialogar com as aspirações democráticas dos setores da população que iam aos espaços públicos para protestar” e por isso conseguiram aparecer como alternativas aos governos de ajuste. Embora seja inegável que o discurso de Alexis Tsipras do Syriza e de Pablo Iglesias do Podemos tenha centro na “regeneração da democracia” e num projeto “antiausteridade”, são partidos que não tem como estratégia apoiar-se nas mobilizações de massas para fortalecer uma alternativa anticapitalista.

No caso da Grécia, é notável como o triunfo desta “esquerda radical” não resultou no fortalecimento das lutas mas, em função da estratégia do Syriza de acordos com os “sócios europeus”, fortaleceu-se a pressão da Troika e da Alemanha sobre os trabalhadores gregos. Não vimos o governo (nem sua ala esquerda) chamar o apoio de amplos setores da sociedade grega para a anulação do pagamento da dívida externa e impor, baseado nesta mobilização, medidas anticapitalistas como a expropriação dos bancos e grandes monopólios que lucraram com os planos de ajuste.

De fato, o Syriza continuou o pagamento da dívida com o acordo da burguesia grega. Longe de romper com a “casta política”, começou seu mandato pondo um limite às aspirações de esquerda das massas gregas travando uma coalizão de governo com um partido da direita nacionalista, Gregos Independentes (ANEL).

A assimilação parcial de algumas demandas mais urgentes de uma população assolada pelos efeitos da crise (como o programa de “salvação das vítimas da crise”) foi um gesto tímido perto dos mais de 1 bilhão de euros que o Syriza já devolveu ao FMI, descumprindo sua promessa de aumentar o orçamento da saúde e educação exigido pelos trabalhadores do setor público, que hoje protagonizam a primeira greve contra o governo do Syriza desde janeiro.

Por sua parte, o Podemos (um partido que se apoiou nas manifestações de praças espanholas durante o 15M) chegou a teorizar a impossibilidade de um eventual governo de Pablo Iglesias apoiar-se nas mobilizações que atravessam o Estado espanhol. Iñigo Errejón, número dois do Podemos, disse em entrevista que “Podemos não é um partido de esquerda”, e que seria impossível “apoiar-se nas mobilizações, que chegam a ser contraproducentes, já que se baseiam numa cultura de negação resistente que não condiz com a política positiva”. Não primam também pela "solidariedade internacional": Errejón assegurou que a dívida da Grécia com o Estado espanhol "não seria perdoada, pois há que recuperar este dinheiro".

Não à toa, longe de aplicar medidas que claramente se diferenciem das aplicadas pela “casta” do PSOE (que implementou os ajustes no governo Zapatero), os êxitos eleitorais municipais do Podemos os levaram a pactuar com o próprio PSOE, para garantir as prefeituras de Barcelona e Madri.

Por outro lado, a ideia de que "avançamos para uma greve geral" sem problematizar profundamente o combate implacável à burocracia sindical da CUT e CTB no Brasil, como vemos nos discursos do PSTU na Conlutas que, por vezes faz corretamente os chamados de frente única à CUT contra os ajustes de Dilma, mas sem denunciar o papel paralisante destas centrais, nem buscar organizar efetivamente as bases operárias contra a burocracia.

Para nós, trata-se de definir estrategicamente se queremos lutar por um governo dos trabalhadores que termine com o capitalismo ou pela reedição de variantes progressistas como os Lulas, os Chávez, os Morales ou Kirchners, que mudam o regime político mantendo de pé o Estado dos capitalistas.

Sem a força da classe operária organizada contra a burocracia sindical desde as bases e o trabalho da esquerda no centro do movimento operário (o que Syriza e Podemos se negam a fazer), não se pode sustentar um “governo de esquerda” muito menos um governo dos trabalhadores.

 
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