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Rosa Luxemburgo, a rosa vermelha do socialismo
Josefina L. Martínez
Madrid | @josefinamar14

Espada e chama da revolução, seu nome ficará gravado nos séculos como o de uma das mais grandiosas e célebres figuras do socialismo internacional.

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Mehring disse uma vez que Luxemburgo era “a mais genial discípula de Karl Marx”. Brilhante teórica marxista e aguda polemista, como agitadora de massas conseguia comover grandes auditórios operários. Um de seus lemas favoritos era “primeiro, a ação”, estava dotada de uma força de vontade avassaladora. Uma mulher que rompeu com todos os estereótipos que na época se esperavam dela, viveu intensamente sua vida pessoal e política.

Era muito pequena quando sua família se muda da vila camponesa de Zamosc para Varsóvia, onde passa sua infância. Rozalia sofreu uma doença do quadril, mal diagnosticada, que a deixa convalescente durante um ano e produz um leve mancar que dura toda sua vida. Pertencente a uma família de comerciantes, sente na carne própria o peso da discriminação, como judia e como polonesa na Polônia russificada.

A atividade militante de Rosa começa aos 15 anos, quando se integra ao movimento socialista. Segundo seu biógrafo P. Nettl, tinha esta idade quando vários dirigentes socialistas foram condenados a morrer na forca, algo que impactou profundamente a jovem estudante. “Em seu último ano de escola era conhecida como politicamente ativa e era julgada indisciplinada. Em consequência, não lhe concederam a medalha de ouro por aproveitamento acadêmico, da qual era merecedora por seus méritos escolares. Mas a aluna mais sobressalente nos exames finais não era só um problema nas aulas; já era então, seguramente, um membro regular das células subsistentes do Partido Revolucionário Proletariado”.

Alertada de que havia entrado no foco da polícia, Rosa empreende uma fuga clandestina para Zurique, onde se transforma em dirigente do movimento socialista polonês no exílio. Ali conhece Leo Jogiches, quem será amante e companheiro pessoal de Rosa durante muitos anos, e seu camarada até o final.

Depois de se graduar como Doutora em Ciências Políticas – algo incomum para uma mulher nesta época –, finalmente decide mudar-se para a Alemanha para integrar-se no SPD, o centro político da Segunda Internacional. Ali conhece Clara Zetkin, com quem sela uma amizade que dura toda a vida.

A batalha pelas ideias

Em Berlim desde 1898, Rosa se propõe a medir suas armas teóricas com um dos integrantes da velha guarda socialista, Eduard Bernstein, quem tinha começado uma revisão profunda do marxismo. Segundo ele, o capitalismo tinha conseguido superar suas crises e a socialdemocracia podia colher vitórias nos marcos de uma democracia parlamentar que parecia alargar-se crescentemente, sem revoluções nem luta de classes. O “debate Bernstein” atraiu muitas penas, no entanto, foi Rosa Luxemburgo quem fez a refutação mais aguda no folheto “Reforma ou Revolução”.

A Revolução Russa de 1905, a primeira grande explosão social na Europa depois da derrota da Comuna de Paris, foi sentida como um sopro de ar fresco por Luxemburgo. Escreveu artigos e foi a reuniões como porta-voz da experiência russa na Alemanha, até que consegue entrar de forma clandestina em Varsóvia para participar de forma direta nos acontecimentos. É o “momento em que a evolução se transforma em revolução”, escreve Rosa. “Estamos vendo a Revolução Russa, e seríamos uns asnos se não aprendêssemos com ela”.

A Revolução de 1905 abriu importantes debates que dividiram a socialdemocracia. Nesta questão, Rosa Luxemburgo coincidia com Trotsky e Lênin frente aos mencheviques, defendendo que a classe trabalhadora tinha que cumprir um papel protagonista na futura Revolução Russa, enfrentada à burguesia liberal. O debate sobre a greve política de massas atravessou a socialdemocracia europeia nos anos que se seguiram. A ala mais conservadora dos dirigentes sindicais na Alemanha negava a necessidade da greve geral enquanto que o “centro” do partido a considerava como uma ferramenta unicamente defensiva, válida para defender o direito ao sufrágio universal. Rosa Luxemburgo questiona o conservadorismo e o gradualismo desta posição em seu folheto “Greve de massas, partido e sindicatos”, escrito na Finlândia em 1906. Este debate reaparece até 1910, quando Luxemburgo polemiza diretamente com seu antigo aliado, Karl Kautsky.

Socialismo ou regressão à barbárie

A agitação contra a Primeira Guerra Mundial é um momento crucial em sua vida, um combate contra o desvio histórico da socialdemocracia alemã que apoia sua própria burguesia, contra os compromissos assumidos por todos os Congressos socialistas internacionais.

Em sua biografia, Paul Frölich assinala que quando Rosa se inteira da votação do bloco de deputados do SPD, cai por um momento em um profundo desespero. Mas, como mulher de ação que era, rapidamente responde. No mesmo dia que se votavam os créditos de guerra, em sua casa se reuniam Mehring, Karski e outros militantes. Clara Zetkin envia seu apoio e pouco depois se soma Liebknecht. Juntos editam a revista A Internacional e fundam o grupo Spartacus.

Em 1916 Rosa Luxemburgo publica “O folheto de Junius”, escrito durante sua estadia em uma das tantas prisões que se transformaram em residência quase permanente. Neste trabalho faz uma crítica implacável à socialdemocracia e defende a necessidade de uma nova Internacional. Retomando uma frase de Engels, Luxemburgo afirma que se não se avança para o socialismo só fica a barbárie. “Neste momento basta olhar ao nosso redor para compreender o que significa a regressão à barbárie na sociedade capitalista. Esta guerra mundial é uma regressão à barbárie.”

Em maio de 1916, Spartacus encabeça uma reunião de 1 de maio contra a guerra, onde Liebknecht é preso, mas sua condenação à prisão provoca mobilizações massivas. Se anuncia um tempo novo.

1917: atrever-se à revolução

A revolução russa de 1917 encontrou em Rosa Luxemburgo uma firme defensora. Sem deixar de colocar suas diferenças e críticas sobre o direito à autodeterminação ou sobre a relação entre a Assembleia Constituinte e os mecanismos da democracia operária – sobre esta última questão muda de posição depois de sair da prisão em 1918 –, Luxemburgo escreve que “os bolcheviques representaram toda a honra e a capacidade revolucionária que faltava à socialdemocracia ocidental. Sua Insurreição de Outubro não só salvou realmente a Revolução Russa; também salvou a honra do socialismo internacional.”

Quando o impacto da revolução russa chega diretamente na Alemanha em 1918 com o surgimento de conselhos operários, a queda do kaiser e a proclamação da República, Rosa aguarda impaciente a possibilidade de participar diretamente neste grande momento da história.

O governo fica nas mãos dos dirigentes da socialdemocracia mais conservadora, Noske e Ebert, dirigentes do PSD – este partido tinha se separado da ruptura dos socialdemocratas independentes, o USPD. Em novembro deste ano, o governo socialdemocrata chega a um pacto com o Estado maior militar e os Freikorps para liquidar o levantamento dos operários e as organizações revolucionárias. Rosa e seus camaradas, fundadores da Liga Espartaco, núcleo inicial do Partido Comunista Alemão desde dezembro de 1918, são duramente perseguidos.

No dia 15 de janeiro, um grupo de soldados detiveram Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo aproximadamente às nove da noite. Rosa "encheu uma pequena mala e pegou alguns livros”, pensando que se tratava de outra temporada na prisão. Ao saber da prisão, o governo de Noske deixou Rosa e Karl nas mãos dos enfurecidos Freikorps – corpo paramilitar de ex-veteranos do exército do Kaiser. Se organiza uma emboscada: ao sair das portas do Hotel Éden, os dirigentes espartaquistas foram golpeados na cabeça com a coronha de um rifle, arrastados e mortos a tiros. O corpo de Rosa foi jogado no rio da ponte de Landwehr para suas sombrias águas. Foi encontrado três meses depois.

Um ano antes, em uma carta da prisão dirigida a Sophie Liebknecht, na véspera do dia 24 de dezembro de 1917, Rosa escrevia com um profundo otimismo sobre a vida: "É meu terceiro natal atrás das grades, mas não o tome como tragédia. Eu estou tão tranquila e serena como sempre. (…) Aqui estou eu encostada, quieta e sozinha, envolta nestes vários panos negros das trevas, do tédio, do cativeiro no inverno (...) e neste momento meu coração bate com uma felicidade interna indefinível e desconhecida. (…) Eu creio que o segredo não seja alguma outra coisa que não a vida mesma: a profunda penumbra da noite é tão bela e suave como o veludo, se se sabe olhá-la.”

Clara Zetkin, talvez quem mais a conhecia, escreveu sobre sua grande amiga e camarada Rosa Luxemburgo, compartilhando deste otimismo depois de sua morte: “no espírito de Rosa Luxemburgo o ideal socialista era uma paixão avassaladora que arrastava tudo; uma paixão, ao mesmo tempo, do cérebro e do coração, que a devorava e a impelia a criar. A única ambição grande e pura desta mulher sem par, a obra de toda sua vida, foi a de preparar a revolução que abriria o caminho ao socialismo. O poder viver a revolução e tomar parte em suas batalhas, era para ela a suprema alegria (…) Rosa pôs a serviço do socialismo tudo o que era, tudo o que valia, sua pessoa e sua vida. A oferenda de sua vida, à ideia, não a fez tão somente no dia de sua morte; já a havia dado parte a parte, em cada minuto de sua existência de luta e de trabalho. Por isto podia legitimamente exigir também dos demais que se entregassem totalmente, sua vida inclusive, pela causa do socialismo. Rosa Luxemburgo simboliza a espada e a chama da revolução, e seu nome ficará gravado nos séculos como o de uma das mais grandiosas e célebres figuras do socialismo internacional”.

Tradução: Francisco Marques

 
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