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LUTA CONTRA PEC 55
O ato em Brasília e os caminhos da luta contra a PEC55
Iaci Maria

No último dia 29 em Brasília o ato contou com quase 30 mil pessoas, em sua maioria estudantes universitários e secundaristas, que mostraram sua força contra a PEC 55 enquanto o Senado golpista aprovava a medida em 1º turno. Mas a política da UNE, UBES e CUT de usar as mobilizações para fortalecer o PT enfraquecem nossa luta. Por quais caminhos seguir?

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Apesar da grande manifestação, a PEC foi votada no Senado e aprovada por 61 votos a favor e 14 contra, regados a champanhe e com vista panorâmica para a repressão. Não coincidentemente, os mesmos 61 votos que aprovaram o golpe institucional. A manifestação, apesar de ter sido convocada nacionalmente por diversas entidades estudantis e centrais sindicais, entre essas as grandes UNE, UBES, CUT, CTB, foi composta em sua maioria por milhares de estudantes que ocupam suas escolas, universidades e institutos federais por todo país.

Apesar de toda violência da polícia a mando de Temer, muitos manifestantes não retornaram às suas cidades com sentimento de derrota. Muito pelo contrário, as palavras “resistência” e “radicalização” se tornaram comuns nas bocas dos que lutam sem arrego contra esse governo golpista e seus ataques.

A UNE e a UBES, dirigidas pelo PCdoB e PT, se prepararam para fazer desse dia 29 uma grande manobra e tentarem aparecer à frente da luta da juventude. A CUT e a CTB, também dirigidas por esses partidos, fizeram uma divisão de tarefas com seus aliados da burocracia estudantil e não deram peso de suas bases em dia tão importante. A serviço do que esteve essa manobra entre as burocracias sindicais e estudantis?

Resistir é preciso. Mas de qual radicalidade precisamos?

A maior e principal central sindical do país (a CUT, que representa 30% dos sindicalizados) não mobilizou sua base nem para ser parte dessa caravana, muito menos para parar os bancos, as fábricas e as escolas nesse dia tão importante que já estava há meses no “calendário” das lutas. Enquanto isso, a UNE e a UBES deram peso de sua militância para a ida a Brasília, aparecendo como direção do ato.

Essas burocracias usam uma luta dos estudantes para favorecer os interesses da estratégia das direções petistas de dar sua saída institucional pactuada com setores das classes dominantes para a crise política que o país está mergulhado. Eles sabem que sem a juventude não conseguirão se fortalecer para as eleições de 2018, e para isso tentam desviar a luta que é contra a PEC para apenas um desgaste do governo Temer.

Não podemos aceitar que o PT e seu braço direito, o PCdoB, usem nossa luta. O PT não é a grande vítima do golpe, como quer fazer parecer. As vítimas do golpe são os trabalhadores e a juventude, e o PT foi o partido que fez alianças com a direita, governou à base da conciliação de classe e deixou o golpe passar ao não organizar uma real resistência. Assim como o golpe passou com auxílio do PT, a PEC também está passando.

Se hoje existe um grande movimento estudantil se organizando de norte a sul do país e a juventude vem se mostrando o setor mais avançado na luta contra o golpe, é porque essa foi a juventude que se forjou em junho de 2013 e ali aprendeu que é possível sim lutar por seus direitos. E as grandes Jornadas de Junho também foram expressão de um forte rechaço ao PT, denunciando justamente que esse partido não representava os trabalhadores, e sim os empresários e banqueiros.

Não por acaso a UNE e a UBES querem elevar o dia 29 em Brasília como o maior ato estudantil dos últimos tempos, para tentar apagar as Jornadas de Junho que foram contra eles mesmos e seu projeto de poder. É preciso dizer que o partido que estava no poder em 2013 – e diga-se de passagem, reprimiu as manifestações tanto ou mais que o governo golpista dia 29, e que no estados em que governam, como em Minas Gerais com Fernando Pimentel, também reprime os atos de estudantes – é o mesmo PT que abriu caminho para o golpe e, mais preocupado com suas alianças com a direita, nada fez para barrar esse ataque que recai sobre nossas costas.

Por isso é realmente importante organizar a resistência e radicalizar a luta, pois só com radicalização poderemos realmente barrar esses ataques. Mas resistir e radicalizar não pode ser apenas na forma, fisicamente, no enfrentamento com a polícia que violentamente reprime. Mas é também no conteúdo que precisamos radicalizar a luta, exigindo das grandes centrais que organizem os trabalhadores desde a base, através de assembleias que debatam os ataques preparem a resistência em cada local de trabalho.

Mas onde esteve a esquerda?

Brasília dia 29 foi a prova mais concreta de que há uma forte disposição, principalmente dos estudantes, de levar a batalha até o fim. Foi também a prova mais concreta de que o PT – e as entidades que dirigem – querem levar a batalha para seu fortalecimento como partido depois do rechaço da juventude a seu governo como em 2013 e a derrota eleitoral em 2016. Ou seja, o que eles querem não é o mesmo que querem os setores sinceros dessa luta. Mas mais escandaloso ainda é o papel que cumpre a esquerda.

Apesar disso, as organizações de esquerda convocaram e foram a Brasília de maneira totalmente acrítica, sem demonstrar nenhum esforço em denunciar a estratégia e as manobras dessas burocracias. Inclusive pós dia 29 seguiram na mesma festa junto à burocracia estudantil, elevando o dia 29 em Brasília como maior ato da juventude em décadas. Porém, enquanto a burocracia estudantil faz isso a serviço de um projeto de voltar ao poder junto a setores das classes dominantes, a esquerda, tentando surfar na onda da burocracia estudantil, acabou sendo parte da manobra petista.

O Juntos, juventude do MES da Luciana Genro, chegou a marchar de braços dados com a direção da UNE e de Carina Vitral, lado a lado da UJS. Toda a militância do MES, que não está nas ocupações da cidade onde eles tem mais peso, em Porto Alegre, estava no bloco de mãos dadas com a direção UNE. Assim como a UJR – juventude do PCR – que também segue com discurso de radicalidade, mas totalmente adaptados ao PT na prática. Colado no Juntos estava o MAIS, que segue cada vez mais se adaptando a essa corrente defensora do golpe e agora da Lava Jato. Na prática, com a cara mais ou menos radical, todos estiveram junto com as burocracias da UNE, UBES e de correntes como o Levante Popular da Juventude.

Apesar de todo rechaço que já foi expresso ao PT em 2013 a esquerda não trava uma batalha sequer denunciando o papel das burocracias e exigindo que elas rompam sua subordinação ao PT.

Barrar a PEC, os ataques do governo golpista, mas também toda podridão do regime

Assim como em junho de 2013 não foi só por 20 centavos, a luta agora não é apenas contra a PEC. O escândalo do maior ajuste fiscal ser aprovado à base de tiro, porrada e bomba enquanto os parlamentares tomavam champanhe tem que se transformar em gasolina para nossa luta.

Vivemos em um regime que mantém salários milionários aos parlamentares e juízes, e possui um judiciário que se fortalece cada vez mais, escancarando a cada dia suas arbitrariedades e investigações seletivas, como é o caso da Lava-Jato hoje.

Entre o petismo que se aliou à direita e deixou o golpe passar e os grupos reacionários como MBL e VPR amantes de Moro e da Lava Jato – e que essa semana expressaram sua derrota em suas minúsculas manifestações reacionárias –, é preciso uma terceira alternativa, e a juventude tem que estar à frente dela junto aos trabalhadores. Uma alternativa que coloque nas mãos dos setores em luta, mais mobilizados, as decisões e rumos do país, que questione os privilégios dos políticos e juízes.

Por isso defendemos a construção de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta a partir da força das mobilizações, e parta de retirar esses privilégios fazendo com que todos os políticos sejam revogáveis; que impeça a aprovação de PECs do fim do mundo; que faça com que os crimes de corrupção sejam julgados por júri popular – ao invés de entre seus pares corruptos, como é hoje –; que os corruptos tenham os bens confiscados; que todo juiz federal seja eleito; e que políticos, juízes e funcionários de alto escalão do governo recebam o mesmo salário que uma professora. Assim questionaremos a podridão do regime e podemos começar a dar uma saída real à crise que nos assola.

Preparar o dia 13 pela base: chega de oportunismo e enrolação

Diferente do dia 29, não podemos mais aceitar que o PT e o PCdoB usem a luta da juventude para seus interesses de partido. A juventude que ocupa escolas e universidades viveu 2013 e outros nunca defenderam o PT e muito menos a direita. O dia 13 tem que ser preparado pela base, massificando a luta contra a PEC, contra a MP746 e contra o governo golpista do Temer. É tarefa das grandes centrais e da grandes entidades estudantis romper sua subordinação ao PT e ao PCdoB, tirar as paralisações do papel e fazer assembleias de base para preparar uma verdadeira paralisação no dia 13, ocupando mais uma vez a Praça dos Três Poderes, mas também as principais capitais com paralisações e ações nas fábricas, metrôs e rodovias onde dirigem os sindicatos.

 
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