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DEBATE
Devemos disputar o conceito de ocupação
Silva Shakur
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Novas possibilidades se abrem quando num momento histórico desta dimensão como a ocupação, em certo sentido, pois se estabelece um novo espaço de debate político e por outro lado outros (novos) participantes entram em cena. A discussão da disputa do conceito de ocupação deve, desta maneira, atentar a esses dois pontos a fim de extrapolar os limites físicos da universidade, levando em primeiro lugar a massa às ruas e num segundo momento ampliar as comunidades de discussão pública.

A pergunta então precisa dizer respeito a como impulsionar o movimento de desconstrução daquela linha limítrofe do que está dentro e do que está fora. Mudemos nossa pergunta, portanto: como disputar o conceito de ocupação?

As respostas podem ser encontradas a partir de uma análise crítica de conjuntura levando em consideração as bases materiais as quais indicarão não apenas que pessoas estaremos colocando nesta reflexão, mas também os novos espaços em disputa.

As massa às ruas, a mobilização de um contingente específico cumpre um papel fundamental nos movimentos de ocupação, sobretudo, pois é uma tentativa de se escapar do imobilismo débil e estéril presente nas ocupações a nível nacional. Na PUC-Rio tal empreendimento se conforma a partir da mobilização dos estudantes que votaram na chapa de oposição do DCE, aqueles que se posicionaram contra o PSDB, contra a PEC 55, a favor das demandas levantas pelos coletivos e a favor da ocupação. Votos que configuram 2.325 alunas e alunos que precisam de uma iniciativa que os exortem a preencher um espaço ainda vazio, as ruas, e que não os deixe apenas naquela disputa política eleitoral institucionalizada e os ponham a disposição de lutar em outro espaço. Um convite o qual os coletivos, a chapa Renova, bem como os estudantes independentes precisam lançar mão e, desta maneira, trabalhar nas possibilidades que o conceito de ocupação lança luz. Por necessidade vital, as ruas também precisam ser ocupadas, devem ser o próximo passo que, embora ainda tímido, é uma das ferramentas fundamentais nesse processo de luta política. Sem este estaremos presos num espaço restrito, sem o apoio massificado dos estudantes e por conta disso o movimento estaria fadado ao fracasso.

No que corresponde à ampliação das comunidades de discurso político há a necessidade de procurar discutir questões referentes à conjuntura política nacional, como a PEC 55, por exemplo, com outras pessoas dentro e fora da universidade. A atenção se volta para as comunidades de trabalhadores que atuam de forma independente, com aqueles que estão muito próximo a universidade como as (os) moradoras(es) do Parque da Cidade, do Vidigal, da Rocinha, da Cruzada São Sebastião, etc. Não só estes, mas também uns que estão ainda mais próximos, como os seguranças patrimoniais da PUC-Rio que junto aos alunos do ocupa reivindicam os adicionais de periculosidade que estão atrasados há dois anos. Ou como os estudantes ocupantes do IRFJ Realengo que vem fazendo um trabalho comunitário que varia em trabalhos semanais com crianças toxicômanas e adoção de animais de rua.

Se voltar para aquelas comunidades não significa apenas propor uma discussão política em termos pré-determinados, ou seja, não se trata apenas da ampliação das comunidades de discurso do ponto de vista do debate público. Há de se antever a profícua aliança de luta entre a universidade e classe trabalhadora, o que está em jogo é a possibilidade de uma outra sociedade onde a produção do conhecimento científico produzido na universidade estaria a serviço de suprir as demandas dos trabalhadores e não da acumulação do capital. Portanto, disputar esse conceito também aponta para uma crítica das estruturas econômicas e da relação de mercadoria e conhecimento, e lança luz a possibilidade da universidade estar a serviço da classe trabalhadora.

Ocupar seria, portanto, ocupar com outros participantes da cena política que ainda não são ocupantes, mas tem esse anseio de maneira embrionária. Um ocupante que não é aquele que disputa o espaço estudantil e institucional, e, portanto, não vê a necessidade de estar nesses espaços. Mas um militante que se dispõe e se prepara para luta política a nível nacional contra os ataques aos direitos políticos e sociais da classe trabalhadora. Personagens da cena política que são ocupantes por se inserirem dentro do debate proposto por estudantes, mas sem o ser. Além disso, se configuram possibilidades de discussões e pautas que alertam para outras demandas e necessidades das comunidades ao redor. Está dada aí a rasura daqueles limites pelas condições favoráveis de uma discussão ampliada, indicando assim que o conceito de ocupação ganha outros contornos, pois ele, agora, não significaria apenas a disputa simbólica e sua posterior ressignificação do espaço estudantil. Ele atenta a outras demandas comunitárias, sobretudo aquelas que dizem respeito as demandas da classe trabalhadora.

Essas são reflexões que não dizem respeito exclusivamente a um ou outro aluno ocupante, nem muito menos apenas a mim, são idéias e por serem idéias vem sendo discutidas, levadas à frente e pairam não apenas na PUC-Rio. Estão em escolas, institutos federais e universidades que não se furtam desta discussão e vem, cada um à sua maneira, disputando o conceito de ocupação. Devemos disputar o conceito de ocupação a fim de também resistir aos ataques do golpista Temer, aos ataques classistas como a PEC 55, a reforma da previdência, que propuseram retirar os direitos dos trabalhadores e reduzir os investimentos em saúde e educação para garantir o pagamento de uma dívida pública que só cresce e enriquece uma burguesia rentista deste país.

 
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