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DIA NACIONAL DE MOBILIZAÇÃO
CUT e Força Sindical chamam dias de paralisação separados, nenhum ato em apoio aos estudantes. A quem favorece a divisão?
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

Está sendo convocada pela CUT uma nova jornada de “paralisação nacional” para o próximo dia 11, falando em greves e paralisações junto a sindicatos e movimentos sociais contra a PEC 241, assim como contra as reformas trabalhista, da previdência e do ensino médio. Contra estes mesmos ataques, deste mesmo governo, contra a mesma classe trabalhadora, a Força Sindical está também chamando um dia de paralisação no dia 25. Enquanto as grandes centrais sindicais convocam dias de “paralisação” divididos, e sem assembleias de base, sem mobilizar efetivamente a classe trabalhadora, a juventude está “dando aula” de como resistir aos ataques de Temer. Por que não há confluência entre a luta da juventude e da classe trabalhadora?

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O desemprego bate recorde no país chegando a quase 12% da população. Aqueles que seguem empregados veem a cada dia o poder de compra dos seus salários desvalorizados pela alta inflação, que segue corroendo os salários dos trabalhadores há anos. Reajuste salarial acima da inflação não mais existe, deixando claro que a patronal quer seguir fazendo com que os trabalhadores sigam pagando por uma crise que não criaram. O direito de greve, instrumento fundamental dos trabalhadores, agora já não mais está assegurado pela lei, quando o STF decidiu que os governos devem cortar o ponto de grevistas, antes mesmo de negociações e julgamento.

Os serviços públicos, cada vez mais precários, hoje estão seriamente ameaçados com a PEC 241, que prevê o congelamento dos gastos do governo com saúde, educação, e outros serviços por 20 anos, serviços estes pelos quais a população já carece historicamente. Não há médicos para atender as filas quilométricas nos hospitais, não há estrutura mínima para um ensino de qualidade nas escolas públicas.

Entretanto, há dinheiro pra pagar a dívida púbica que consome 45% do orçamento, bem como para aumentar seus próprios salários os políticos seguem tendo dinheiro. É mentira a fábula sobre "acertar as contas públicas": deputados e senadores custam aos cofres públicos mais de R$1 bilhão por ano, e aumentaram seus salários; cada um dos 81 senadores custa mais de R$2 milhões por mês. Já os juízes brasileiros são os mais caros do mundo: custam 1,3% do PIB nacional, sem considerar as regalias e ajudas de custo.

O Judiciário e a mídia golpista se mantém sedentos e em sintonia com o governo golpista pela retirada dos direitos. Mesmo que se desenvolvam divergências entre os poderes, sobre como conter ou não a Lava Jato, estão todos de acordo em atacar nossa aposentadoria e outros direitos para manter seus privilégios milionários.

Com tantos motivos para sair à luta, por que não há uma grande campanha de apoio aos estudantes e para unir as forças contra Temer?

Se estamos vivendo esses ataques, por que não há uma grande campanha em apoio aos estudantes que ocupam suas escolas e universidades contra esses mesmos ataques? Setores do funcionalismo estão entrando em greve contra a PEC e outros ataques, mas há além disso milhares de escolas e universidades ocupadas, a juventude é o setor que está antecipando uma luta que cabe a toda classe trabalhadora. A CUT, CTB, e os grandes sindicatos falam da “inspiração dos jovens”, mas não fazem nada para apoiar as ocupações em meio à chantagem do governo e da mídia com o ENEM, e não fazem de sua “jornada nacional de mobilização” um grande apoio à juventude. A juventude dá um exemplo para a classe trabalhadora para superar a paralisia dos sindicatos, superar os dias isolados de luta e sem organização pela base. Qualquer dia de mobilização nacional hoje tem que erguer a voz em apoio aos estudantes.

Motivos não faltam para sair à luta, mas então por que a divisão e não construção na base?

A CUT, maior central sindical da América Latina, dirigida pelo PT, buscou manter a todo custo uma "oposição responsável" frente ao golpe da direita, se negando a levantar um plano de luta contra aqueles que sequestraram o voto popular e iriam avançar contra nossos direitos. E assim fizeram, pois seguem com o medo de colocar um gigante nas ruas que pode escapar ao controle dessa burocracia sindical: os trabalhadores reivindicando seus direitos. O PT tem mais medo da mobilização dos trabalhadores do que da direita, com a qual segue tentando negociar buscando salvar seu partido em decadência.

A "paralisação nacional" convocada pela CUT se resume a um tímido artigo em seu site e um evento no Facebook, sem sequer fazer um chamado para que seja realizada qualquer assembleia de trabalhadores, ou reuniões de base, para que se prepare um plano de guerra contra os ataques prometidos, o que mostra que nem de longe esta Central Sindical quer travar uma luta consequente contra os ajustes de Temer, numa base de mais de 23 milhões de trabalhadores que a CUT dirige. Segue mantendo há décadas a mesma prática burocrática, inofensiva e criminosa de manter engessada a luta sem organizar os trabalhadores.

As principais reivindicações da mobilização convocada para o dia 11 são justas e corretas, como a luta contra a PEC 241, contra a reforma da previdência entre outros ataques do governo Temer. No entanto, em meio a esses reivindicações correta as Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular também levantam sua proposta de “diretas já” que serve para preparar a campanha eleitoral do PT - de preferência de Lula, se tiverem essa alternativa - para 2018. De quebra, oferecem ao regime político uma oportunidade, caso queira, de eleger um ajustador como Temer, mas que tenha diferente dele uma legitimidade do voto. Essa reivindicação não serve a um desenvolvimento das lutas da classe trabalhadora para questionar o conjunto desse regime político corrupto e organizado para aumentar os lucros dos empresários.

Desenvolver a solidariedade aos estudantes em luta e lutar na base por um dia 11 que supere a paralisia da CUT, CTB e sindicatos

Na educação, comovida pelas ocupações dos estudantes, muitos setores já marcaram cruzar os braços no dia 11. Aí a burocracia da CUT, que dirige a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação, que reúne a quase totalidade dos sindicatos do setor no país precisa mostrar mais serviço e organizar mais ações nesta data, e até mesmo no dia 25 que é convocado com maior centralidade pela Força Sindical. A luta da educação isolada dos outros setores da classe trabalhadora é suficiente para marcar a “oposição a Temer”, mas insuficiente para derrotar os ataques.

E até mesmo nos setores da educação, onde há greves em universidades, nas escolas no Paraná e outros setores pelo país fazem falta justamente os métodos democráticos, como assembleias, reuniões de base para que os trabalhadores desse setor tomem em suas mãos a luta contra Temer. O protagonismo dos trabalhadores para organizar suas pautas, mas também suas formas de luta, o que piquetar, que ato fazer, etc, são inseparáveis de colocar em movimento a força que precisamos para enfrentar Temer. Não fazer isso mostra que a burocracia sindical está forçada a mostrar “serviço” contra Temer, mas tal como preconizado por Lula busca ser uma oposição que “não incendeie o país”, que se opõe às medidas, mas tão somente na justa medida que isso prepare seu terreno para Lula 2018 e não para comover e parar o país em defesa de nossos direitos.

Por outro lado a Força Sindical chama para o dia 25 de novembro outra paralisação nacional, com greves e mobilizações, dividindo ainda mais a luta dos trabalhadores pois, perde-se a oportunidade de fazer um chamado unificado para que se coordene as lutas em todo país em um único dia, o que poderia avançar para um duro golpe no governo ajustador de Temer.

Essa divisão da CUT e Força Sindical é funcional a que ambas possam mostrar “serviço” e nenhuma delas realmente coloque em movimento os grandes bastiões da classe trabalhadora. A falta de organização pela base tem seu complemento necessário na divisão.

Esta divisão e falta de organização na base imposta pelas centrais sindicais são um freio para a luta dos trabalhadores. Já vimos diversas jornadas “de paralisação nacional” convocadas ora pela CUT, ora pela Força Sindical, e nenhuma delas com verdadeira paralisação ou organização pela base. Não basta seguir dizendo "greve geral" enquanto nada fazem para erguer uma luta efetiva, organizada desde as bases, e unificada, que golpeie o governo e o faça retroceder de seus ataques.

A CSP-Conlutas votou participar dos dois dias de “paralisação nacional”, no entanto deixou claro em sua resolução que procurará ter um papel mais ativo no dia 25, deixando para o dia 11 as mobilizações no setor de educação, onde ocorrerão independentemente da vontade dessa central sindical. Essa escolha leva a separar os trabalhadores das poucas bases fabris dessa central, como os metalúrgicos de São Jose dos Campos, de poder influenciar e mostrar uma alternativa de organização pela base em oposição ao que fazem a CUT, CTB e a Força Sindical.

Os trabalhadores precisam tomar em suas mãos os rumos da luta contra os ataques de Temer. Precisamos nos inspirar no exemplo da juventude que ocupa suas escolas e universidade, e organizar pela base o conjunto da classe trabalhadora contra a paralisia, divisão e falta de construção que as grandes centrais promovem. Participaremos nos locais de trabalho e nos atos da mobilização do dia 11, pois esta jornada tem demandas justas e corretas como a luta contra a PEC 241, porém o faremos de forma independente da burocracia sindical que não a constrói ativamente na base. Levaremos aos locais de trabalho e aos atos nosso apoio ativo à juventude que ocupa escolas e universidades, pois sabemos que a união da classe trabalhadora com a juventude pode ajudar a desenvolver a luta contra Temer e a superar os limites que as centrais sindicais tem colocado na resistência contra os ataques das patronais e do governo golpista.

 
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