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IMIGRAÇÃO
Milhares de asiáticos nos barcos da morte que ninguém quer ver
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

As chocantes imagens das balsas lotadas de refugiados de Myanmar e Bangladesh para o Sudeste Asiático estão se tornando cada vez mais dramáticas. Na sexta-feira, quase 1.000 migrantes chegaram a Aceh, na costa norte da ilha indonésia de Sumatra. Amontoados em um desses navios de madeira, já semi-naufragado, viajavam mais de 700 pessoas, entre elas mais de 60 crianças.

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(Fotografias: Christophe Archambault, AFP)

Alguns procedem de Bangladesh e fogem da pobreza no seu país. Mas a maioria é composta por refugiados rohingyas, uma minoria étnica muçulmana que sofre perseguições em Myanmar (antiga Birmânia).

Este verdadeiro drama humano é um episódio adicional à trágica situação dos imigrantes africanos e asiáticos. Há exatamente um mês naufragava no canal da Sicília uma embarcação líbia com 700 imigrantes a caminho da Ilha de Lampedusa, na Itália, na maior tragédia já registrada no Mediterrâneo. Apenas nos primeiros quatro meses de 2015 já são mais de 1700 imigrantes mortos, vítimas das guerras de ocupação dos países europeus e dos Estados Unidos, de um lado, e das máfias de traficantes de pessoas, por outro (que, em alguns casos, chegam a cobrar 14 mil euros ou mais para arriscar milhares de vidas nestes “barcos da morte”).

Os governos da Malásia e da Indonésia, para onde se dirigem estas embarcações, se recusam a aceitar estes imigrantes, enviando-os de volta ao mar, sem qualquer auxílio, proporcionando as mais horrendas imagens destas “tumbas flutuantes” repleta de seres humanos agonizantes de fome, obrigados a jogar-se ao mar para apanhar as “provisões” que envia a Guarda Costeira.

Em vista da escalada ininterrupta das tentativas de entrada não só na Ásia mas na Europa, os ministros de Relações Exteriores e de Defesa da União Europeia aprovaram esta semana uma operação para “identificar, apreender e inutilizar” as embarcações usadas pelos traficantes para transferir estrangeiros da costa africana da Líbia para a Europa.

O “plano”, entretanto, não detalha o que se fará com os imigrantes que abarrotam estas embarcações, lucrativas para as máfias que se beneficiaram da carnificina imperialista no norte da África durante a primavera árabe (a maioria esmagadora dos imigrantes vem da Síria, 123 mil em 2014, seguidos por pessoas provenientes do Afeganistão e de Kosovo, regiões bombardeadas pelos Estados Unidos nas décadas de 90 e de 2000 durante a operação “Desert Storm” e a “guerra ao terror” de George W. Bush).

Os governos europeus traduzem a mesma política cruel dos países do sudeste asiático, numa polida diplomacia para militarizar a costa mediterrânea. De fato, Hollande rechaçou o sistema de cotas para refugiados proposto pela Comissão Europeia, para não ter de dividir com a Alemanha (maior local de asilo para imigrantes na Europa) o abrigo dos refugiados que Merkel não quer manter.

A verdadeira causa destas embarcações do terror está no estado de desespero social no qual vivem os migrantes em suas terras, estrangulados pela espoliação exercida pelas principais potências imperialistas da União Europeia e os EUA, que com seus capitais exploram os trabalhadores submetendo-os às piores condições de vida.

Para notar a exploração ocidental na Ásia, não é preciso ir mais longe do que lembrar da tragédia do desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, em 2013, que matou mais de 1200 mulheres e crianças que trabalhavam na fabricação de camisetas e vestuários para as principais multinacionais europeias e norteamericanas, em jornadas de trabalho de 14 horas por 40 centavos de euro a hora. Bangladesh tem leis internas que impedem a saída da população do país.

Em um mecanismo perverso, as grandes potências exploram o continente africano e geram guerras obrigando milhares a uma vida de miséria e êxodo, enquanto fortalecem a defesa europeia e impedem a entrada dos que fogem da morte, das perseguições e da fome.

As tumbas flutuantes e a vergonha da Europa

Ao menos 3419 imigrantes perderam a vida tentando cruzar o Mediterrâneo em 2014, um recorde anunciado pela agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR, que registra 4272 mortes ao redor do globo).

Para os que têm êxito em cruzar o Mediterrâneo para alcançar as costas europeias, a Europa não reserva muito mais alternativas aos que saem da África fugindo da guerra e da miséria: estarão esperando em solo europeu valas e muralhas de arame farpado, fortemente militarizadas; repressão e racismo nas fronteiras patrulhadas pela polícia, ou os “cárceres para imigrantes” dos CIE (Centros de Internamento para Estrangeiros), verdadeiros campos de concentração onde imigrantes africanos aguardam seu reenvio para os países de origem.

Em 1940, Trotsky escrevera que, em meio às vastas extensões de terra e as maravilhas da tecnologia, na era da aviação, do telefone e do telégrafo (sem mencionar os estupendos meios de comunicação do século XXI), a burguesia restringiu a comunicação entre os países e conseguiu transformar a terra numa “suja prisão”. Esta verdade da época imperialista está inscrita nos rostos de homens e mulheres que fogem da devastação causada pela crise dos próprios capitalistas.

Como assinala Pietro Basso, somos parte de uma classe trabalhadora mais internacional que em outras épocas, plurinacional, nativa e imigrante em sua composição interna, mais volumosa no conjunto do mundo combinada ao processo de êxodo rural que acompanha a restauração da China e suas novas configurações econômicas. Esta nova realidade é a base para um internacionalismo concreto de como soldar a unidade dos trabalhadores nativos e imigrantes.

Com a crise econômica mundial, a responsabilidade pelas catástrofes “organizadas exemplarmente” pela burguesia está sendo atirada sobre as costas de africanos, asiáticos e latinoamericanos residentes nas potências, incrementando a xenofobia e as variantes de extrema direita como a Frente Nacional na França e o Pegida na Alemanha. O movimento em defesa do direito dos imigrantes, para acabar com as leis antimigratórias, com a repressão costeira, os CIEs, a xenofobia e a islamofobia, é imediatamente uma bandeira da classe trabalhadora nativa nos países da Europa e de todo o mundo.

 
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