O PT plantou e Bolsonaro colheu: agronegócio e classes sociais no interior do país

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imagem: Juan Chirioca

texto: Ricardo Sanchez

O Brasil mudou muito nos últimos anos. Ocorreram significativas transformações políticas de Dilma a Temer e Bolsonaro. Mas, para além da política, ocorreram importantes mudanças na economia, na composição e na disposição geográfica das classes sociais. Seu entendimento permite compreender como aquelas favorecidas pelos anos de governo do PT fortaleceram o golpismo. Olhar para as alterações da economia e das classes sociais no país também permite ver as novas contradições que se acumulam nos dias de hoje.

Superando os atrasos políticos para pensar o país

A nascente força do interior do país é visível. Vimos, nos últimos anos, como na chamada “República de Curitiba”, o surgimento de figuras políticas nacionais em estados antes extremamente secundários. Vimos o peso do escoamento da soja na economia nacional no contexto da paralisação dos caminhoneiros (fortemente apoiada por uma patronal da soja, a Aprosoja[1]). Vemos, inclusive no plano ideológico, como a indústria cultural goiana cria fenômenos nacionais.

São Paulo ainda é a grande locomotiva do país, mas seu peso no PIB, de 32,05% em 2016, só é comparável ao peso que teve no longínquo ano de 1939 (33%), quando alcançou o pico de 41,4% no governo Geisel. No âmbito estadual, o interior paulista ganha crescente importância, inclusive industrial. Surgem lugares que combinam fábricas e rodeio (ex.: Jaguariúna), e polos urbanos e proletários dinâmicos (Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Sorocaba).  

O Paraná dá saltos na economia nacional: dos 2% do PIB em 1939 passou para 5,16% na época da Constituinte e 6,4% em 2016, igualando-se ao Rio Grande do Sul (que conta com 6,5% do PIB). O Centro-Oeste, quando somados à região os estados que antes pertenciam a ela, Tocantins e Rondônia, passou de 2% do PIB em 1939 para 7,64% em 1988 e 10,8% em 2016 – ou seja, mais que o Rio de Janeiro, que participa com 10,2%. Somando-se o Paraná e o Centro-Oeste temos quase o peso de Minas Gerais e Rio de Janeiro juntos.

É esse o retrato do PIB do país em que vivemos hoje. A análise da dinâmica concreta de suas classes sociais joga luz no entendimento da crise orgânica[2] e de sua evolução.

No governo do capitão da reserva, repleto de militares do alto comando, agora na reserva e com a participação da estrela-guia do judiciário, vemos uma das características mais marcantes da crise orgânica em Gramsci: a força relativa de instituições sem voto, igrejas e burocracias civis (o judiciário, por exemplo) e os militares.

“Como que são criadas essas situações de oposição entre representantes e representados, que do terreno dos partidos (organizações partidárias em sentido estrito, campo eleitoral-parlamentar, jornalístico) se reflete em todo organismo estatal, reforçando a posição relativa do poder da burocracia (civil e militar), da alta finança, da Igreja, e de todos organismos relativamente independentes da flutuação da opinião pública?” (Cadernos 13, § 23).

Entender o que mudou nas classes sociais, bem como seus conflitos, ajuda a jogar luz no inédito protagonismo desses setores e aponta também para a base material do que ocorreu para que se desse força a setores burgueses, pequeno-burgueses e das classes médias do interior e do sul do país. Nesses estados, há uma boa parcela do ministério de Bolsonaro, diferentemente do que ocorria em todos governos de Sarney a Temer. Daí é recrutado o oficialato militar e togado [3]. Veja-se, por exemplo, no artigo “Os militares voltam para a política” mas com qual política?” a respeito do Exército e de suas relações com o imperialismo.

Aqui tentamos oferecer a imagem da evolução global da economia e das classes sociais do país nos últimos anos e assim superar visões que contaminam a intelectualidade brasileira,  inclusive a esquerda, para entender o país, condição sine qua non para sua transformação.

A esquerda brasileira herda do stalinismo uma ideia de “progresso” e “atraso”, uma imagem funcional a políticas de procurar aliados, ou até mesmo sujeitos, na burguesia urbana e “civilizada” (leia-se, Rio e São Paulo). Com essa burguesia, busca-se um desenvolvimento capitalista e democrático para depois pensar na revolução social. Mais do que uma “capitulação” a burgueses, é um projeto de país. Esse projeto de país foi ativamente desenvolvido pelo PT quando o partido esteve no governo. Lula, Dilma e os governadores petistas fizeram muito mais do que ceder ao agronegócio, à mineração predatória da Vale e Samarco, à bancada evangélica e da bala. Os governos do PT fortaleceram econômica e politicamente esses setores. O que era a base crucial de sua política é agora tratado como reflexo do imemorial atraso do país.

Para justificar a estratégia de buscar o “progresso” burguês, opera-se uma completa e deliberada cegueira aodesenvolvimento desigual e combinado}. O agronegócio “bárbaro e atrasado” funde-se à mais moderna e ambientalmente destrutiva tecnologia e mecanização; o mesmo setor se entrelaça com a finança e seus mecanismos de securitização, hedge e derivativos e, ainda, no “coração do atraso”, surge um pujante proletariado industrial, de transportes, comércio e serviços [4].

Não faltam exemplos de destacados intelectuais e jornalistas da esquerda brasileira que tratam o Paraná como “província” e todo o Centro-Oeste como “hinterlândia” brasileira. Tais fórmulas, cada vez mais retóricas, servem para justificar a passividade, visto que, se houvesse tamanho e sólido atraso, haveria bases muito duradouras para Bolsonaro e a bancada BBB. Diante desse horror, oferecem paciência e passividade como sapiência eleitoral e a busca de “grandes coalizões opositoras republicanas”, que juntem de PSOL a FHC. Eis a fórmula “antifascista” contemporânea para a busca da “burguesia progressista” ou “nacionalista” de antanho.

Essa análise e proposta política perdem as contradições. A força de setores burgueses e pequeno-burgueses no interior do país ocorreu em meio à rápida proletarização e ainda mais rápida feminização do proletariado nesses mesmos locais. O que é hoje burguês, masculino e patriarcal pode se tornar – potencialmente – seu avesso no choque entre os fatores objetivos e as tendências políticas e culturais[5].

Novas frações burguesas, novo proletariado

Junto da novidade da pujança capitalista do Centro-Oeste, vieram à tona setores econômicos e políticos dessa região que nunca haviam tido papel relevante nas frações do bloco dominante. Vimos a ascensão dos irmãos Joesley (JBS), o gigantismo da família Maggi e um sem fim de fábricas e marcas com suas matrizes em Goiás: JBS, Arisco, Mabel, Teuto, Neoquímica, Pirancajuba. Ao lado de uma burguesia agroindustrial fortemente vinculada, associada e fundida com o capital financeiro nacional e imperialista, temos também o desenvolvimento de uma burguesia comercial e logística [6]. Surge, então, junto ao desenvolvimento dessas novas camadas burguesas, um novo proletariado nos marcos de relativa desindustrialização do país.

Em todo o país, houve uma queda na participação da indústria no emprego formal medido pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) [7]. Se somarmos a indústria extrativa e de transformação, eram 21,4% do CAGED em 2012 e 19,2% em 2018. Dentro dos setores da indústria, nota-se o resultado positivo  no de alimentos, fortemente concentrado no interior do país, com um saldo positivo no período de 2010 a 2018 de 112 mil empregos. A indústria como um todo perdeu empregos (um total de 370.022 postos).

Olhando os dados regionais de emprego formal do CAGED nota-se a evolução acima da média nacional de todos estados de expansão do agronegócio.

Elaboração própria com dados da CAGEDEnquanto o país apresentou um crescimento de 14,8% de crescimento de empregos formais (de 33,4 milhões a 38,4 milhões), em estados de intenso agronegócio, o crescimento foi maior: Roraima com 37%, Goiás com 34,2%, Tocantins com 31,7% e Mato Grosso com 25,7%.

Em termos de porcentagem do estoque de empregos formais, a variação da década passada é ainda molecular. Mas já é notável como o Sudeste, em especial São Paulo (-0,97%) e Rio de Janeiro (-0,64%) perdem participação em detrimento do Sul e do Centro-Oeste, em especial para Santa Catarina (+0,33%), Paraná (+0,24%) e Goiás (+0,46%). A única exceção expressiva ao deslocamento para o interior e para o sul do agronegócio é o Ceará (+0,24%).

O emprego formal, portanto, com maior capacidade de organização e impacto na economia capitalista ainda está concentrado no Sudeste, onde estão 52,17% dos empregos formais. mas já mostra as importantes transformações em curso nos locais com mais dinâmico agronegócio.

Essa dinâmica ainda molecular não deixa de implicar em uma “revolução” local. O salto no Paraná e em Goiás, para tomar dois exemplos, é muito acentuado e rápido. Nesses 8 anos estudados, notou-se um aumento dos empregos registrados, a saber, de 415 mil no Paraná e 311 mil em Goiás.

Nesses estados, ao sul e ao interior, forma-se um proletariado industrial como parte relevante do emprego criado.

Em Goiás, utilizando-se dos dados municipais da CAGED[8], há claro destaque para empregos que são claramente fabris com a geração positiva de 30.009 vagas de “alimentador de linha de produção”, 7.443 novas vagas de “embalador”, 3.760 vagas de “auxiliar de produção farmacêutica”, 1.847 novas vagas de “abatedor”, 1.675 de “trabalhador do tratamento do leite”, 1.165 na “conservação de alimentos” e 1.058 de “ajudante de confecção”.

No Paraná, o emprego que mais respondeu à expansão no período foi o de “auxiliar de linha produção”, com um saldo positivo de 111.431 empregos. E, mesmo que a liderança total de empregos tenha cabido à capital Curitiba (+56.715), é ainda mais notável do que em Goiás o peso do interior do estado: Maringá – de onde vem Sérgio Moro – com +25.942, Cascavel +21.458, Londrina +16.377 e Ponta Grossa +15.240, ou, ainda, a pequena Pato Branco (de onde vem o procurador Dallagnol), com +5.508 empregos.

Essa expansão dos empregos formais no interior do país também é digna de nota em estados industriais tradicionais como São Paulo, Minas Gerias, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Nestes, a dinâmica ocorre associada ao fortalecimento do emprego formal não industrial nas capitais em detrimento dos outros municípios metropolitanos que se desindustrializam e tornam-se polos de comércio e serviços, ou cidades-dormitório; ao mesmo tempo, há expansão do emprego em geral, especialmente do industrial, no interior [9].

Nova pequena-burguesia e sua pujança no interior do país

Entre a burguesia e o proletariado brasileiro, houve, nos últimos anos, um aumento na proporção de pequeno-burgueses. O crescimento na economia e na sociedade desses setores não representados por partidos tradicionais pode ser considerado – junto a vários outros fatores – como parte da força material por trás do golpe institucional e da vitória de Bolsonaro. Politicamente, conseguiram arrastar atrás desse setor pequeno-burguês os “contas-próprias” e os proletários formais e informais, a fim de que toda essa “massa” servisse os interesses de frações do capital concentrado nacional e imperialista.

Como produto da crise econômica, houve forte perda de emprego formal nos últimos anos. Muitas pessoas passaram a ser  a trabalhadores por “conta própria”, autoexplorando-se como camelôs, moto-taxistas ou servindo a monopólios como a UBER. Uma outra parcela abriu pequenos-negócios que empregam outros trabalhadores (formais e informais) e tornaram-se, ao menos temporariamente, pequeno-burgueses.

Essa dinâmica entre a formação dos novos “conta-próprias” (que inclui setores médios tradicionais como dentistas, advogados e novos proletários precários) e “empregador” não foi homogênea no país. Há lugares onde surgiriam muito mais pequeno-burgueses com suas pet shops, barber shops e food trucks. Surgiram muito mais empregadores no centro-sul e interior do país, e o mapa dessa concentração combina-se, grosso modo, com o de mais expressiva votação em Bolsonaro.

Utilizamos aqui os microdados de População Economicamente Ativa (PEA) da PNAD-Contínua do IBGE e, em virtude dos objetivos desta  análise, não levamos em consideração as parcelas dos “contas-próprias” como “proletários”[10].

No Brasil, como um todo, temos, no período, a seguinte evolução:

Elaboração própria, todos números em milhares

Observando os dados acima, pode-se notar a inexpressiva parcela de burgueses (grandes, médios e pequenos) na população, mas ela cresceu para 4,63 milhões de pessoas. Este crescimento, junto ao crescimento dos “contas-próprias”, que passaram de 20,4 milhões para 23,1 milhões, ocorreu em detrimento dos aqui tratados como “proletários”.

Listamos abaixo as principais capitais do país segundo a porcentagem de sua população economicamente ativa, que era empregadora em 2017:

Os altíssimos resultados percentuais apresentados por Goiânia, Porto Alegre e Campo Grande são decorrentes da intensa formação de novos “empregadores” nestes anos de crise econômica[11]. Enquanto no país como um todo surgiram 3,89 “contas-próprias”, a cada novo empregador, no Estado de Mato Grosso do Sul, foram 2,47, em Goiás 2,08 e no Rio Grande do Sul 1,52.  

A dinâmica política de uma nova classe pequeno-burguesa concentrada no centro-sul do país esteve, por enquanto, ligada ao movimento político que, com auxílio do judiciário, deu a vitória a Bolsonaro.

A ascensão dessa nova pequeno-burguesia no centro-sul e interior do país é uma chave interpretativa importante para pensar o golpe institucional, o governo Bolsonaro e a relativa força do judiciário e dos militares de onde são recrutados seu oficialato. Isso dá intensa vida brasileira à dinâmica apontada por Gramsci:

O processo se acelera quando a ‘vontade’ específica desse grupo coincide com a vontade e os interesses imediatos da classe alta; não só o processo (da expressão voltada para um fim) se acelera, como se manifesta de imediato a ‘força militar’ dessa camada, que algumas vezes, depois de se organizar, dita leis à classe alta, se não pelo conteúdo, pelo menos no que se refere à ‘forma’ da solução” (Caderno 13, parágrafo 23)

Instabilidade e dependência da nova classe pequeno proprietária

Dessa constatação do dinamismo conjuntural e sua expressão eleitoral em Bolsonaro, não se pode extrapolar uma visão de um país de pequenos proprietários e todo um ciclo de “Nova Era”, como tentam fazer apoiadores do golpe e de Bolsonaro como Doria, ou ainda o ideólogo de Ciro, Mangabeira Unger [12].

A concentração dos empregadores em estados e regiões metropolitanas dependentes de um ciclo econômico local que tem ligação com o agronegócio exportador e seu complexo industrial mostra a dependência e a fragilidade dessa camada. A estabilidade de seus negócios, e também de seus comportamentos políticos, pode não ser tão sólida se considerarmos as previsões pessimistas no que se refere à economia mundial (até mesmo do FMI) e a perspectiva de impacto na quantidade de comércio mundial e no preço das commodities. A comparação entre a porcentagem da população de determinadas regiões e a porcentagem no universo de “empregadores” deixa clara essa dependência e sua concentração geográfica.

Obtido a partir da PNAD

 

À modo de primeiras conclusões

A política deliberada e consciente, não mera uma capitulação, do PT ao agronegócio e à formação de novos proprietários e empregadores deu bases materiais para fortalecer o judiciário, os militares e todo um dinamismo burguês e pequeno-burguês do interior do país, onde predominam fenômenos políticos e religiosos mais conservadores e patriarcais. No entanto, a própria pujança capitalista e a necessidade de empregar um número maior de proletários mais baratos estão produzindo nessas mesmas regiões um crescente proletariado um proletariado que é cada vez mais feminino, como abordaremos em profundidade em outro artigo especialmente dedicado ao problema.

Numerosos fatores jogam contra o bolsonarismo conseguir estabilizar essas classes e camadas de classe para uma nova hegemonia. A nova pequena-burguesia é muito dependente de uma economia local que, por sua vez, é dependente de exportações do agronegócio para a China e o Oriente Médio – o que se choca com a política completamente subordinada à Trump da “ala ideológica” do governo.

A crescente urbanização e a proletarização também colocam em colisão a política de Bolsonaro e os interesses materiais da maioria da população, inclusive no Centro-Oeste. A extração de mais mais-valia, sobretudo feminina, e o crescente número de lares chefiados por mulheres tendem a entrar em choque não somente no plano dos “costumes”, como da própria reprodução material da sociedade e do capitalismo. Junto a tudo isso, crescem as taxas de sindicalização feminina em todo o país, em especial nos estados de maior dinamismo do agronegócio, como também será tratado oportunamente em outro artigo,.

Na interpretação materialista do que veio se desenvolvendo no país em meio à crise orgânica, está uma chave para sua compreensão, para a crítica do papel do PT em fortalecer as bases materiais para a direita, mas também estão as bases para a emergência do anti-Bolsonaro, um proletariado cada vez mais nacional e cada vez mais feminino.  


NOTAS

[1] Diversos grandes empresários do transporte e da soja, incluindo a família Maggi (Mato Grosso) apoiaram o movimento.  Veja por exemplo a entrevista do “canal rural” da Globo com o presidente da Aprosoja-MT: https://canalrural.uol.com.br/programas/aprosoja-mt-apoia-greve-dos-caminhoneiros-74714/

[2] Sugerimos a leitura de “Brasil: crise orgânica?” de Fernando Rosso e Juan Dal Maso para aprofundar-se no conceito.

[3] Na toga, vemos Moro de Maringá e Dallagnol da pequena, mas dinâmica, Pato Branco, ambas no Paraná. Do interior do Rio Grande do Sul, vemos um sem fim das quatro estrelas do Exército.

[4] Nem sequer conseguem dar conta de como o “atraso” está produzindo gigantescos conglomerados urbanos no interior do país. A conurbação das regiões metropolitanas de Brasília, Anápolis e Goiânia formará o terceiro maior conglomerado do país, com 6,8 milhões de habitantes.

[5] Os mesmos estados que ocupam os primeiros lugares em feminização do proletariado e portanto que colocam as mulheres em melhor condição objetiva de desafiar o patriarcado, mas também o capitalismo tem também números superiores do percentual de suas populações que se declaram evangélicas e ao mesmo tempo uma audiência muito superior das conservadoras Record, Band e SBT (https://www.kantaribopemedia.com/dados-de-audiencia-nas-15-pracas-regulares-com-base-no-ranking-consolidado-1802-a-24022019/). Essa contradição mostra quão absurdo é tratar as pautas democráticas como cortina de fumaça como disse Lula e é repetido por todo o petismo.   

[6] Formam-se fortes polos comerciais regionais, como o pólo atacadista de Goiânia. Entre os setores burgueses comerciais e de logística, Bolsonaro encontrou eloquentes apoiadores, o mais famoso e infame sendo Luciano Hang da Havan, que concentra seu negócio justamente no interior e sul do país.

[7] Cf.  http://bi.mte.gov.br/eec/pages/consultas/evolucaoEmprego/consultaEvolucaoEmprego.xhtml#relatorioSetor

[8] Cf.  http://bi.mte.gov.br/bgcaged/caged_perfil_municipio/index.php

[9] A capital paulista liderou o estado com 347 mil empregos (ou 46% do estado), seguida de Ribeirão Preto, Guarulhos, região de Osasco e do Grande ABC. No Estado como um todo, o emprego líder foi o de “auxiliar de linha de produção”, mas este se concentrou no interior do estado e no oeste da região metropolitana. Na capital, o emprego que mais surgiu foi o de “faxineiro” (+81,6mil) seguido de “auxiliar de escritório” (+59,9mil). Santo André, no ABC, apresentou o mesmo perfil da capital, com a liderança de “faxineiro” com +9.417 empregos. A tradicional cidade operária de São José dos Campos apresentou perda de 22 mil empregos, o que ocorreu na maioria dos municípios do ABC.

No Rio de Janeiro, há forte desindustrialização das cidades dependentes do petróleo e da siderurgia ligada ao petróleo. Há geração de emprego na região serrana, na região industrial de Resende, e onde surgem novas fábricas no oeste da região metropolitana (Queimados, Seropédica e Itaguaí). Em Minas Gerais, a capital lidera a criação de emprego com +43.288 empregos, seguida do polo de agronegócio de Uberlândia com +36.170 e Montes Claros no norte do estado com +14.658.

No Rio Grande do Sul, a capital Porto Alegre lidera a geração de emprego, com +39.794, mas no interior e no sul do estado também houve criação de emprego: +10.077 em Santa Maria, +9.351 em Passo Fundo, +5.716 em Bento Gonçalves, +3 mil em Caxias do Sul,  Pelotas +5.650 e Rio Grande com +4.450. No Estado, o emprego que lidera é “alimentador de linha de produção” com saldo de +70.996, porém na capital, tal como SP, o emprego líder é de faxineiro com +9.134.

[10] A análise detalhada dos “conta-própria” e em cada região metropolitana precisa ser realizada, e assim diferenciar proletários precários, pejotização e classes médias tradicionais (advogados, dentistas, médicos, etc.).  Estes dados são de relevância para pensar a hegemonia nestes locais. A PNAD dá pistas iniciais, 4,2 milhões dos 23,1 milhões de “conta-própria” tinham CNPJ. Os restantes muito provavelmente são setores mais precários ligados a comércios ambulantes e serviços informais de transporte, e outras funções semi-proletárias. Também cabe ressaltar que dentro da categoria “proletária” podem ocorrer pequenas parcelas de classe média, como gerentes. Trata-se de uma aproximação à realidade tomando as estatísticas burguesas disponíveis.

[11] Outra característica dessas regiões metropolitanas é sua estrutura fundiária urbana distinta do restante do país. Na região metropolitana de Porto Alegre 70,5% das pessoas moram em moradia própria, na grande Cuiabá 66,4%, na região metropolitana de Curitiba 66,5%, enquanto em São Paulo, local de mais forte movimento por moradia, são 59,1%. A existência de mais proprietários de imóveis também serve para pensar as contradições que podem se expressar em movimentos sociais de moradia. Em alguns lugares com maior favelização e população negra, a burguesia tentou resolver de forma absolutamente precária essa questão, entregando títulos de propriedade para cada barraco. Rio, Salvador e Recife têm níveis de propriedade muito superiores à média com 73,7%, 69,9% e 73,6% respectivamente.  

[12] No entanto, o dinamismo dessa camada e seus comportamentos sociais e políticos dão nova luz ao debate sobre “nova classe média”, que ocorreu nos anos da hegemonia lulista. Mostram também como um de seus pilares, a ascensão social e realização na vida via consumo, evoluiu de um dos pilares do lulismo para o golpismo e depois para Bolsonaro. Mesmo processo visto com a bancada evangélica e com o agronegócio.

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