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VOLTA ÀS AULAS | Volta às aulas e a "normalidade" pela visão dos secundas - parte II

Secundaristas relatam como será voltar as escolas depois desse período de lutas que passaram, o que significa a escola e o seu cotidiano.

domingo 14 de fevereiro de 2016 | 20:35

15 de Fevereiro de 2015, mais um começo de ano letivo, será diferente dos outros?

Todos nós secundaristas sabemos como é todo começo de ano, geralmente voltamos às aulas animados com nossos cadernos, lápis, canetas, lapiseiras, estojos e mochilas novos, com um estilo diferente, várias histórias para contar aos nossos colegas de sala e aquela enorme expectativa de que esse ano vai ser diferente, mas será que vai mesmo?

Em Setembro de 2015 fomos bombardeados com o plano de (des)organização de Geraldo Alckmin, onde esse previa o fechamento de 93 prédios e a transformação de 754 escolas em unidades de ciclo único no Estado de São Paulo, e indignados, nós secundaristas e apoiadores nos juntamos em uma luta forte para combater essa precarização brutal do ensino. Assim, depois de protestos, os quais foram extremamente reprimidos pela PM e, mais de 200 escolas ocupadas por mais de um mês, finalmente conseguimos ao menos o adiamento dessa barbaridade que estava para ocorrer.

Já em dezembro, alunos de Goiás tiveram que recorrer ao mesmo combate dos secundaristas de SP, pois o governador Marconi Perillo (PSDB) tentou implantar um projeto de terceirização e militarização, no qual as escolas estariam sob controle de OS’s logo começaram a ocupar suas escolas chegando também a ocupar a Secretaria de Educação e, ainda seguem em luta.

Como vimos, ano passado foi uma constante disputa para a precarização e privatização do ensino, e por mais que tenhamos tido vitórias, como já sabemos, o governo não sessará sua batalha contra nós. Para aqueles que começaram suas aulas antes, por conta das ocupações já tiraram a prova de que a (des)organização está passando por debaixo dos panos sujos, salas estão sendo fechadas e a superlotação está eminente.

Fora essas questões ’novas’, já no primeiro dia vamos nos deparar novamente com toda aquela realidade que é nossas ’amadas’ escolas-prisão, seremos jogados em uma sala, de alguns metros quadrados, com algumas janelas e um porta, que a maioria das vezes é aconselhada a permanecer fechada, com um período estabelecido para ficar sentado, calado e olhando sempre a frente, nada de ousar virar para o lado, teremos 20 minutos para respirar entre as paredes cinzas, engolir a comida, e já voltar para a nossa cela. Se queremos uma licença para sair da sala e ir ao banheiro, tomar uma água ou só conversar com alguém no pátio para espairecer, vamos ter que ajoelhar no milho e encarar uma enorme fila, pois todos ali tem o mesmo sentimento de condenado.

Os portões se abrem, e apesar de na teoria dever ser um ambiente agradável, harmonizante e educativo, encaramos as paredes tristes, jovens desanimados e um sistema totalmente controlador e opressor. Durante todo ano letivo temos que conviver com constantes preconceitos vindo de todos os lados, professores, funcionários, diretoria e até de alunos que os reproduzem. É de conhecimento que existe constante LGBTfobia, gordofobia e rascismo dentro das escolas, alunos são tratados com indiferença, xingamentos e muitas vezes até espancados por conta de sua sexualidade, físico e raça. Outros são tratados com desdém por irem de chinelo, terem corte de cabelo diferente, não usar roupas de marca, etc, tudo origem de um padrão imposto pela mídia e que com essa fama de ostentação acaba nos separando, apesar de ainda sermos frutos da classe trabalhadora. Além de todas essas questões, ainda temos o machismo enraizado em nosso cotidiano, que nos cerca não apenas nas escolas, mas nas ruas e até dentro de nossos lares. Escolas onde há uma ’boa’ situação se ouvem comentários machistas e, alunas são alvos de olhares abusivos e até passadas de mão, já em outras, em estado lamentável, alunas são violentadas sexualmente por um ou mais ESTUPRADORES. E ai fica a questão, onde estão os funcionários nessas horas para combater essas opressões e abusos? Eles estão sentados em suas cadeiras e alienados pelo sistema capitalista que não quer combater isso, pois é tudo parte do jogo de classes.

Também do portão a dentro vemos um cenário totalmente desalentador, paredes e pisos sujos, rachaduras, cores neutras, cadeados, portas, grades, altos muros, etc, nada que nos agrade e que nos represente, temos até que lidar com a lástima que é conviver com pombas sobrevoando nossas cabeças em refeições, que chega a ser questão de perigo a saúde dos estudantes, e quando isso é reivindicado pelo grêmio, aparece todo tipo de empecilho para que tudo continue exatamente como é. Até mesmo as bibliotecas e laboratórios de informática ou ciências são extremamente controlados pela diretoria da escola, e muitas vezes nos impede do acesso, que é um direito nosso.

E pra fechar com chave de ouro a ’maravilha’ que é esse sistema de ensino e o cotidiano escolar, temos a ronda escolar que nos barram no portão de entrada e saída da escola, nos revistam como se fossemos bandidos e traficantes, nos agridem verbalmente e fisicamente, nos oprimem e nos impede de ficar em praças e lugares próximos a escola, entretanto são distribuídos discursos que esta policia esta ali para nos proteger, quando ela mesma que nos intimida.

Portanto, se nesse novo ano letivo nos estamos esperando algo de novo, essa será a longa luta que mal começou com Geraldinho, e já iniciamos o ano com o escândalo das fraudes nas merendas escolares.

Nós secundaristas, professores, universitários, trabalhadores terceirizados e toda classe trabalhadora mostramos durante o ano de 2015 que estamos dispostos a lutar contra toda essa opressão, que iremos lutar pela escola pública.

Pode vir quente que nóis tá fervendo!!!




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