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Víctor Jara, um canto à humanidade

Elizabeth Hayas

Víctor Jara, um canto à humanidade

Elizabeth Hayas

A 48 anos do assassinato de Victor Jara pela ditadura militar de Pinochet, em 16 de setembro de 1973, relembramos e homenageamos aqui este cantor, compositor, diretor de teatro, docente e militante do Partido Comunista Chileno que recentemente, em 2019, foi ícone com músicas que foram hinos da rebelião chilena.

“Igualzinho que outros tantos, desde criança aprendi a suar, não conheci as escolas nem soube o que é brincar”

Nascido em 28 de setembro de 1932, há 89 anos, no sul de Chile, Víctor Lidio Jara Martínez esteve próximo da música desde pequeno, em especial do folclore. Entretanto, sua carreira artística foi atravessada por contextos difíceis.

Se viu obrigado a trabalhar desde pequeno, ajudando seu pai nas tarefas do campo e depois em uma fábrica de móveis, tendo que abandonar os estudos.

Quando Víctor tinha 15 anos, sua mãe, Amanda, faleceu, o que marca um antes e um depois em sua vida, já que os dois eram muito próximos. Ela cantava e tocava violão em sua casa, incentivando Víctor a se aproximar da música. Durante dois anos, ele buscou refúgio em uma congregação, onde experimentou o canto gregoriano. Em seguida, prestou serviço militar.

Música Te recuerdo Amanda

“Meu canto é um canto livre que se quer doar, a quem aperte sua mão, a quem queira disparar”

Aos 21 anos decidiu mergulhar no mundo artístico e ingressou no coro da Universidade de Chile, ao mesmo tempo que começou a pesquisar sobre folclore. Depois de quatro anos se uniu ao conjunto folclórico Cuncumén, que rapidamente se destacou no cenário chileno. Nessa época conheceu Violeta Parra, que o incentivou a continuar no mundo da música.

Em 1961 compôs sua primeira canção “Paloma quiero contarte”, que seria parte do disco “Folclore chileno” dos Cuncumén, com quem viajou por vários países do mundo. Paralelamente, era diretor na Academia de Folclore da Casa de Cultura de Ñuñoa, trabalho que desempenhou até 1968. No meio disso, foi também diretor artístico do grupo Quilapayún.

Atuou como solista na Peña de los Parra e em 1966 gravou seu primeiro disco solo, “Víctor Jara”. No ano seguinte gravou “Canções folclóricas de América”, junto com Quilapayún.

Com a canção “Plegaria a un labrador”, ganhou o primeiro prêmio no 1º Festival da Nova Canção Chilena, e viajou a Helsinki para participar em um ato mundial em protesto pela Guerra do Vietnã. Neste álbum está a música “Preguntas por Puerto Montt”, inspirado no Massacre de Pampa Irigoin (em Puerto Montt, na região Sul do Chile), em que morreram onze pessoas pela repressão policial do governo de Eduardo Frei Montalva.

Preguntas por Puerto Montt

Em 1970 participou da campanha eleitoral da Unidade Popular e apresentou o álbum “Canto libre”. Quando Salvador Allende assumiu como presidente da República do Chile, Víctor Jara foi nomeado Embaixador Cultural, e em 1971 compôs a música, junto com Celso Garrido Lecca, da obra de balé “Los siete estados”, de Patricio Bunster, para o Balé Nacional do Chile.

Junto com Isabel Parra e Inti-Illimani, entrou no Departamento de Comunicações da Universidade Técnica do Estado. Com a discografia Dicap, editou o disco “O direito de viver em paz”, que lhe valeu o prêmio Laurel de Ouro por melhor composição do ano.

Veja mais: O direito de viver em paz, nova versão em repúdio ao Governo de Piñera

Trabalhou como compositor de música para continuidade na Televisão Nacional do Chile de 1972 a 1973, e investigou testemunhos em Herminda da Vitória, que basearam seu disco “A população”. Também viajou à União Soviética e à Cuba, além de dirigir a homenagem a Pablo Neruda pela obtenção do Prêmio Nobel.

Continuando com sua militância, em 1973 realizou diferentes atos, participou da campanha eleitoral para as eleições parlamentares a favor dos candidatos da Unidade Popular e, respondendo a um chamado de Pablo Neruda, participou dirigindo e cantando de um ciclo de programas de televisão contra a guerra e o fascismo.

Gravou um de seus últimos álbuns, “Canto por travessura”.

O teatro

Aos 24 anos, fez parte da Escola de Teatro da Universidade do Chile, onde estudou atuação e direção teatral, além de se unir à companhia teatral “Companhia de Mimos de Noisvander”. Três anos depois, dirigiu sua primeira obra de teatro “Parecido à felicidade”, de Alejandro Sieveking, viajando a vários países latino-americanos.

No ano seguinte participou como assistente de direção na montagem da obra teatral “A viúva de Apablaza”, de Germán Luco Cruchaga, cujo diretor era Pedro de la Barra. E dirigiu a obra “A mandrágora”, de Maquiavel.

Em 1962, dirigiu para o Instituto de Teatro da Universidade do Chile, a obra “ nimas de dia claro”, também de Sieveking, que o fez viajar por vários países. Além disso, trabalhou como professor de atuação da Universidade por alguns anos.

Trabalhou como assistente de direção ou como diretor em várias montagens, entre elas uma para o canal de televisão da Universidade do Chile. Em 1963 foi assistente de direção de Atahualpa del Cioppo, na montagem de “O círculo de giz caucasiano”, de Bertolt Brecht.

Fotografia de Rene Combeau.

Depois de dois anos dirigiu a obra “A folia”, de Sieveking, assim como a montagem de “A manha” de Ann Jellicoe, pelas quais recebeu o prêmio Laurel de Ouro como melhor diretor e o Prêmio da Crítica do Círculo de Jornalistas à melhor direção.

Em 1969, participou da montagem de “Antígona”, de Sófocles, para a Companhia da Escola de Teatro da Universidade Católica, entre outras.

“Aprendi o vocabulário do amo, do dono e do patrão, me mataram muitas vezes por levantar a voz, mas do chão me levanto, porque me emprestam as mãos, porque agora não estou sozinho, porque agora somos muitos”

Depois do golpe de Estado que derrocou o governo de Salvador Allende, Víctor Jara, como docente da Universidade Técnica do Chile, foi parte da paralisação realizada por estudantes e trabalhadores. No dia 12 de setembro de 1973, foram detidos pelas forças repressivas da ditadura militar recém estabelecida.

Foi brutalmente torturado e posteriormente assassinado no antigo Estádio Chile. Seu corpo foi encontrado com 44 tiros. Com o retorno da democracia esse estádio foi renomeado Estádio Víctor Jara.

Atualmente, são processados como autores do homicídio Pedro Barrientos Núñez e Hugo Sánchez Marmonti; e como cúmplices Roberto Souper Onfray, Raúl Jofré González, Edwin Dimter Bianchi, Nelson Hasse Mazzei e Luis Bethke Wulf. O ex-tenente Barrientos tem residência nos Estados Unidos, então além dos julgamentos chilenos, se espera a sentença da Corte Federal dos EUA para sua extradição e posterior prisão, já que a corte o reconheceu como responsável do assassinato, mas só ordenou que pagasse 28 milhões de dólares à família Jara.

É uma data, não só para se lembrar de Víctor Jara, mas também para exigir justiça. Para ele e para todos os desaparecidos e desaparecidas pelas ditaduras na América Latina e no mundo.

Traduzido por Lara Zaramella


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