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Vermelho: De MC Daleste a Glória Groove em Lady Leste e a criminalização do funk

Matheus Félix

Vermelho: De MC Daleste a Glória Groove em Lady Leste e a criminalização do funk

Matheus Félix

No último dia 15 de fevereiro Glória Groove lançou seu novo álbum intitulado "Lady Leste", nome em homenagem a MC Daleste, grande nome do funk nacional e que foi morto em 2013. O álbum tem uma inspiração e influência dos bailes funk dos anos 2000, reacende os debates da criminalização do funk.

O novo álbum de estúdio da Drag Queen e cantora Glória Groove intitulado Lady Leste. O nome do álbum faz duas referências, Glória Groove que é de São Paulo e que veio da zona leste da cidade, periferia da cidade e mais especificamente de Vila formosa e também como colocado pela cantora uma homenagem a MC Daleste funkeiro que foi assinado em 2013. O álbum de Glória Groove possui inúmeras faixas, como STM, fogo no barraco, bonekinha e pisando fofo, com fortes influências no funk brasileiro.

O funk surgiu com forte influência da Black Music nos Estados Unidos no final da década de 50 e início da década de 60. Mas foi nos anos 70 que o funk chega no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro com bailes na zona Sul da cidade. Porém nessa época os bailes ainda eram somente a reprodução das músicas gringas ou música de versões brasileiras das músicas gringas.

Foi no final da década de 80 que o produtor musical MC Malboro ao incluir a bateria eletrônica ao ritmo, e trazer letras que dizia da realidade das favelas, lançou o álbum "funk brasil" que consolidou o ritmo nacional, com letras brasileiras e retratando sempre a realidade das periferia. Na virada para os anos 2000 o funk se popularizou por todo o Brasil, principalmente com o funk tamborzão, um dos subgêneros do Funk, que é presente nas músicas da Glória Groove.

Em uma das faixas do álbum Lady Leste, Vermelho, Glória Groove usa como refrão umas das músicas do artista MC Daleste, "mina de vermelho", que foi morto em 2013 enquanto fazia um show em uma festa junina. Nessa faixa, Groove traz uma referência ao paredões de funk e dos bailes funk, espaços onde a juventude periférica ocupa para se divertir e ter seu lazer até os dias de hoje.

Essa faixa reacende uma discussão sobre a criminalização do funk. Esse gênero que nasceu e se popularizou nas periferias dos grandes centros urbanos e é perseguido pelo Estado com uma constante tentativa de criminalização.

Outra forte referência é em alusão a Zona Leste de São Paulo, região com o maior complexo de conjuntos habitacionais da América Larina, que é o epicentro do funk paulistano. Essa região também marcada pela desigualdade urbana e habitacional, é celeiro de grandes nomes do funk nacional que marcaram o desenvolvimento desse ritmo até a atualidade, passando da geração de Daleste até Glória, ambos dessa região.

A perseguição do funk é histórica, e possui seus motivos nos modos mais falaciosos, exigem uma moral aos moldes burgueses dos favelados e da juventude negra, trabalhadora e periférica, que denunciam em suas letras de funk a realidade vivida no cotidiano e que usam da sua criatividade para expressar os males do capitalismo e criar sua arte.

A revolta contra a criminalização do funk deve ser organizada em conjunto com a classe trabalhadora, a única capaz de atuar de forma efetiva contra essa criminalização e todas as opressões. Só assim se pode garantir que a juventude tenha as formas de expressão artística livres de amarras e que os filhos da classe trabalhadora tenham direito a vida e acesso a esse lazer e a essa cultura sem represálias.


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