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POLÍTICA NACIONAL | Unificação de pedidos de impeachment junta PT, PSTU, PSOL e PSL, mas só direita ganha com isso

Cerca de 150 pessoas, de Joice Hasselmann (PSL-SP), a Gleisi Hoffmann (PT) e Marcelo Freixo (PSOL-RJ), realizaram, na última sexta (23), uma Plenária Nacional do Impeachment, para articular uma unificação de impeachment contra Bolsonaro. Uma aposta em uma saída institucional para colocar um militar, general Mourão (PRTB), no comando máximo do país, e por fora de qualquer saída independente dos trabalhadores e dos movimentos sociais.

segunda-feira 26 de abril de 2021 | Edição do dia

Nessa plenária, estavam presentes figuras reacionárias da direita, como os deputados Alexandre Frota (PSDB-SP), Joice Hasselmann (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP), que já apoiaram Bolsonaro, e também a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e a líder da bancada do PSOL na Câmara, a deputada Taliria Petrone (RJ), Marcelo Freixo (PSOL-RJ), Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e Zé Maria (PSTU). Um “megazord” da direita à esquerda por fora de qualquer saída independente dos trabalhadores e dos movimentos sociais, por fora das lutas iniciais que se demonstram no país, como contra o fechamento da LG e sentimento de revolta por vacina para todos.

Para a Carta Capital, Joice Hasselmann destilou demagogia de direita, dizendo que essa unificação em torno do pedido de impeachment tem que ser “suprapartidária” e “supra-ideológica”: “Cada um de nós tem que trabalhar com o seu nicho, mas acima de tudo, mostrar que o movimento é nacional, em defesa do Brasil e da democracia". A qual democracia Joice Hasselmann se refere? Ao regime herdeiro do golpe institucional de 2016, orquestrado pelo STF e tutelado pelos militares, que tiveram que assumir seu filho indesejado da extrema-direita, o atual presidente Jair Bolsonaro? Esse é o mesmo golpe que foi articulado e apoiado por esses setores que estavam na plenária pela unificação do impeachment.

Não podemos esquecer que essa unificação por cima pelo impeachment está atravessada por discordâncias internas em assuntos específicos, dos governadores, como João Doria, do STF, da Câmara e do Senado, que atuam em unidade com os militares, Bolsonaro e Guedes para passarem medidas que afetam as condições de vida e trabalho da maioria da população.

O impeachment de Bolsonaro, além de manter intacto toda herança econômica do golpe, colocaria na cadeira presidencial uma figura tão grotesca quanto o presidente atual. Mourão não somente minimizou o desmatamento e mostrou não dar o menor valor para a vida dos povos indígenas, como teve papel ativo na condução dessas políticas enquanto estava na presidência do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL). Comemorou o golpe militar de 64, do qual nenhum setor do golpismo, como STF, Globo e centrão também não rechaçou. Bolsonaro, Mourão, militares e golpistas de conjunto perseguem hoje os opositores, como Thiago Ávila e Guilherme Boulos, pela via da Lei de Segurança Nacional, herdada da ditadura. Mourão quer reeditar a Reforma da Previdência para atacar ainda mais os trabalhadores e manter intactos os salários e privilégios de militares e políticos.

Vergonhosamente, o vice-presidente do PT, o deputado José Guimarães (PT-CE) reivindicou a "alta representatividade" nesta plenária: “O objetivo é tirar o Bolsonaro. Não vamos confundir as coisas, o que vai acontecer depois é outra história". Guimarães também sinaliza que o PT se prepara para 2022, ignorando conscientemente que fazem parte da direção da maior central sindical do país, a CUT, que deveria estar organizando os trabalhadores em cada local de trabalho, assim como na direção da UNE, junto ao PCdoB, organizar os estudantes em cada local de estudo. Essa afirmação de Guimarães também escancara que o PT se utiliza da tática do impeachment, fazendo coro com a direita e arrastando setores da esquerda consigo, mas na verdade, seu real objetivo não é de se enfrentar realmente com Bolsonaro neste momento, mas desgastá-lo o máximo que puder articulando uma suposta oposição para as eleições de 2022. A linha do impeachment serve para o PT como pura tática eleitoral, não para combater seriamente o Bolsonaro, alimentando os setores da direita, Joice Hasselmann, João Doria, Kim Kataguiri e Alexandre Frota.

Fernanda Melchionna, parlamentar do PSOL-RS, postou nas redes reivindicando essa articulação da plenária, dizendo que os parlamentares têm posição diametralmente opostas, mas que é necessário unidade na ação para derrotar Bolsonaro.

A unidade é necessária, mas não com esses setores, por isso fazemos um chamado a toda a esquerda, aos trabalhadores e a todos os movimentos sociais a não confiar em saídas institucionais que fortalecem os militares na política e não resolvem a crise sanitária e econômica. É equivocado colocar as forças da esquerda, de seus parlamentares nessa aposta apoiada na direita, como Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, que reivindicou Alexandre Frota e Joice Hasselmann nas redes sociais.

Devemos rechaçar a Lei de Segurança Nacional, que agora persegue Guilherme Boulos, mas que é base para muitas perseguições, desde a ditadura e que assume novos contornos no governo Bolsonaro, pela anulação imediata de todos os inquéritos abertos. Fazemos um chamado para que toda a esquerda se organize pela revogação imediata da Lei de Segurança Nacional, essa que já foi usada para prender inclusive estudantes que caracterizaram como genocida a política de Jair Bolsonaro.

Não serão eles a varrer a herança da ditadura e acabar com a crise política, econômica, sanitária e social que vivemos hoje. Somente a classe trabalhadora e os movimentos sociais, organizados em cada local de estudo e trabalho, poderá dar uma saída emergencial para a pandemia e tomar os rumos políticos do país, se apoiando e desenvolvendo as lutas iniciais que ocorrem em nosso país.

E é também nesse sentido que é necessário dizer: não podemos esperar 2022 como o PT propõe. Lula e o PT vieram demonstrando sua total aceitação do regime do golpe, se colocando como a candidatura confiável para 2022 e agora cumpre papel vergonhoso de também lavar a cara das Forças Armadas, como se estes tivessem rompido com Bolsonaro, enquanto comemoram o golpe de 64. Não podemos confiar em nenhum setor que se propõe a gerir a crise, como fazem os governadores do PT e PCdoB nos estados do Nordeste.

Desde já, é necessário organizar as forças dos trabalhadores e da esquerda, em um polo antiburocrático que exija das grandes centrais sindicais, dirigidas por partidos como o PT e pelo PCdoB, que saia da paralisia e batalhe por Fora Bolsonaro, Mourão, militares e golpistas e por uma saída emergencial da pandemia, por vacinas para todos, com a quebra de suas patentes e sigilo, por auxílio emergencial de pelo menos um salário mínimo, por contratações, por abertura de leitos, por liberação remunerada dos setores essenciais e pela reconversão industrial para produzir insumos.

Para de fato questionar não somente Bolsonaro, mas sim todo o regime do golpe, que é tão responsável quanto o governo pela catástrofe atual, é necessário que questionemos não somente os jogadores, mas também as regras do jogo, levantando a bandeira de uma Assembleia Constituinte que fosse livre e soberana, imposta pela luta, e que os trabalhadores possam arrancar suas demandas através da auto-organização, como a anulação de todas as reformas. Rumo a lutar por um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo.




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