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EDITORIAL FAÍSCA UNICAMP | Unicamp: Que Congresso dos Estudantes precisamos frente aos ataques de Bolsonaro?

O XIII CEU, Congresso dos Estudantes da Unicamp, está próximo de ser chamado pelo DCE e CAs da Unicamp. Apesar de não acontecer há 4 anos, pode ser um importante espaço do movimento estudantil frente ao aprofundamento dos ataques de Bolsonaro e servir de reflexão e organização da juventude para construir na Unicamp uma fortaleza contra todo projeto da extrema direita que se coloca contra nossas vidas. Mas para isso, a primeira tarefa que temos, é que o CEU seja construído pela base, a partir de cada curso e instituto e tomado nas mãos pelos estudantes.

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domingo 18 de agosto de 2019 | Edição do dia

Desde a Calourada deste ano, nós da Faísca Unicamp tínhamos uma proposta ao DCE e aos Centros Acadêmicos: organizar um forte congresso dos estudantes desde a base que nos preparasse para os combates decisivos que o primeiro ano de Bolsonaro nos colocava. Mesmo sem o Congresso, que foi negado pelo DCE e colocado para o segundo semestre, os combates vieram e a juventude deu uma enorme demonstração da sua força nos dias 15M, 30M e 14J.

Na Unicamp ocorreram grandes assembleias, paralisações e massivamente os estudantes compuseram os atos colocando toda sua indignação nas ruas. Mas, assim como em todo país, aqui também vimos as assembleias refluindo e os atos ficando menores, como nesse 13A, junto com o fortalecimento dos ataques de Bolsonaro. Começamos as aulas do segundo semestre com a reforma da previdência aprovada na câmara e avançando para o Senado, e junto a ela uma série de avanços autoritários da extrema-direita asquerosa: portaria 666 de Moro, as declarações de Bolsonaro chamando novamente o torturador Ustra de “herói”, o avanço para legalizar o garimpo enquanto questiona o assassinato dos indígenas, a declaração dizendo que vai varrer os comunistas do país, a invasão de policiais em uma reunião de mulheres do PSOL e a tentativa de transferência de Lula, que segue preso arbitrariamente.

Na educação, além dos cortes, surgiu o absurdo projeto "Future-se". Um ataque frontal às universidades em busca de "novos recursos" que pode significar a privatização do ensino público, avançando também com um controle ideológico ainda maior de que conhecimento pode ser produzido. Agora, foi anunciada a MP da “Liberdade Econômica”, uma nova reforma trabalhista, que permite até mesmo que setores do funcionalismo público, como professores e bancários, trabalhem aos sábados e domingos, além de ser um enorme golpe na juventude trabalhadora já precarizada, pois não será mais obrigatória a exigência de carteira de trabalho para menores de idade e tornará desnecessária a apresentação de atestado de saúde e educacionais. O governo quer que morramos trabalhando sem nenhum direito, um grande ataque aos trabalhadores e que atinge em cheio as mulheres, negros e lgbts.

As conclusões desse processo poderiam ser: lutar não vale a pena, ou que nossos inimigos têm uma força que não somos capazes de enfrentar. Nós da juventude Faísca, pelo contrário, acreditamos que é só a força da juventude e dos trabalhadores, que é capaz de enfrentar todo projeto do golpe institucional que veio se colocando no Brasil e que levou ao fortalecimento de Bolsonaro.

Acreditamos que, para entender porque os ataques vieram se fortalecendo mesmo depois das mobilizações é preciso buscar um balanço sobre a estratégia das direções das entidades da juventude e dos trabalhadores, como são a UNE e as centrais sindicais. Para nós, a direção dessas entidades nunca quiseram de fato derrotar a reforma da previdência, mas descomprimir a indignação da juventude e usar nossas energias para servir às suas negociações com Maia, entregando nosso futuro de bandeja aos capitalistas.

O PT e PCdoB que dirigem centrais sindicais como a CUT e CTB e a UNE, atuaram por um lado tentando tornar a proposta da reforma da previdência viável para passar na câmara, com seus governadores apoiando abertamente a reforma e por outro, nas entidades que dirigem, atuaram para tentar controlar os estudantes e trabalhadores, e ir aos poucos diminuindo as mobilizações e desmoralizando os setores que se levantaram contra Bolsonaro. Só isso explica a profunda separação entre as lutas em defesa da educação e contra a reforma da previdência que se expressou desde os chamados dos atos, a traição das centrais na greve geral do dia 14 que não organizaram as paralisações nos locais de trabalho e a falta de um plano de lutas sério, organizado desde a base.

Portanto, é preciso ver o papel que cumpriram PT e PCdoB, frente a toda disposição que a juventude mostrou. Entender o papel dessas direções nos coloca um desafio ainda maior. Justamente porque não confiamos nelas e sabemos da necessidade de superá-las, nós da Faísca estivemos no 57º Conune denunciando a direção da UNE e seu papel divisionista, e abrimos um debate com todos os companheiros que estão à esquerda do PT e PCdoB, como são o PSOL, o PCB e o PCR, pela necessidade de conformar um pólo antiburocrático, que possa reunir forças que seja capaz de exigir um plano de lutas para vencer.

Veja em: Por uma plenária unificada da oposição na UNE

Na Unicamp, a maioria das nossas entidades, DCEs e CAs, não são dirigidos por essas burocracias, mas sim pela oposição de esquerda. Portanto o desafio de construir um pólo que queira superar a estratégia do PT e PCdoB para enfrentar a extrema direita, se coloca como uma tarefa para todos aqueles que não querem mais ver nossas energias desperdiçadas ou servindo as negociatas desses partidos. É com esse ângulo que nós fizemos uma carta ao DCE e ao CACH da Unicamp com objetivo de preparar o dia 13, e que entendemos também a construção do Congresso dos Estudantes da Unicamp (CEU), que desde sua convocação tenha como marca ser antiburocrático, construído pela base e que tenha como tarefa organizar os estudantes para enfrentar o aprofundamento dos ataques de Bolsonaro e também de Dória no Estado de São Paulo.

Defender a autonomia universitária das mãos de Bolsonaro e Dória

No Estado de São Paulo, o governo do PSDB de João Doria e a Assembleia Legislativa querem avançar mais rapidamente em romper a autonomia universitária das estaduais paulistas, dando seguimento ainda mais ofensivo na política de desmonte, precarização e privatização da USP, Unicamp e UNESP. No início do ano, foi aprovada na ALESP a criação de uma CPI das universidades, que pretende colocar as verbas das estaduais ainda mais sob tutela do governo do Estado e de seus interesses de aprofundar a elitização e privatização do ensino superior. Esta CPI é de tamanho autoritarismo que fez até mesmo os reitores das universidades paulistas terem que se pronunciar e mobilizar a burocracia acadêmica em um ato-público de comemoração pelos 30 anos de conquista da autonomia universitária, que pela primeira vez reuniu os Conselhos Universitários das três estaduais paulistas.

Sem dúvidas é preciso defender a autonomia universitária, pois esse ataque é também aos estudantes e trabalhadores, reflexo da ofensiva reacionária que se dá em âmbito nacional. No entanto, é preciso entender que para estar na linha de frente contra esse absurdo, “comemorações” não serão suficientes. É preciso colocar todo o aparato das universidades à serviço de uma mobilização massiva dos estudantes, funcionários e professores. O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, se quiser de fato defender a autonomia universitária, deve liberar das aulas os professores e estudantes, e das atividades os trabalhadores, sem cortes de ponto (o contrário do que fez na última greve cortando salário dos trabalhadores lutadores), e promover debates e a mobilização dos 3 setores, aproveitando a disposição da juventude que protagonizou importantes lutas no último período, só assim podemos impor uma derrota aos deputados reacionários da ALESP.

Pelo contrário, além de não fazer o que de fato pode enfrentar os ataques a autonomia, ainda anunciou que não vai garantir a ampliação da moradia estudantil, conquista dos estudantes da greve histórica que ocorreu em 2016, e que previa moradia de acordo com a demanda necessária, que hoje supera o número de vagas, tornando a moradia superlotada e em condições precárias para que os estudantes possam viver.

Portanto, o CEU, tem o desafio de junto a debater como enfrentar cada ataque de Bolsonaro à previdência, à educação, defender a autonomia universitária nas estaduais paulistas, também debater as atuais demandas e necessidades do movimento estudantil e qual projeto de educação nós queremos. Um projeto que possa ser garantido direito à permanência a todos que precisam, avançando também para radicalização do acesso e por uma universidade que sirva aos interesses dos trabalhadores e da população e não dos grandes empresários. Uma universidade na qual as decisões não sejam tomadas por conselhos universitários antidemocráticos, mas por estudantes, funcionários e professores de acordo com seu peso na realidade.

Congresso dos estudantes da Unicamp: organizar um movimento estudantil antiburocrático e subversivo contra todo projeto da extrema direita

Somente um CEU organizado desde a base pode estar a altura dos desafios que temos nesse momento. Deve ser bem divulgado desde agora, para que cada estudante saiba do processo e possa participar a partir de debates e assembleias em cada curso da Unicamp, no qual possam levar suas ideias para debater o porquê do Congresso e para que esse deve servir. Os representantes de cada curso devem ser eleitos no espaço mais amplo e democrático do movimento estudantil, envolvendo o máximo de estudantes possível,

Nós acreditamos que esse desafio todos os CAs, o DCE e as organizações de esquerda, devem se colocar. Por isso defendendo no último CRU (Conselho de Representante de Unidade) a posição de que os representantes dos cursos deveriam ser eleitos em assembleia, a partir do debate político do Congresso. Uma posição que infelizmente não é compartilhada por organizações que estão a frente do DCE e de alguns CAs na Unicamp, como o Afronte e UJC, que defenderam a não necessidade de assembleias para a escolha dos representantes dos cursos, com a UJC chegando ao absurdo de dizer que foram a quantidade de assembleias que contribuíram para o refluxo das paralisações, livrando a responsabilidade da direção da UNE.

Para superar a política e os métodos das velhas direções do movimento estudantil, é preciso desde agora se colocar ao papel de construir um CEU completamente democrático, em que os estudantes possam tomar nas mãos como uma ferramenta de organização do movimento estudantil para enfrentar os enormes desafios que o momento nos coloca. Um CEU no qual possamos reunir os estudantes, unificando todos aqueles que não aceitam os absurdos de Bolsonaro, para debater, refletir coletivamente e reunir nossas forças para exigir das direções da UNE e das centrais sindicais um verdadeiro plano de lutas.

É preciso ver o CEU como uma oportunidade para que cada estudante possa ser parte ativa de debates profundos, tirando lições dos períodos que passaram e refletindo qual conteúdo devemos levar para enfrentar os desafios que a extrema direita de Bolsonaro nos coloca. Nosso objetivo deve ser retomar um movimento estudantil dos grandes debates de ideias, que retome a história dos que nos precederam, porque não partimos do zero, se inspirando na juventude de maio de 1968 que se aliou aos trabalhadores. Que essas ideias passem da China aos EUA para compreender a crise capitalista atual e suas implicações internacionais. Que possa tirar conclusões das eleições na Argentina, também vendo como Bolsonaro sofre derrotas quando a população argentina rechaça Macri e os planos do capitalismo mundial para os trabalhadores e a juventude. E que possa debater e repudiar o futuro de precarização do trabalho do Rappi, Uber, Ifood que o capitalismo reserva para a juventude trabalhadora, onde no Brasil é de maioria negra.

E nesse espaço, nós da Faísca queremos também deixar nossas contribuições, por um movimento estudantil que frente à continuidade dos cortes (dinheiro que foi para comprar os votos dos deputados a favor da reforma), debata que para garantir as verbas necessárias para uma educação pública, laica e à serviço da classe trabalhadora, é preciso parar de pagar a dívida pública, ilegal, ilegítima e fraudulenta. Que batalhe pelas retomada das atividades culturais no campus, pela ampliação da moradia, lutando contra o future-se e o financiamento privado que quer ter um controle ideológico do que é produzido na universidade. Por um conhecimento que sirva aos trabalhadores e à população, defendendo as cotas e lutando pelo fim do vestibular e pela estatização das universidades privadas.

Queremos também debater a tarefa mais que urgente de retomar as atividades culturais que foram proibidas pelo judiciário golpista e pela reitoria, para dizer que a universidade tem que ser aberta, onde o conhecimento seja produzido livre das amarras do capitalismo, onde a juventude possa se divertir, fazer festas, saraus, debates. Ser ainda mais o movimento estudantil que reivindica tudo aquilo que Bolsonaro, e que os ratos das ditadura que saíram com ele do bueiro, odeiam na juventude.

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