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Um balanço das eleições argentinas: a influência da esquerda na eleição que ocorreu sob a lógica de segundo turno

Fredy Lizarrague

Um balanço das eleições argentinas: a influência da esquerda na eleição que ocorreu sob a lógica de segundo turno

Fredy Lizarrague

Apresentamos aqui um balanço das eleições presidenciais na Argentina, resultado não somente de um debate interno que temos desenvolvido em nosso partido (muito diferente dos partidos do regime cuja militância – esmagadoramente relacionada à administração de cargos estatais ou parlamentares – se inteira das decisões das “conduções” pelos jornais), a partir de um amplo intercâmbio que iniciamos com trabalhadoras e trabalhadores, jovens e simpatizantes da FIT-U (N. T. - Frente de Esquerda e dos Trabalhadores – Unidade, na sigla traduzida do espanhol), cujas opiniões estamos expressando em notas publicadas pelo La Izquierda Diario (ver links ao final deste artigo). A primeira conclusão que vamos desenvolver neste artigo é a de que conseguimos ampliar o auditório, e também respeito e reconhecimento de nossas ideias (influência política), sobretudo na juventude, ainda que a forte polarização tenha resultado em menos votos (se comparamos com os resultados das prévias em agosto e com as eleições presidenciais de 2015).

Uma polarização nascida da negativa das direções sindicais a lutar contra o macrismo

O cenário político cuidadosamente construído pelas direções peronistas e de centro-esquerda dos sindicatos (que ainda que representem uma minoria da classe trabalhadora, são de longe as que contam com maior poder de mobilização) e dos chamados movimentos sociais “los cayetanos”, foi o já famoso “haverá 2019” (N.T - em alusão ao ano de eleições presidenciais na Argentina), com o qual abandonaram toda convocatória de luta minimamente séria a partir das jornadas de dezembro de 2017 contra a reforma da previdência. Estas jornadas provocaram terror ao poder capitalista (não apenas ao governo mas também a oposição peronista) ao abrirem a possibilidade de enfrentar e derrotar com ações das massas nas ruas, os aumentos de preços (tarifaços), demissões e demais ataques. Foram uma espécie de antessala do que agora estamos vendo, em uma escala muito superior, primeiro no Equador e depois no Chile, com verdadeiras jornadas revolucionárias. A situação internacional de revoltas e irrupções crescentes chegou na América Latina no final do processo eleitoral. O desvio da massiva insatisfação operária, juvenil e popular foi imposto previamente, sem contar a “maré verde” pelo direito ao aborto que sacudiu o país em 2018, e várias lutas operárias e populares pontuais e potentes (a última e mais importante vem sendo a de professores e servidores públicos de Chubut, na região da Patagônia, contra um governador apoiador de Alberto Fernández).

Assim, os novos processos internacionais não afetaram o cenário nacional mais que tangencialmente, predominando a política do peronismo de se unificar para acabar com o governo de Macri pela via do voto, enquanto a partir da FIT-U, do sindicalismo combativo e do movimento estudantil e de mulheres de esquerda, sempre promovemos a auto-organização e a luta nos anos prévios, agitando a necessidade de uma paralisação nacional e um plano de luta em direção a uma greve geral até derrotar o governo de Macri. Em meio a uma crise econômica e social profunda, em que trabalhadores e aposentados já acumularam perdas (até outubro) de cerca de 20% de seus ganhos reais e desemprego crescente, a grande burguesia nacional e estrangeira festeja ter alcançado uma mudança “pacífica” de governo, graças aos serviços prestados pelo peronismo e a direção sindical e “social” que é parte da Frente de Todos

Um segundo turno virtual que dá origem a um “bipartidarismo” (de coalizões) senil

Neste marco por si só desfavorável para a esquerda, as forças políticas do regime transformaram as eleições de outubro em uma espécie de segundo turno, uma vez que as PASO [1] funcionaram como um primeiro turno do segundo turno. Quer dizer, em ambas as eleições a grande massa de votantes (de todas as classes) atuou pensando em “quem tem chances de ganhar”, concentrando assim o voto nas duas forças principais. Impuseram o cálculo eleitoral em detrimento dos programas.

O “duplo segundo turno” significou que em agosto a chapa Fernández-Fernández surpreendeu com um triunfo esmagador e inquestionável como “castigo” aos desastrosos anos do governo de Macri, enquanto em outubro foi Macri quem aproveitou a derrota anterior para se recuperar, centralizando todo o voto anti-peronista e anti-kirchnerista que antes haviam se destinado para os candidatos Lavagna, Espert, Gómez Centurión e nas pessoas que não haviam votado nas PASO ou votaram em branco, para coltar como um fator surpresa e terminar com cerca de 40% dos votos. Que outubro foi um verdadeiro segundo turno se confirma pela baixíssima quantidade de votos em branco, somente comparável ao segundo turno de novembro de 2015 (muitíssimo menos que nas eleições gerais de 2011 e 2015). Em milhões de trabalhadores e trabalhadoras, a experiência do segundo turno de 2015, em que Macri saiu ganhador, reforçou o temor de que tal situação fosse se repetir.

O cenário de “unir a direita peronista (governadores, Sergio Massa e os burocratas sindicais, todos colaboracionistas de Macri) com o kirchnerismo para tirar Macri” esperando 4 anos, com as correntes da “esquerda popular” (Patria Grande, PTP/PCR, etc) que foram se somando, não foi algo “dado” e sim construído por essas mesmas forças políticas, ao custo de deixar passar o ajuste e o aprofundamento da crise. O resultado foi que 88% dos votos se concentrou nas duas primeiras forças, recriando um “bipartidarismo” que, na realidade, não é de partidos e sim de coalizões.

Na Frente de Todos, por um lado, estão Cristina Kirchner e seu bastião na província de Buenos Aires (que aportou 1,6 dos 2 milhões de votos de diferença com o macrismo) com Axel Kicillof e prefeitos; por outro lado, os governadores e a burocracia sindical colaboracionistas diretos de Macri; e no meio Alberto Fernández, que ainda está por ver como vai compor seu gabinete. Esta política de coalizões com forças que até ontem eram “inimigas”, o kirchnerismo está levando a outros âmbitos, muitas vezes contra a esquerda [2].

Em Juntos por el Cambio (Juntos pela mudança) está o macrismo por um lado, com um Macri relativamente fortalecido; por outro, o radicalismo, que tem “bastiões” como Mendoza, e a Coalición Cívica em retrocesso. Como ressaltamos em outras notas do La Izquierda Diario, trata-se de uma recomposição senil de um regime bipartidarista (mais precisamente de coalizões), o que é um triunfo burguês. Porém é “senil” porque a crise, a própria forma de “coalizões” e o fato de que essas coalizões se construam em base a “consensos negativos” (quer dizer, “contra a/o ..”), impedem pensar que tenham estabilidade duradoura, ainda mais com a dinâmica internacional de crise dos regimes políticos nos mais diversos países.

Uma “contagem globular de forças” extremamente distorcida

Desde finais do século XIX, diante dos primeiros regimes baseados no sufrágio “universal” (que era somente masculino), Friedrich Engels os denunciava como instrumentos de dominação da burguesia (onde os trabalhadores elegiam seus algozes a cada número de anos) ao mesmo tempo que ressaltava que os partidos socialistas operários poderiam aproveitar as eleições para realizar uma “contagem de forças” e medir a “maturidade” política da classe trabalhadora. Insistia que isso era tudo o que podiam dar esses regimes onde os parlamentos eram decorativos das monarquias ou, em caso de repúblicas, meros “parlatórios” (logo diria Lênin) onde as verdadeiras decisões recaíam nos poderes executivos e nos exércitos. Trótski insistiria que, ainda que fosse a mais democrática das repúblicas burguesas, as e os trabalhadores atuariam de forma “atomizada”, como indivíduos isolados e não de forma permanente, em contraposição à organização a partir dos locais de trabalho, onde se pode debater e resolver cotidianamente, critério que sustentou o sistema dos conselhos (soviets) de trabalhadores e camponeses da Russia revolucionária antes da burocratização stalinista.

Nos países capitalistas, embora aqui não possamos fazer uma história das mais variadas formas de regime, podemos dizer que as classes dominantes introduziram mecanismos que ampliaram o alcance do voto (sobretudo das mulheres), mas cooptaram e corromperam os partidos dos explorados e oprimidos (como parte da degeneração dos partidos políticos em geral), além de limitar de mil e uma maneiras a “expressão da vontade popular” que supostamente representa o sufrágio universal.

As eleições para cargos executivos (sobretudo nos regimes presidencialistas como o nosso) impõem aos votantes pensar em quem administrará o Estado em seus distintos níveis, diferente das eleições parlamentares onde se votam deputados e deputadas com uma certa lógica de “representação”, ainda que em vários países com regimes parlamentaristas existem todo tipo de restrições. O sistema de votação com segundo turno acentua isso ao extremo com a finalidade de alcançar maiorias artificiais e dar assim maior volume político a governos eleitos. A “contagem globular de forças” é distorcida quase por completo nesses casos, enquanto as eleições parlamentares em que não se elegem cargos executivos (como as que ocorrem em nosso país a cada 4 anos) em certa medida podem ser utilizadas para esta contagem, com as agudas limitações impostas pelas campanhas milionária, a “opinião pública” ditada pelas grandes mídias e os monopólios que administram as redes sociais, e o clientelismo.

Os objetivos da esquerda operária e socialista nas eleições e os resultados da FIT-U

Desde o ponto de vista das melhores tradições da esquerda revolucionária, aproveitamos as campanhas eleitorais para chegar à classe trabalhadora em seu conjunto e à juventude, em um especial momento de politização, explicando os principais aspectos de nosso programa e perspectiva. O resultado eleitoral (em votos) depende das circunstâncias políticas, das ilusões geradas, do desenvolvimento da luta de classes, motivo pelo qual não deve ser o critério único. Nosso objetivo é conseguir que existam trabalhadores, trabalhadoras, jovens, que defendam um programa para a luta contra as patronais e o regime quando se criarem as condições para que a classe trabalhadora e os setores oprimidos passem à ação (lembremos que Piñera disse que o Chile era “um oásis” de estabilidade poucos dias antes da irrupção). Por isso, desde o livro “O que fazer?” (1902), Lênin insistia que a verdadeira atividade revolucionária (preparatória) consistia na combinação entre agitação, propaganda e organização, conquistando “tribunos do povo” que teriam um diálogo permanente com setores de massa, tomando as demandas da classe trabalhadora e demais setores oprimidos para mostrar a necessidade de uma luta de conjunto contra o regime, o Estado e seus representantes políticos, assim como contra a classe capitalista.

Portanto, como avaliar a campanha da FIT-U? A forte polarização que apontamos acima explica os magros resultados (em votos) da FIT-U nas primárias (PASO) e, sobretudo, em outubro. Transformadas em uma espécie de segundo turno, as eleições de outubro deformaram completamente a “contagem globular de forças”. Por isso, para avaliar nosso próprio resultado, é necessário levar em conta não apenas os votos mas também que influência política conquistamos ao utilizar a campanha eleitoral como tribuna, questão que se potencializou qualitativamente com os debates presidenciais, que foram centrais, já que tiveram uma audiência em torno de 3 a 3,3 milhões de pessoas. Em que pese as limitações de tempo (tanto nos debates como nos spots de rádio e TV) pudemos propagar nosso programa e perspectiva de forma mais completa e mais clara que nas eleições anteriores e que em toda a ação parlamentar (que é seguida somente por um “círculo vermelho” das pessoas mais politizadas, salvo algumas sessões especiais como as do aborto ou a da reforma da previdência em dezembro de 2017), levando candidatas e candidatos próprios em todo país.

Votos e influência política

Temos a situação (que para alguns poderia parecer paradoxal) de que baixamos os votos na categoria presidencial, enquanto chegamos a quase 800 mil na categoria de deputados nacionais (cerca de 38% mais que o voto presidencial, muito superior a 2011 e 2015, onde foi 17 e 21% respectivamente) e, o mais importante, milhares de relatos e informes de nossa militância por todo o país, assim como por meio das redes sociais, ressaltam que Nicolás del Caño e Myriam Bregman (assim como toda a FIT-U) cresceram em influência política, em especial na juventude, ganhando maior respeito em todo o espectro político da esquerda (incluindo aqueles que, considerando-se de esquerda, votaram sob a lógica do “mal menor”) e inclusive amplos setores de trabalhadores e trabalhadoras votantes da Frente de Todos, do movimento de mulheres, do meio ambiente, da diversidade sexual, compartilhando vários aspectos do programa que levantamos e as denúncias políticas formuladas por Del Caño nos debates.

Por isso, consideramos que ampliamos o auditório, respeito e reconhecimento de nossas ideias (influência política), ainda que a polarização tenha nos levado a ter menos votos. A partir dos debates, em especial do segundo, todos os partidos integrantes da FIT-U recebemos milhares de exemplos de impactos positivos que haviam alcançado. Uma parte dessas pessoas votou na FIT-U em todos os cargos, outra votou em parte dos cargos e outra parte entrou na polarização e não nos deu nenhum voto. Porém apoiam várias das ideias que colocamos. Desde o ponto de vista estratégico da construção de um grande partido revolucionário do qual necessita a classe trabalhadora e a juventude, esta realidade é fundamental.

Uma primeira mostra se expressa nas notas que publicamos nos links ao final deste artigo, com informes de algumas cidades e províncias. Nestas notas, podemos ler comentários como: “a campanha da FIT-U teve mais visibilidade que em 2015”, “Nicolás del Caño foi o único que defendeu nossas bandeiras”, “a esquerda alcançou uma maior influência na juventude”, “agora somos uma opção política, quando há apenas dez anos só um pequeno setor votava na esquerda”, “o debate de Nico Del Caño ajudou a conhecer muito mais gente”, “foi como uma espécie de segundo turno, mas ter ficado como a quarta força a nível nacional é importante, com a crise que continuará, é uma oportunidade para que a esquerda canalize todo esse descontentamento e se mostre como a verdadeira alternativa para sair dessa crise”, “a criatividade e o uso das redes sociais também foram algo que impactou muito na juventude”, “o que parece muito bom da campanha de Nico e a FIT-Unidade é que se semeou a ideia de que os trabalhadores não temos que nos resignar, que nem o macrismo nem o peronismo vão romper com o FMI e que não podemos confiar naqueles que implementam ajustes a nível nacional nem nas províncias, nos que não pagam os professores, naqueles que se juntam com a Igreja para nos negar direitos fundamentais”. E assim, uma grande quantidade de comentários que destacam ainda os eixos contra o FMI, o pagamento da dívida e outros temas da campanha.

Estas demonstrações de apoio são mais valiosas no marco da polarização e da dificuldade que implica a baixa luta de classes, que leva a que a esmagadora maioria da classe trabalhadora tenha votado com ilusões de que o governo de Alberto Fernández e o peronismo vão conseguir sair da crise e recuperar algo do que se perdeu sob o macrismo, mantendo o pagamento da dívida sem atacar os interesses dos grandes empresários, o que leva, evidentemente, a não compartilhar com nossas ideias por considerá-las “utópicas” ou “irrealizáveis”.

Como uma mostra do impacto destacado na juventude, a página de Instagram (rede social privilegiada para os jovens menores de 25 anos) de Nicolás del Caño cresceu por volta de 123% em número de seguidores durante a campanha, dezenas de milhares de jovens, porcentagem de crescimento somente superado (em relação aos demais candidatos presidenciais) por Alberto Fernández, e alcançou 1,03 milhões de reações positivas em suas postagens durante a campanha, com 373 mil somente em outubro; enquanto Myriam Bregman também alcançou o milhão de likes no Instagram, com 2016 mil no último mês de campanha. No Facebook (uma rede mais utilizada por maiores de 25 anos), o alcance das postagens foi de 32,6 milhões para Nico e 11,5 milhões para Myriam. Somente no mês de outubro, Nico alcançou 8 milhões de usuários únicos e Myriam 2,7 milhões (sendo que sua campanha se concentrou na capital federal Buenos Aires). Um dado muito importante é que a dinâmica das redes continuou mesmo após as eleições, tendo o vídeo de balanço da campanha de Nicolás del Caño com quase 12 mil likes em apenas dois dias, e centenas de comentários (que qualquer pessoa pode ver).

O conteúdo da campanha

Antes das primárias, ampliamos a Frente incorporando o MST (Movimento Socialista de Trabalhadores) [3], em base a um programa que atualiza o essencial do programa anterior da FIT, para oferecer um pólo mais forte possível na defesa da independência política dos trabalhadores frente a todas as variantes patronais.

O conteúdo da campanha foi mais de esquerda que todas as campanhas que a FIT fez até agora, já que a realidade política permitiu desenvolver mais abertamente nosso programa. A crise e a denúncia do pacto com o FMI nos levou a levantar sistematicamente e debater na mídia contra o pagamento da dívida e pela estatização do sistema financeiro e energético sob controle dos trabalhadores, ou seja, um programa mais abertamente anticapitalista e anti-imperialista, encabeçado pelo lema que agitamos durante toda a campanha de outubro: “que os capitalistas paguem pela crise, não o povo trabalhador”. As jornadas revolucionárias no Equador e no Chile permitiram introduzir abertamente a questão da luta de classes nos debates, com formas que impactaram milhões, assim como as referências à luta de Chubut.

Abordamos ainda múltiplos temas: a) a incompatibilidade entre pagar a dívida ilegal e ilegítima e satisfazer as demandas de trabalho, salário, saúde e educação; b) a necessidade de atacar aos “ganhadores” capitalistas da crise (bancos, agronegócio, grandes empresários, etc) para que esta seja paga por eles; c) a denúncia do Pacto Social que Alberto Fernández propõe junto a empresários e a burocracia sindical; d) a distribuição de horas de trabalho e um plano de construção de casas, hospitais e escolas sob gestão dos trabalhadores, e salários que cubram as necessidades básicas de uma família, bem como a cota de trabalho para pessoas trans, para acabar com o desemprego; e) acabar com o trabalho precário, em especial da juventude; f) que não existe “rachadura” entre o peronismo e o macrismo no que se refere à megamineração contaminante e o desenvolvimento do fracking (Vaca Muerta); g) a denúncia do aparato repressivo do Estado, herdado da ditadura, e a relação entre setores das cúpulas policiais com o crime organizado (narcotráfico, tráfico de pessoas, etc) em conluio com setores do poder político e judiciário; contra a criminalização da pobreza em contraposição ao discurso de “segurança” de Macri, Espert e Gómez Centurión (defensor dos genocidas) e a “garantia” embelezadora do Estado de Alberto Fernández; h) a denúncia do regime de democracia para ricos e, em contraposição, a proposta de Assembleia Constituinte Livre e Soberana apontando nossa estratégia de luta por um governo dos trabalhadores e o socialismo; i) as bandeiras democráticas que utilizamos contra os setores mais reacionários não apenas do macrismo como também do peronismo, como o aborto legal e todas as demandas do movimento de mulheres, a legalização da maconha, etc. Com vários destes pontos buscamos ampliar nossa influência na juventude, o que vários exemplos indicam que alcançamos.

O impacto dos debates televisivos foi enorme, a nível nacional, sendo um grande exercício de luta política com os representantes das distintas alas da classe dominante, utilizando denúncias, exigências, perguntas e ataques, que permitiram que Nicolás del Caño se destacasse. Organizamos um ato de campanha massivo na 9 de julho (principal avenida de Buenos Aires), cenário que nunca havia sido ocupado pela esquerda, e um combativo encerramento de campanha em frente ao Consulado do Chile em Buenos Aires, adotando como eixo o apoio à rebelião popular do outro lado da Cordilheira dos Andes. No movimento operário fizemos uma intensa campanha de luta política contra a lógica do “mal menor”.

A Frente de Esquerda Unidade segue sendo uma força com representação parlamentar

Evidente que não haver alcançado os votos suficientes para a entrada de Néstor Pitrola e Myriam Bregman para a Câmara de Deputados, salvo a eleição de Alejandrina Barry como deputada, que se soma aos cargos provinciais(equivalente aos aqui chamados deputados estaduais) conquistados nas eleições provinciais prévias em Neuquén e Córdoba, debilita a FIT-U no cenário político nacional. No entanto, a boa eleição de Myriam na CABA (Cidade autônoma de Buenos Aires, a capital federal), que não entrou por uma diferença de apenas 0,5%, e que Nico e Romina Del Plá sigam como deputados federais, assim como legisladoras e legisladores que continuam até 2021 em várias províncias (CABA, Província de Buenos Aires – onde, no próximo mês de março, Claudio Dellecarbonara assumirá no cargo rotativo da FIT-, Jujuy, Mendoza, além das nomeadas Neuquén e Córdoba que tem mandato até 2023), são uma contratendência a isso. A FIT-U segue sendo uma força com representação parlamentar (algo que as extremas-direita de Espert e Gómez Centurión não alcançaram).

A campanha na capital Buenos Aires e outras províncias

A campanha de Myriam na capital federal de Buenos Aires merece uma menção especial. Alcançou uma votação histórica em um cenário onde se somou à polarização nacional a luta encampada pelo peronismo para forçar um segundo turno com Larreta. O PTS e a FIT-U levamos adiante a campanha pelo voto completo, com Nico e Myriam à frente e com um conteúdo anticapitalista e socialista, junto a Gabriel Solano (Partido Obrero), que se destacou no debate de candidatos a governador.

Surgiu também o Comitê de Apoio à candidatura de Myriam que reuniu personalidades intelectuais, artistas e do movimento de mulheres (como Diana Maffía, Claudia Piñeiro,Candelaria Botto, Mercedes D’Alessandro, Flor Alcorta e muitas atrizes e jornalistas) e do movimento LGBT (como Gustavo Pecoraro) que, em sua maioria, defendiam o voto em Myriam para deputada e em Alberto Fernández para presidente. Este comitê ajudou a ganhar um setor dos votantes “progressistas” em torno a um problema vital como o direito ao aborto e toda a política para mulheres e da diversidade sexual. Myriam obteve a votação mais alta na categoria de deputados desde que a FIT existe na capital federal. Uma parte importante são os votos que tiramos – nessa categoria – do kirchnerismo (que tinham uma boa oferta de opções como Pino Solanas e Donda para deputados federais e Ofelia Fernández a deputada estadual), que não teríamos tirado se não tivéssemos a política de disputar nesse setor.

Ter políticas de diálogo com estes setores em torno de pontos concretos e corretos, sempre e quando não implique renunciar a nossos princípios revolucionários, é algo que temos que manter em diversos aspectos de nossa política (além das táticas relacionadas à Frente Única Operária). Isto se coloca seja no movimento de mulheres seja no movimento ambientalista, com o qual a FIT-U avançou muito nesta campanha, com personalidades muito destacadas, como Maristela Svampa, que apoiaram publicamente a FIT-U. Na juventude estudantil a questão do meio-ambiente tem se tornado massiva, como parte do movimento internacional contra as mudanças climáticas.

Na extensa Província de Buenos Aires, também se duplicou a polarização com a luta pelo governo. Ali, tanto Christian Castillo como Néstor Pitrola, assim como demais candidatas e candidatos da FIT-U, percorreram dezenas de cidades, com ampla repercussão nos meios locais. Uma vez que todas as províncias estiveram tomadas pela polarização presidencial, as porcentagens mais altas obtidas pela FIT-U no interior foram nas províncias de Neuquén e Jujuy, em que os dirigentes operários do PTS Raul Godoy e Alejandro Vilca encabeçaram as listas.

A ação política em grande escala que queremos manter

A campanha eleitoral nos apresentou uma luta política a nível nacional e em cada fábrica, empresa, escola, colégio ou faculdade onde atuamos, sobre as perspectivas do país e o programa, contra o governo, a oposição (agora eventual situação) peronista e demais variantes patronais. Utilizamos intensamente as redes sociais, conquistando novos canais de comunicação com dezenas de milhares (em especial jovens), assim como o La Izquierda Diario superou 3 milhões de visitas em outubro.

Desenvolvemos um agitação política na tradição leninista, no sentido que colocamos acima. Foi uma contratendência às pressões permanentes que temos ao atuar em função das lutas sindicais ou das demandas particulares de cada movimento (de mulheres, estudantil, meio ambiente, LGBT, etc) e as eleições de todo tipo em cada estrutura, combinadas com alguma propaganda para convencer para a militância partidária, artesanalmente, apenas aquelas e aqueles mais próximos.

O desafio central que temos em todas as frentes é não retroceder a uma atividade que combine a intervenção nas lutas com a propaganda “um a um”, abandonando a agitação política permanente mediante campanhas e iniciativas políticas nacionais e internacionais, utilizando os meios de diálogo amplo com milhares de simpatizantes, como são o “sistema de mídia” desenvolvido pelo PTS (com o La Izquierda Diario, o Círculo Rojo, a revista e os suplementos dominicais Ideas de Izquierda, os livros e materiais do IPS / CEIP, assim como as redes sociais de Nico, Myriam e demais referentes (em particular no Instagram, Facebook e Twitter) que são canais relativamente independentes. O papel de cada militante nesta construção é fundamental.

Em várias regionais se organizam, além das equipes, mesas de trabalho entre companheiros e companheiras que se ajudam mutuamente a melhorar as relações, utilizar não somente as redes mas também organizar atividades, eventos, comitês, etc., fomentando as iniciativas nacionais ou regionais, como o ato em apoio à rebelião popular no Chile, que ocorreu no último dia 16 de novembro.

O que conquistamos na campanha eleitoral, apesar de todas as dificuldades que apontamos, nos incentiva a manter métodos de ação política “de partido”, não reduzidos a pequenos círculos, mas organizando desde já os companheiros e companheiras que vêm colaborando com o PTS e a FIT-U, mas para somá-los a dialogar com milhares e dar passos na construção do grande partido de trabalhadores socialista que a classe trabalhadora e a juventude necessitam.

Primeiras notas com comentários de simpatizantes

Província de Buenos Aires

Morón/Ituzaingó
Opiniones y debates luego de las elecciones: “El debate de Nico ayudó a que lo conozca mucha más gente”

Zona Norte – Grande Buenos Aires
Zona Norte del GBA: “Una campaña a pulmón del FIT Unidad contra dos frentes que manejan millones”

San Fernando
Elecciones: opiniones de trabajadores de Modelez Victoria (Ex Stani)

Elecciones: opinan obreros de Fate

Campana
Voces de la campaña de la izquierda em Campana

San Miguel
Voces sobre la campaña del FIT-U em San Miguel

Zona Sur – GBA
Secundarios: “Fue una muy buena campaña, muchos más jóvenes hoy conocen al Frente de Izquierda”

Zona sur GBA: “Lo mejor de Nico y el FIT Unidad es que sembró la idea de no resignarse a la miseria que nos quieren imponer”

Universidad de Buenos Aires
Opinan estudiantes de la UBA: “Cuando voté por primera vez la izquierda no tenía la repercusión que tiene ahora”

Córdoba
“Nico fue el único que defendió nuestras banderas”: la juventud de Córdoba opina sobre la campaña de la izquierda

Voces de la juventud precarizada sobre la campaña de la izquierda en Córdoba

Siguen las repercusiones de la campaña de la izquierda en Córdoba

Santa Fé
"La campaña del FIT-U fue excelente, tuvo mas visibilidad que en el 2015"

Chubut
Testimonios desde Chubut: “La izquierda es mucho más fuerte que los votos que sacó”

Mendoza
“Del Caño fue el único que mencionó problemas claves y reales”: opiniones sobre la campaña del FIT en Mendoza

Neuquén
Voces de la juventud trabajadora en Neuquén sobre la campaña del FITU


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FOOTNOTES

[1Eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias: na prática funciona como uma eleição geral em que os partidos e/ou coalizões que obtiverem um mínimo de 1,5% dos votos por categoria para que se habilitem a disputar o pleito definitivo que, por sua vez, prevê a possibilidade de um segundo turno para os cargos executivos

[2Por exemplo, no movimento estudantil universitário, em várias faculdades as correntes kirchneristas (tanto as “oficiais” como as semi oficiais como a “Novo Encontro”) e outras, como o Movimento Evita, se unem com as correntes que eram da “esquerda popular” (Patria Grande), já sem a desculpa de “tirar Macri” mas para “tirar os troskos”, como na Universidade de Buenos Aires e, por sua vez, com correntes diretamente pejotistas (como na Universidade Nacional General Sarmiento, onde encabeça a “frente” a agrupação do prefeito “celeste” (N.T. - cor símbolo dos movimentos contra o direito ao aborto) do Partido Justicialista, Nardini) ou na Psicologia da Universidade Nacional de La Plata. Deixando claro o caráter abertamente reacionário da tão sonhada “unidade”

[3Zamora e o Novo MAS (Movimento ao Socialismo) rechaçaram o chamado que fizemos a partir dos 3 partidos que integram a “velha” FIT. N.T: para mais detalhes ver http://www.laizquierdadiario.com/Reunion-con-el-espacio-de-Zamora-El-Frente-de-Izquierda-va-a-insistir-en-la-unidad
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[FIT-U]

Fredy Lizarrague

Dirigente Nacional do PTS da Argentina
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