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UFABC | UFABC: unificar a luta contra os cortes nas universidades e a reforma da previdência

Com as ameaças da UFABC fechar as portas devido aos cortes nas universidades pelo governo Bolsonaro, é necessário unificar as lutas dos estudantes e dos trabalhadores contras os cortes e a reforma da Previdência. Somente através dessa aliança e mobilização conseguiremos dar uma saída anticapitalista para a crise.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

Jenifer TristanEstudante da UFABC

terça-feira 7 de maio de 2019 | Edição do dia

Nesta sexta-feira (4), a Reitoria da UFABC publicou uma nota de esclarecimento sobre os cortes anunciados pelo governo de Bolsonaro. Nesta nota dizem: "Este bloqueio representa R$ 15,9 milhões dos R$ 53,3 milhões (sendo R$ 51,1 milhões de custeio e R$ 1,9 milhão de investimento) previstos na Lei Orçamentária Anual de 2019, proposta pelo Poder Executivo e aprovada pelo Legislativo, no qual a Universidade baseou o seu planejamento acadêmico e os compromissos financeiros para o ano em vigor". E depois anunciam que "Se confirmada mais essa redução orçamentária, o corte afetará não só a gestão e manutenção das atividades, mas toda a Universidade em seu papel social na formação de profissionais e na produção de ciência e tecnologia".

Isso não é um fato isolado. É a profunda crise da educação brasileira que exige uma resposta de fundo a estes problemas. O DCE convocou uma primeira reunião nesta próxima terça-feira (07), para debater os cortes de verbas e pensar um plano de luta para combater este retrocesso.

Escrevemos este texto buscando dialogar com cada estudante sincero que quer lutar em defesa da educação pública e contra a reforma da previdência, em defesa dos nossos direitos contra os ataques da extrema direita e do mercado financeiro. É preciso se juntar as universidades e institutos federais que irão paralisar junto a categoria de professores em defesa da educação neste dia 15M e lutar em cada universidade pela auto-organização e pela coordenação nacional desta luta com um programa de não pagamento da dívida pública, fim do vestibular e estatização das universidades privadas!

Crises dos fretados, ameaça de restringir o RU e as grades cercando o campus são a realidade do projeto petista de universidade

Se o ataque a Sociologia e Filosofia já era um alerta importante da tentativa de desmonte da educação crítica e do livre pensar, buscando contrapor ao crescimento do interesse por política da juventude brasileira. Agora com o anuncio dos cortes ao ensino superior, ao passo que também se reduziu os gastos com a educação básica, Bolsonaro representa o principal inimigo da educação brasileira.

A reitoria da UFABC em entrevista pra CBN diz acreditar que esse corte não se efetivará. Mas justamente sendo a UFABC, uma das universidades mais atingidas pelo cortes do governo Temer e pela sua localização estratégica próxima a enormes industrias conhecidas pelo seu protagonismo no útimo ascenso operário, a guerra de Bolsonaro contra o movimento estudantil, e o perigo que ele representa se se alia aos trabalhadores e ergue um programa para que os capitalistas paguem pela crise, não há motivo algum para ter ilusões ou qualquer confiança com Bolsonaro.

As medidas de encarar a crise orçamentária já existente foram se apresentando em doses homeopáticas ao longo deste primeiro quadrimestre de 2019. Primeiro, surpreendeu os estudantes com as mudanças para a utilização dos Restaurantes Universitários, tentando restringindo o acesso aos alunos especiais e os que não possuíam carteirinha. O que posteriormente tiveram de retroceder.

Depois, anunciou-se a mudança de empresa via novo edital que reduz as frotas de ônibus e reduz consideravelmente o acesso a universidade, tanto dos estudantes regulares, quanto dos alunos especial, sem mencionar seu aprofundamento do afastamento da população que não poderá mais frequentar a Universidade devida a sua localização. Sem contar as suspeitas de motoristas trabalhando acima da jornada de trabalho permitida por lei, acima de 16 horas, as denuncias de demissões do restaurante universitário de trabalhadoras que não concordavam com a gerencia, algo histórico de uma universidade que demitiu uma trabalhadora terceirizada transgênera em 2015 após ela se recusar a aceitar a proibição de limpar os banheiros femininos e poder ter seu nome social no crachá.

Isso se combina com a construção de grades que cercam todo o campus de São Bernardo, um sinal bem claro aos interesses desta reitoria que sob todo discurso democrático de inclusão - especialmente pela politica de cotas raciais e para população trans - visa restringir o acesso de uma instituição pública.

Aqui sem qualquer ilusão na estrutura de poder da universidade, que há anos, veio mantendo a população trans e o povo pobre fora da universidades através do filtro social do vestibular, nos perguntamos: a que se preparar a reitoria com tais medidas? Até aonde serão capazes de ir em defesa de seus privilégios como burocracia acadêmica?

Os desafios do movimento estudantil na guerra decretada por Bolsonaro a educação

Antes da ingressada de 2019, o movimento estudantil passou pelas eleições de duas importantes entidades: O Diretório Central dos estudantes (DCE) e pelo Centro Acadêmico de Bacharel e Ciências Humanas (CABCH), além da eleição de delegados para o 57° Congresso da União Nacional dos Estudantes, que ocorre em meio a enorme crise orgânica que passa o Brasil, com Lula preso arbitrariamente, o avanço do autoritarismo judiciário e a eleição da presidencia pela extrema direita.

Infelizmente, os processos das eleições não integraram o conjunto dos estudantes, restringido- se as correntes políticas que atuam no movimento estudantil, e sem os estudantes do primeiro ano, fez deste um processo administrativo, sem adentrar os grandes debates nacionais que exigem uma resposta da massa dos estudantes. Queremos dizer, não se aproveitou este processo para politizar e debater os enormes desafios que estão colocados para o movimento estudantil.

O DCE recentemente eleito (Unidade Popular pelo Socialismo / Correnteza) já nesses primeiros meses, se reuniu com a Reitoria para debater "as lutas deste ano" e com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, demonstrando que preferem alianças com setores da burocracia universitária e sindical do que com a base dos estudantes que mostraram enorme disposição de luta e de reflexão nas assembleias em meio as eleições do ano passado, reunindo mais de 300 alunos.

Esse chamado a "unidade ampla" agora terá ainda mais força, mas temos que nos perguntar se é possível defender uma educação crítica, científica, laica e que se coloque a serviço da classe trabalhadora e do povo pobre sem romper com a Reitoria e a burocracia dos Metalúrgicos do ABC que defendem este projeto de universidade "inclusiva", mas que mantém a maioria dos jovens sem acesso ao ensino superior, baseado num ensino conteudista e mercadológico e que produz conhecimento para o mercado e não para resolver os profundos problemas sociais de nosso país.

As eleições para o Congresso Nacional da UNE são uma expressão de como a Oposição de Esquerda se apoia no estatuto anti democrático da entidade dirigida pela UJS - amiga ninguém menos que o Rodrigo Maia - para garantir seus cargos invés de construir uma força material de jovens estudantes e trabalhadores que apresentem um programa autoburocratico para que este congresso seja histórico e organize milhares de estudantes para voltar as universidades e dirigir outras centenas de milhares contra o governo Bolsonaro e suas reformas.

O adiamento do Congresso da UNE para o fim do semestre da maioria das universidades, em meio a uma semana comum (sem feriados) é uma forma de garantir o esvaziamento deste espaço, porque a burocracia da UJS teme a politização crescente e o anseio de retomar uma UNE combativa que está no imaginário de centenas de jovens que dispertam para a vida política para defender a educação. O silêncio da Oposição de Esquerda é outra evidencia da sua adaptação a burocracia.

Por isso, os estudantes tem uma enorme tarefa em se organizar em cada universidade, instituto e escola para lutar contra o corte de verbas e a Reforma da Previdência, combinado a exigir das direções de nossas entidades a coordenação nacional desta luta para que possamos lutar a altura contra Bolsonaro e seus ataques.

Nem morrer sem aposentar. Nem morrer sem estudar. Nem morrer trabalhando: liberdade pra juventude construir o futuro

Por estes motivos, nós do grupo de mulheres Pão e Rosas e da juventude Faísca denunciamos a chantagem de Bolsonaro de cortar verbas das universidades para sob tentativa de impedir que o movimento estudantil se coloque como fator nacional contra a Reforma da Previdência tal esperada pelos capitalistas. Ao mesmo tempo que denunciamos essa manobra de Bolsonaro, também somos críticos as medidas absurdas da reitoria que atinge diretamente os estudantes mais pobres e a comunidade do entorno, assim como abrimos inúmeros debates com as organizações que atuam no movimento estudantil buscando ampliar com o conjunto dos estudantes a reflexão de como podemos tornar o movimento estudantil combativo e aliado a classe trabalhadora.

Na nossa opinião, a luta contra a eleição de Bolsonaro demonstrou as enormes potencialidades que tem o movimento estudantil, assim como o DCE como instrumento de luta e organização dos estudantes pode se tornar o seu oposto, um freio para expandir a mobilização se restringe os espaços de elaboração politica coletiva e centraliza todo o movimento em torno de seus poucos membros.

Nesta mobilização agora, podemos fazer diferente! Não podemos aceitar ter de escolher entre trabalhar, estudar ou aposentar. Precisamos derrotar os planos de Bolsonaro, da Lava Jato e do capital financeiro partindo de exigir primeiramente das entidades como a UNE, UBES e APNG a convocação de assembleias e reuniões em cada universidade, escola e instituto para organizar uma forte paralisação no próximo dia 15, junto a categoria de professores. Podemos atuar em cada reunião, assembleia, espaço de organização batalhando para estimular cada vez mais a participação de novos estudantes, pensando como será a ingressada no próximo quadrimestre, e partir da nossa organização levantar um programa que responda de fundo aos problemas que estão colocados. Para nós do Pão e Rosas, é preciso defender o não pagamento da dívida pública, para defender a educação, combinado ao acesso irrestrito da juventude à educação com o fim do vestibular e a estatização de todo ensino privado sem indenização aos tubarões do ensino. Somente com um programa para que os capitalistas paguem pela crise, é que poderemos contrapor os planos do mercado financeiro, da extrema direita e da Operação Lava Jato, para garantir os nossos interesses.




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