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Eleições EUA | Trump visita Kenosha logo após defender assassino de direita e promete mais fundos a polícia

Na terça-feira, o presidente Trump visitou Kenosha, Wisconsin, um dia depois de defender vigilante de direita que matou dois manifestantes. A viagem serve para animar a sua base de direita antes da eleições e se posicionar diretamente como o candidato da “lei e da ordem”.

sexta-feira 4 de setembro de 2020 | Edição do dia

Na terça-feira a tarde (01), o presidente Trump visitou Kenosha, Wisconsin, o lugar dos recentes levantes contra o violento ataque policial sobre Jacob Blake. Durante a visita, Trump condenou os manifestantes como “terroristas internos” enquanto prometia mais fundos para a polícia.

No dia anterior havia defendido o atirador de extrema-direita de 17 anos que matou dois manifestantes na cidade. Sua retórica e comportamento são uma tentativa de animar sua base racista e se posicionar como o candidato da “lei e da ordem” em meio a crescente tensão dos Estados Unidos. As ações são perigosas e quase garantia de novas escaladas. Qualquer escalada desse governo devem ser combatidas por um movimento dos grupos oprimidos em conjunto com a classe trabalhadora.

Em 23 de Agosto, policiais alvejaram Jacob Blake, homem negro de 29 anos, sete vezes pelas costas enquanto entrava em seu carro. Desde então, Kenosha tem sido o epicentro das manifestações, com a polícia e grupos de direita reprimindo os manifestantes anti-racistas.

Duas noites depois que a polícia disparou contra Blake, Kyle Rittenhouse, um atirador de extrema-direita de 17 anos, matou dois manifestantes com um rifle semiautomático. Rittenhouse, fan de Trump e do Blue Lives Matter, havia viajado 40 minutos desde o estado vizinho, Illinois, para patrulhar as ruas de Kenosha e “proteger” a propriedade privada desse estado. As imagens de vídeo da noite mostram a polícia interagindo com direitistas armados, incluindo Rittenhouse, os servindo água e os agradecendo por estarem ali.

Após matar dois manifestantes, Rittenhouse andou até a polícia com as mão para o alto. Apesar dos manifestantes gritarem que ele acabou de disparar em alguém, não foi detido; regressou a sua casa na noite e apenas foi preso no dia seguinte. O tratamento da polícia a Rittenhouse é o contraste com o hediondo tratamento que deram a Jacob Blake, a quem dispararam sem sequer perguntar enquanto abria as portas de seu carro.

Também é assustador quando se compara com os assassinatos de Breonna Taylor, George Floyd, Tatiana Jefferson, Philando Castile, Tamir Rice e outras inumeráveis vítimas da brutalidade policial. Contudo, as ações da polícia são condizentes com seu papel como o braço armado e repressivo do Estado, cujo propósito é proteger o capital e a propriedade privada.

Os policiais também têm uma larga e intima história com os movimentos de milícia de direita, com quem trabalham, muitas vezes, lado a lado.

Em uma conferência de imprensa na segunda-feira, foi perguntado a Trump se condenaria Rittenhouse, porém ele se negou a fazer. Em contrapartida, deu a entender, contradizendo as evidências do vídeo, que Rittenhouse estava atuando em defesa própria respondendo:

“Estava tratando de se distanciar deles, eu suponho, assim parece. Eu suponho que estava em um grande problema, provavelmente o teriam matado”

Trump também negou-se a condenar a polícia que disparou contra Jacob Blake. Em uma entrevista com uma apresentadora da Fox News, Laura Ingraham, disse que os agentes da polícia se “afogam” quando estão “sob cerco” e comparou o tiroteio com perder “um putt de três pontos” em um torneio de golf.

Logo no final de semana, Trump decidiu visitar Kenosha na terça-feira como parte de uma visita “unificadora”. O governador de Wisconsin, Tony Evers, e o prefeito de Kenosha, John Antaramian ambos democratas, pediram a Donald Trump que não realizasse a vista e escreveram em uma carta que uma visita “dificultaria nossa cura”.

Trump rechaçou suas preocupações e, ao contrário, argumentou que uma visita a Kenosha poderia “ aumentar o entusiasmo e … o amor e o respeito por nosso país.” Ele não tinha planos para visitar a família de Jacob Blake. O pai de Blake, Jacob Blake Sr. disse “Isto não é política. Se trata da vida de meu filho”, e disse que não teria nenhum interesse de falar com o presidente.

Em Kenosha, Trump inspecionou as áreas danificadas por propriedades junto com o procurador-geral Barr, enquanto uma mescla de simpatizantes e manifestantes contrários a Trump se juntavam nas ruas. Após percurso pelos bairros afetados, participou de uma mesa redonda com empresários e policiais em que condenou os manifestantes e disse:

“Kenosha tem sido devastadas por distúrbios contra a polícia e contra os estadunidenses … Estes não são atos de protestos pacíficos se não um terror doméstico”

Trump prometeu 1 milhão de dólares para o departamento de polícia de Kenosha, 4 milhões para ajudar a reconstruir negócios e 42 milhões para policiais e fiscais em todo Wisconsin. Em particular, Trump não mencionou Jacob Blake uma única vez. Ele crê que sua visita foi útil “porque me interessa a lei e a ordem.”

Biden afirmou corretamente que Trump estava “acenando para a violência” através de seus comentários e sua visita a cidade; sem dúvida, Biden está tratando de superar Trump em sua retórica a favor da “lei e ordem” pro-policial. Em resposta ao levante de Kenosha, Biden diz:

“os distúrbios não são protestos. Roubar não é protestar. Acender fogo não é protestar. Nada disto é protestar, é ilegalidade, simples e claramente, e aqueles que o fazem deveriam ser processados… Pareço um socialista radical com uma fraqueza por desordeiros?”

Biden planeja emitir um anúncio comercial condenando os protestos. Do mesmo modo, os governadores e prefeitos democratas tem utilizado da mesma tática repressiva que defender Trump. O prefeito de Kenosha inclusive chamou vários membros da Guarda Nacional em resposta aos protestos. Nem democratas, nem republicanos são amigos dos manifestantes ou dos movimentos contra o racismo e a brutalidade policial.

A visita de Trump a Kenosha e a defesa tanto de Rittenhouse como da polícia de Kenosha servem para vários propósitos. Wisconsin é um estado chave para as eleições presidenciais de novembro: em 2016, Trump ganhou no estado por uma margem menor de um por cento contra Hillary Clinton. A visita pode ser vista como uma tentativa de fazer um ponto de apoio no estado. Com isso, a visita também serviu para fortalecer a posição de Trump como o candidato da “lei e da ordem” de maneira ampla. No contexto dos protestos em Kenosha, assim com em Portland, Trump espera obter o apoio de votantes indecisos que temem o que está acontecendo nas cidades dos Estados Unidos.

Finalmente, sua visita e declarações servem para animar sua base de direita e fomentar o vigilantismo. Da mesma forma que seus comentários anteriores incendiaram, como “Quando começa a pilhagem, começa o tiroteio”, está tratando de reanimar sua base racista e de extrema-direita em meio a uma disputa cada vez mais apertada com Joe Biden. Ao defender Rittenhouse, negar-se a mencionar Jacob Blake e visitar Kenosha para prometer apoio a policia e denunciar os danos as propriedades, Trump está assinando sua lealdade com o braço racista e repressivo do Estado e com os atiradores de direita.

Esta campanha de polarização é perigosa e provavelmente conduzirá a mais violência e repressão. A classe trabalhadora e os grupos oprimidos devem se unir em um movimento poderoso e devem resistir a cooptação do Partido Democrata.




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