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CORRIDA PELA CASA BRANCA | Trump e a extorsão republicana

A foto de unidade que muitos republicanos se esforçaram em mostrar depois da convenção, apesar de Donald Trump, durou menos que um piscar de olhos. Houve o retorno das divisões, se é que alguma vez haviam desaparecido.

Celeste MurilloArgentina | @rompe_teclas

sábado 6 de agosto de 2016 | Edição do dia

O estardalhaço no partido republicano voltou a aparecer. Há poucas semanas da nomeação oficial de sua fórmula presidencial, Donald Trump voltou a provocar a revolta republicana, quando se referiu com desprezo a família de um soldado americano muçulmano.

John McCain, ex-candidato presidencial e ex-veterano da Guerra do Vietnam foi o primeiro a romper com as declarações do milionário. As críticas de McCain se somaram as do presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, John Kasich e Jeb Bush, ambos pré-candidatos nas primárias republicanos deste ano. Nem se quer seu fiel escudeiro Chris Christie acompanhou Trump nessa aventura.

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Poucos dias depois, Donald Trump anunciou que apoiaria o candidato que desafia Paul Ryan, líder do bloco republicano no Congresso, nas eleições legislativas para representar seu estado, Wisconsin. Ryan, que em mais de uma ocasião se distanciou das declarações do magnata e tardou a dar seu apoio oficial a candidatura foi, no entanto, uma figura chave para a realização da convenção republicana.

Mas o companheiro da fórmula de Trump, Mike Pence apoiou decididamente Paul Ryan, “Acredito que precisamos de Paul Ryan na liderança do Congresso dos Estados Unidos para reconstruir nosso exercito, fortalecer nossa economia e garantir que neste país tenhamos o tipo de liderança que fará o EUA [uma nação] grande outra vez”.

A divisão da fórmula presidencial é apenas uma imagem do filme de terror que vive o partido republicano. Se o establishment do partido havia decidido firmar posição na convenção, ainda que o candidato não convencesse, hoje não é capaz de conter a sangria dos legisladores, empresários e assessores que declararam publicamente que irão votar pela candidata democrata, Hillary Clinton.

Estou no partido de outro candidato, mas votarei em você

Sem dúvida, esta é uma boa semana para aqueles que haviam impulsionado, sem sucesso, o movimento chamado “Never trump” (Nunca Trump). Embora, foram descartadas todas as possíveis alternativas de uma candidatura de Trump, a sangria de legisladores não para desde o escândalo pelas declarações do magnata sobre a família do soldado muçulmano.

O deputado republicano pelo estado de Nova Iorque, Richard Hanna anunciou que votaria em Hillary, já outros, como Adam Kinzinger, deputado pelo estado de Illinois e que tentará a reeleição não se animou a tanto, mas garantiu que não votaria em Trump. Mesmo antes da convenção republicana, importantes figuras haviam garantido o não-voto ao magnata, como Mitt Romney (ex-candidato presidencial em 2012) e Jeb Bush (ex-governador da Florida e ex-candidato presidencial em 2016).

A coisa não é tão diferente no mundo empresarial. Na terça-feira (02/08), a CEO da Hewllet Packard, Meg Whitman, que é uma renomada coletora de fundos para os republicanos, apoiou oficialmente a candidata Hillary Clinton. Já na convenção democrata, o ex-prefeito e milionário Nova-Iorquino, Michael Bloomberg fez um chamado ao Wall Street para apoiar a candidatura de Hillary. Whitman afirmou que “A demagogia de Donald Trump tem prejudicado o tecido de nosso caráter nacional”.

Menos notável, mas central no partido, uma das renuncias mais chamativas e preocupantes para o partido é a de Sally Bradshaw, assessora de Jeb Bush e autora de um documento chave, a chamada “autopsia” do partido depois da derrota de 2012 (no qual se analisam as mudanças demográficas e os desafios republicanos). Bradshaw saiu do partido para ser uma “independente” e disse que votará em Hillary Clinton e que encerrou sua carreira na Florida. Em uma entrevista à CNN, Bradshaw disse que o partido republicano se encontrava “em uma encruzilhada e que havia nomeado um racista, misógino e fascista”.

Uma das vozes críticas que mais alarmam o establishment é a do ex-presidente George W. Bush que, em um evento de campanha do senador Rob Portman em Cincinnati (Ohio) falou sobre os perigos de uma política “isolacionista, nativista e protecionista”. Embora, não tenha se referido diretamente a Trump, Bush filho foi um dos grandes que estiverem ausentes na convenção republicana e que havia transcendido sua preocupação de ter se convertido em “o último presidente republicano”.

A preocupação volta às fileiras republicanas e aqueles que vociferavam desde o início contra Trump sentem que esse é seu momento especial. É o caso do conservador, Bill Kristol, diretor da revista Weekly Standard, que se regozija com a crise interna renovada, e a vê como uma confirmação das críticas feitas por muitos setores, incluindo ele próprio. Em um tuíte, Kristol fala sobre como isso impactará na carreira presidencial, “A propósito e, nem é preciso dizer que, um ‘solavanco de Clinton’ é uma implosão de Trump”.

Ainda faltando muitos dias para novembro, o certo é que essa sangria republicana beneficia a candidatura de Hillary Clinton (que continua enfrentando seus próprios fantasmas). Fato que está explícito nas pesquisas mais recentes onde Clinton aparece 10 pontos acima de Donald Trump, o que ainda reflete o tradicional “solavanco” posterior a convenção (pelo impacto dos discursos e a mensagem política concentrados), mas que poderia adiantar a crise da candidatura de Trump. Será esse o último episódio da crise do bipartidarismo norte-americano? Nada parece garantir esse fato, mas sim o contrário.

Tradução: Cassius Vinicius




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