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Trabalhadores do Hospital Universitário da UERJ ainda não foram vacinados e não sabem quando serão

Isa SantosAssistente social e residente no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ

domingo 31 de janeiro de 2021 | Edição do dia

Considerado um dos hospitais mais importantes do Rio de Janeiro, o Hospital Universitário Pedro Ernesto, é o hospital universitário da UERJ e junto a Policlínica Piquet Carneiro foram, e seguem sendo, fundamentais para salvar vidas. No estado do Rio o complexo de saúde da UERJ é uma das referências em saúde e não foi diferente durante a pandemia da COVID-19. O HUPE, é um hospital de alta complexidade, referência para todo o Estado e uma unidade de formação de profissionais, sendo vários dos seus trabalhadores residentes, internos e estagiários dos diversos campos da saúde. Seus trabalhadores, residentes, efetivos e terceirizados, ainda não foram vacinados e não sabem quando serão.

Nas redes do próprio hospital é possível ver centenas de comentários de profissionais exigindo serem vacinados e questionando a falta de transparência das listas e critérios de vacinação. São trabalhadores que desde março estão altamente expostos a infecção por COVID, que não tiveram direito a quarentena mas ao contrário, colocaram seus corpos para salvar vidas. Durante estes 10 meses de pandemia trabalharam intensamente, com medo de se contaminarem e de contaminar seus familiares, muitos com vínculos de trabalhos precários como é o caso dos funcionários terceirizados. Entre os residentes, que são parte significativa da mão de obra do hospital, há denúncias de falta de cobertura do INSS mesmo para os que já têm mais de 1 ano de trabalho.

Em postagem na página da UERJ trabalhadores do hospital questionam a não vacinação dos que estão na linha de frente.

A reitoria de Ricardo Lodi, através das redes sociais e dos canais oficiais da universidade, anunciou festivamente o início da vacinação. É comum ver expressões como emoção, solidariedade e esperança nas publicações sobre a vacinação no hospital. Mas a realidade é que as já insuficientes 850 doses, divididas entre o HUPE e PPC, ainda tiveram doses desviadas, critérios questionáveis de direcionamento e todo tipo de absurdos que pode permitir um processo tão pouco transparente quanto o que vem se dando na vacinação do hospital.

O HUPE, as unidades de saúde da UERJ de conjunto, que não foram diferentes de outros locais de saúde durante essa pandemia, há denúncias de falta de EPI’s para trabalhadores efetivos, residentes, terceirizados, mais uma vez segue o mesmo caminho de outras unidades onde se vê denúncias de “fura-filas”. Residentes que são, muitas das vezes, os principais profissionais em contatos com os pacientes ficaram de fora da vacinação. Alguns tomaram doses que “sobraram” enquanto grupos de residentes de setores inteiros não sabem se e quando tomarão.

Há denúncias de que a diretoria do hospital estaria dando preferência a "compadres" políticos do hospital, mesmo de pessoas que estariam fora das listas de preferências para a vacina nesse primeiro momento. Uma realidade vivenciada Brasil a fora como vimos a poucos dias com casos como as filhas de um empresário em Manaus e nomeações relâmpago para serem vacinados. De uma hora para a outra resolvem ampliar os quadros de funcionários para vacinação quando no dia a dia do enfrentamento a pandemia faltam profissionais e as jornadas são longas e exaustivas.

Na última quarta-feira, dia 27, ocorreu um ato em frente ao Hospital para cobrar e exigir vacinação imediata para todos os funcionários. Havia uma faixa também pedindo a exoneração de Edmar Santos. O ex-diretor do HUPE é acusado de envolvimento em escândalos de corrupção na saúde pelos quais é investigado também Witzel, ex-governador do estado, e de acordo com denúncias ainda recebe remuneração pelo seu cargo no hospital. Isa Santos que é residente no hospital e Sara Fernandes que é estudante de Serviço Social falaram ao Esquerda Diário.

A reitoria, que em suas notas coloca sem um pingo de questionamento os planos do Ministério da Saúde controlado por Pazuello o militar escolhido de Bolsonaro para o cargo, e que ao mesmo tempo permite, participa e é conivente com os absurdos da vacinação no HUPE mostra mais uma vez que não esta do lado dos trabalhadores da saúde. Garante seus próprios interesses, faz propaganda de que a UERJ será Drive-tour de vacinação, enquanto residentes e outros profissionais procuram saber se poderão ser vacinados em outras unidades.

A universidade, e a reitoria, são responsáveis por cada trabalhador que ainda não foi vacinado. É urgente que a universidade investigue cada uma das denúncias de irregularidades na vacinação. A organização da vacinação no HUPE precisa ser feita com seus trabalhadores efetivamente no controle, com transparência para que todo trabalhador possa não só saber quando será vacinado mas também estar no controle e na fiscalização.

As 100 mil doses já aplicadas no Rio são uma gota d’água num oceano populacional de mais de 6,5 milhões de habitantes e num número extremamente insuficiente para a vacinação de todos os profissionais da linha de frente. É preciso exigir vacinação para todos, a começar para os profissionais da saúde e idosos, mas também é preciso exigir que os trabalhadores do SUS controlem todo o processo de vacinação. Só assim será possível ter a transparência nesse processo, ter uma organização e um plano científico de vacinação que seja realmente eficaz.

Escândalos como esse, de profissionais que não foram vacinados, fura filas e também as recentes denúncias de que doses teriam de ser descartadas feita por funcionários de outras unidades mostram o quanto é desastrosa a organização da vacinação no país. Uma imunização universal da população, que se dê da forma mais rápida e eficaz só será possível por meio de um plano científico controlado pelos trabalhadores da saúde em aliança com outros trabalhadores. Uma aliança assim poderia garantir não só a fabricação e distribuição de vacinas, mas também de elementos emergenciais que ainda se fazem necessários frente a pandemia como contratação de trabalhadores para dar conta da demanda, reabertura de leitos, garantias de EPI’s, etc.

Para alcançar todas essas medidas, ações como a paralisação pela vacinação organizada para o próximo dia 01/no Hospital Universitário da USP precisam ser organizadas em todas as unidades de saúde. Os sindicatos e entidades dos trabalhadores precisam ser um ponto de organização para todos os trabalhadores dá saúde, organizando a luta por vacinação para todos.




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