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TRÊS SEMANAS DE MOBILIZAÇÃO | Trabalhadores agrícolas radicalizam protestos na Índia

Completando 19 dias de luta, os trabalhadores agrícolas da Índia radicalizam os bloqueios e iniciam uma greve de fome contra as leis neoliberais do governo de Modi.

segunda-feira 14 de dezembro de 2020 | Edição do dia

Após 19 dias de protestos, nesta segunda-feira os camponeses indianos intensificaram as mobilizações com novos bloqueios de rodovias com carretas e breves greves de fome para mostrar o rechaço contra as três leis que liberalizam o setor agrícola.

“Essas leis não só prejudicam os agricultores, também colocarão em perigo a segurança alimentar da nação”, twittou a All India Kisan Sabha (AIKS), uma das principais organizações camponesas opostas à reforma.

O governo do nacionalista Narendra Modi busca passar uma série de reformas neoliberais para destruir o atual sistema agrícola, permitindo a abertura e entrada das grandes transnacionais do agronegócio no país. Isso gerou amplo descontentamento entre os trabalhadores agrícolas e seus familiares. Cerca de 500 milhões de pessoas trabalham direta ou indiretamente no setor agrícola e 50% da população de 1,3 bilhão de habitantes depende desse setor para sobreviver.

Após convocar à intensificação das mobilizações para pressionar o Governo nesta segunda, principalmente com os caminhões bloqueando os acessos à capital, a AIKS insistiu que, apesar das diferentes rodadas de negociação com o Executivo, “a revogação dessas leis é a única forma de suspender os protestos”.

As leis buscam desregulamentar os preços e a quantidade vendida de certos cultivos e permitem negociar a comercialização dos produtos com empresas, ao invés de vender nos atacados regulamentados pelo governo, como até agora.

Veja também: Sindicatos de agricultores na Índia convocam greve nacional

O governo insiste que as leis beneficiam os agricultores, e o ministro da Agricultura, Narendra Singh Tomar, disse que “As intenções do governo indiano são boas (...) Estamos tratando de explicar aos sindicatos de agricultores, de fazê-los entenderem. Queremos manter uma discussão cláusula por cláusula com eles. Se expressarem suas opiniões sobre nossas propostas, poderemos avançar”. Mas milhões de trabalhadores agrícolas não concordam com isso, e todas as negociações com o governo fracassaram. O pacote de leis neoliberais retira dos camponeses o valor mínimo assegurado pelo Estado e o valor de seus produtos passaria a ser determinado pela especulação das empresas agroindustriais, que pretendem arruinar a economia dos pequenos camponeses para tomarem terras e cultivos. Dezenas de milhares de agricultores já possuem dívidas que não podem pagar e veem os bancos ficarem com suas terras e casas, o que tem provocado um salto inédito nos suicídios por parte de agricultores desesperados.

Grandes protestos voltaram a se repetir nesta segunda em vários acessos de Nova Delhi, onde os agricultores estão há 19 dias acampados, com momentos de tensão entre os manifestantes e a polícia, que buscou impedir os bloqueios de rodovias.

A repressão policial contra os agricultores em protesto na rodovia Delhi-Jaipur, na periferia de Delhi, prendeu por volta de 20 camponeses, que foram liberados uma hora depois em meio à mobilização de centenas de agricultores no local onde estavam detidos.

O governo de Modi desenvolve um forte perfil nacionalista, xenófobo e racista contra muçulmanos, paquistaneses e, aproveitando o confronto com a China, para buscar soldar uma unidade nacional reacionária para avançar em ataques contra os trabalhadores. Modi aproveitou a pandemia para levar adiante os planos de liberalização do campo e leis trabalhistas de caráter neoliberal. O coronavírus, por sua vez, golpeou fortemente a Índia, tornando-a o segundo país a nível mundial em quantidade de casos e de mortes.

As novas leis trabalhistas, que buscam flexibilizar ao extremo o trabalho e reduzir os salários, já provocaram uma greve que teve participação de mais de 200 milhões de pessoas.

Veja também: Índia: centenas de milhões de trabalhadores participam de greve geral

Apesar da política nacionalista com que o governo buscou se blindar de todo tipo de críticas, os manifestantes receberam apoio popular e de diversas celebridades, que se expressaram recorrentemente nas redes sociais. Também houve enorme repúdio à declaração de membros do partido do governo que caracterizaram os camponeses como terroristas e traidores.

As explosivas manifestações dos trabalhadores urbanos e rurais mostram as dificuldades do governo indiano para avançar em um ataque frontal contra as conquistas históricas da classe operária e dos trabalhadores agrícolas na Índia.




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