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ENTREVISTA | Trabalhador da Volkswagen fala sobre PPE e critica atuação do sindicato

sexta-feira 24 de julho de 2015 | 00:05

1. O que você acha do PPE (Programa de Proteção ao Emprego) projeto esse, elaborado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista (CUT) e Governo Dilma como medida anticrise?

Tenho duas visões, uma boa e uma ruim. A boa porque acredito que vai “segurar” os empregos, trouxe esperança pra nós e a ruim porque vai reduzir os salários e isso não é bom. Além de que os funcionários tem que fazer “cursinhos” obrigatórios muito distante de suas casas para atender à empresa. Mas espero que seja efetiva a segurança de emprego, acredito que poderia ter ajuda de outras filiais (filiais Volkswagen em outros países), pois em tempos de crise na Europa, quem sustentou os empregos dos funcionários de lá, foram nós aqui do Brasil, quando estávamos em época de muitas vendas de automóveis.

2. Como está o clima no chão de fábrica após a aprovação do PPE? Qual a posição dos operários ante essa MP (Medida Provisória)?
Tem preocupação por alguns dos trabalhadores pelo fato de quem está em atividade na empresa ter a redução do salário. Os que estão de lay-off tem uma visão positiva, pois estão na esperança de retornar ao trabalho antes do fim do lay-off. As pessoas se acomodam e aceitam tudo. Se as pessoas tivessem acesso às informações com certeza poderiam ter uma outra visão com relação ao PPE.

3. Como funciona o sindicato dentro da fábrica? Você tem fácil acesso ao aparelho sindical?
O sindicato se localiza na mesma área que a minha, porém distante. Então, um funcionário que trabalha na produção, ou tem uq eligar ou mandar msg, pra se comunicar com eles. Não temos fácil acesso...para falar com eles é necessário ir até eles, às vezes não tem ninguém na sala deles, ou demoram pra atender por telefone. Se ocorre algum problema, não temos acesso imediato ao sindicato. Um exemplo, para ir ao banheiro, tenho que avisar pra vir outro funcionário me substituir , temos que avisar o encarregado...e não podemos sair do posto de trabalho para ir ao banheiro, se não sou advertido por isso. Veja, se mal há tempo para ir ao banheiro, não sobra tempo para ir até a sala do sindicato.

Acredito, que essa falta de acesso também acontece pelo fato de alguns dos trabalhadores de dentro do sindicato, utilizar o tempo para fazer faculdade...ficam estudando na sala deles, ao invés de atuar mais no sindicato.

4. O sindicato atende suas demandas?
Atende em partes, depende da situação, algumas mais complexas demoram a ser resolvidas. Acredito que com a proximidade da comissão maior nas linhas de produção, haveria menos afrontamento da chefia em cima dos companheiros. Tem pessoas que são movidas de um posto de trabalho a outro sem serem notificadas com antecedência, de um horário a outro sem a própria vontade, isso acaba desmotivando um pouco os trabalhadores que tem essa realidade, não somente na Volkswagen, mas em outras montadoras também.

Faço centenas de carros por dia, não ganho nada além do meu salário, tem funcionários que trabalham por 30 anos e ganham caneta, no máximo um relógio como brinde, isso é brincadeira. Cortaram muito benefícios, poucos funcionários questionam, mas todos estão cientes das muitas reduções de custos que a empresa vem fazendo a algum tempo.

5. Como você acha que de fato deve atuar o sindicato?
Tem muita gente de influência no sindicato, que se estivesse na linha de produção teria outra atuação, estão fora da realidade. O cenário mudaria bastante, quando acaba água no bebedouro...até resolver demora muito. Parou-se a linha uma ou duas vezes por isso..mas já teve vezes, de ter vazamento e todo mundo ter que continuar trabalhando (mesmo sem água), o importante é não parar a linha. Se uma pessoa passa mal, não podemos socorrer... não podemos parar! Tem setor que o funcionário está exposto a riscos de acidentes e as vezes por falta de mão de obra o líder pede para determinados funcionários "segurar" o serviço, tendo assim que realizar duas funções e podem se machucar mais facilmente. Os caras do sindicato deveriam trabalhar na linha, vivenciar junto com os trabalhadores, estar mais próximo de nós. Temos que lutar juntos. Se o pessoal do sindicato estivesse na linha veriam tudo isso acontecer e se resolveria em menos tempo. Se não for satisfatória essa situação atual, os trabalhadores deveriam fazer uma “chapa B”, Acredito que com lutas e conscientização os trabalhadores podem mudar. A maioria está acomodada com a situação e os donos ganham tanto dinheiro que não dão valor ao trabalhador, só visam lucros e lucros.

6. Você acha que os trabalhadores não lutam por terem receio de serem mandados embora?
Sim, concordo plenamente. O comodismo acontece por terem a garantia do emprego, o funcionário tem muito medo de se pronunciar ou reclamar de algo. Ficam recuados, acredito que pode ter conciliação com a empresa e ficam acomodados (garantem seus empregos), acredito que tenha acordos por baixo dos panos tanto deles como do sindicato, que vivem conversando com pessoal do RH. E o histórico de lutas que se propaga no chão de fábrica é de que quem luta é demitido depois. Por isso que as pessoas têm medo de lutar.




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