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MULHER E FUTEBOL | Torcedoras corinthianas relatam brutal repressão e abusos da PM do Rio no Maracanã

Domingo passado vimos novamente cenas brutais da repressão policial no futebol. Desta vez, com o requinte de crueldade de dar inveja aos policiais assassinos do massacre do Carandiru – não a tôa a imagem que simbolizou a humilhação dos torcedores foi relembrada como semelhante por tantos comentários nas redes sociais – o que se viu foi total desrespeito aos mínimos direitos civis que qualquer pessoa tem, ainda mais quando se paga para um evento público.

quinta-feira 27 de outubro de 2016 | Edição do dia

O Corinthians se posicionou contra a repressão mas também vários outros setores ligados à mídias alternativas e independentes repudiaram a ação policial, destoando da ideia antipopular que a grande mídia vende como seu projeto o fim das torcidas organizadas em nome de um ‘futebol moderno’ – porém corrupto – padrão Fifa, ou seja, extremamente excludente, elitista e contra o povo nos estádios.

E não foram poucos os relatos que circularam nas redes de dezenas de torcedores que foram ao jogo mas sequer estavam próximos aos confrontos, porém pagaram com agressões e humilhação da PM. Até o fechamento desta nota, 31 torcedores ainda seguiam presos em Bangu com seus direitos de defesa nitidamente cerceados.

O Esquerda Diário abre aqui espaço para as torcedoras que lá estavam no Maracanã e que também sofreram com os reais abusos humilhantes da PM do Rio. O relato vem de integrantes do ‘Movimento Toda Poderosa Corinthiana”, conhecidas por lutarem nos estádios e no cotidiano contra o machismo, o sexismo, o elitismo e tantas outras opressões que sofrem as mulheres que gostam de futebol.

“O ocorrido no domingo aos torcedores corinthianos, após o jogo no Maracanã, entre Flamengo e Corinthians, beira a barbárie.

Como corinthianas e, acima de tudo, como cidadãs, repudiamos qualquer ato de abuso de poder e covardia, como esses praticados ontem.

Como demonstração do nosso repúdio, abrimos espaço para o relato dessa torcedora que, por segurança, resguardamos o nome:

"O problema de segurança do Maracanã começou já do lado de fora do estádio. Não havia um caminho “menos ruim” para a torcida visitante. Se você quiser chegar ao setor sul, tem que passar no meio de um monte de torcedores flamenguistas. O carro ficou numa rua qualquer e fomos andando até o estádio, sem nenhum tipo de segurança.

Em frente à entrada visitante, há um pequeno espaço destinado a nós delimitado por grades de ferro. Logo na chegada já percebemos um tratamento ríspido por parte dos policiais, que gritavam “andem logo!” “Vocês estão querendo apanhar?”, etc. Mas até aí ok, ninguém é obrigado a ser simpático com ninguém. Vários torcedores flamenguistas passavam por ali, paravam e ficavam gritando e xingando. Em momento algum eles foram expulsos, repreendidos ou apressados pelos PM’s presentes.

Cerca de 30 minutos antes do jogo começou a confusão perto dos banheiros. Recebemos a seguinte informação de uma funcionária do estádio: “os torcedores do flamengo estão tentando invadir aqui, estão quebrando a grade, fiquem dentro do banheiro feminino”. Logo vimos que polícia estava “afugentando” os torcedores Corinthianos com cassetetes e spray de pimenta.

Então vimos a moça que trabalhava no estádio passando mal por causa do spray, quando saímos para tentar ajudá-la os policiais atiraram mais spray de pimenta em nós. Quando a situação acalmou, subimos para assistir ao jogo. Só alegria. Ou não…

Logo no primeiro tempo já começou uma confusão generalizada no estádio entre torcedores e policiais. Várias mulheres e crianças descendo os degraus às pressas procurando um lugar menos perigoso. A briga durou um bom tempo com o jogo rolando em campo.

No intervalo do jogo, estávamos na fila para comprar água e a situação se repetiu. Do nada, a PM chegou já dando golpes de cassetete em quem via pela frente, as pessoas começaram a correr, eu caí e me bateram quando ainda estava no chão. Meu amigo veio me ajudar a levantar e bateram nele também. Começaram a gritar para as mulheres irem para um canto, da seguinte forma “MULHERES, PARA O CANTO ALI, QUEM FICAR AQUI VAI APANHAR JUNTO”. Ali junto com a gente também tinham alguns poucos homens que foram “selecionados” pelos PMs através de suas aparências: homens mais “bem vestidos”, que não tinha cara de pobre ou de maloqueiro, ou seja, quem não tinha cara de corinthiano podia ficar conosco. O resto ia apanhar, sem negociação.

Logo que o jogo acabou anunciaram que os visitantes teriam que esperar para deixar o estádio. Ok. Tentamos ir ao banheiro, a PM não estava deixando ninguém passar, um deles disse que se quiséssemos ir, teríamos que usar o banheiro masculino. Passado mais um tempo fomos informados que quem não estivesse de caravana seria liberado. Descemos. Pela primeira vez, um dos policiais da GEPE explicou a situação para nós: Disse que três policiais tinham sido agredidos por torcedores e que, por isso, eles estavam liberando um por um para comparar com as imagens da briga e tentar identificar todos os envolvidos. Foi o primeiro policial que nos tratou com algum respeito por lá.

Aos poucos começaram a liberar as “famílias”, mulheres, crianças. Alguns amigos estavam presos lá em cima e já não estavam liberando ninguém para descer ou subir. E foi aí que a pior parte começou. Aquelas cenas lamentáveis que todos viram na TV. Parecia o Carandiru (e, segundo relatos, um dos policiais gritou em alto e bom som que essa era a intenção). Outros conhecidos também contaram que os policiais estavam escolhendo pessoas aleatoriamente e agredindo.

Várias mulheres estavam nervosas e chorando por não receberem nenhum tipo de informação sobre seus maridos ou amigos que estavam presos na parte de cima do estádio. Em um dos momentos inclusive vi um policial gritando e intimidando uma das moças que pediu por informações.

Outra preocupação dos policiais foi com vídeos. Vi algumas vezes os policiais ameaçarem pessoas que estavam com celular na mão. Mas afinal, se eles só estavam realizando o trabalho deles de forma justa e correta, qual o problema em filmar?

Não adianta querer justificar o injustificável. Se dez ou vinte mereceram, se isso ou aquilo... O fato é que houve abuso sim! Teve muita gente inocente sendo ofendida, agredida, exposta, humilhada, TORTURADA. E isso não é de hoje. Quem frequenta jogos e caravanas sabe o quanto o tratamento com torcidas visitantes é ridículo, principalmente se tratando de Corinthians. Mas nesse nível de ontem, eu nunca tinha visto. Fiquei chocada e entristecida. A repressão, a opressão e o fascismo estão sendo aplaudidos. E o futebol morreu mais um pouco ontem."

Na foto, um dos hematomas deixados pela ação da Polícia Militar do Rio de Janeiro na torcedora.

Movimento Toda Poderosa Corinthiana

#MTPC #Corinthians #ContraOFutebolModerno
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