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Luta de classes no Peru | Terceiro dia de greve e bloqueios de trabalhadores rurais no Peru

Apesar da repressão brutal e da tentativa de despejo sofrida pelos trabalhadores agrícolas no Peru na terça-feira, a greve e o bloqueio de estradas continuam nesta quarta-feira na Rodovia Pan-Americana Sul e Norte.

quinta-feira 24 de dezembro de 2020 | Edição do dia

Nesta quarta-feira acontece o terceiro dia de greve e bloqueios de trabalhadores agrícolas no Peru. A exigência de um novo marco legal para o setor e a luta por seus direitos vêm depois da vitória conquistada há algumas semanas, quando o Congresso foi obrigado a revogar a lei agrícola neoliberal herdada de Fujimori.

Os parlamentares revogaram este regulamento por maioria após vários dias de protestos e uma forte repressão que ceifou a vida de um manifestante. Na ocasião se prometeram trabalhar em uma nova legislação que favoreça os trabalhadores, porém poucos dias após o fim do ano, não há uma nova regulamentação, o que desencadeou o atual conflito que esta quarta-feira entra em seu terceiro dia.

O Governo de Francisco Sagasti permitiu esta terça-feira o destacamento de cerca de 2.000 polícias com o objetivo de expulsar os manifestantes das vias. No entanto, apesar da repressão brutal, os trabalhadores resistiram à tentativa de despejo e nesta quarta-feira continuam com a greve e bloqueios de estradas.

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Mais funcionários da Polícia Nacional chegaram à Rodovia Pan-Americana Sul e Norte para desbloquear as duas rotas. De acordo com o Ministro do Interior, cerca de 1.400 militares permanecem na área para tentar desbloquear as estradas.
Durante a manhã desta quarta-feira, os manifestantes bloquearam novamente o trecho do quilômetro 273 da Rodovia Pan-Americana do Sul na área do bairro Chino em Ica. Situação semelhante foi observada na ponte Viru em La Libertad no quilômetro 514 da Panamericana Norte.

O Congresso junto dos empresários agroexportadores

Como os trabalhadores conseguiram a revogação da lei de promoção agrária, o Congresso, por meio de sua presidente Mirtha Vásquez (da centro-esquerda do Frente Amplio), convocou a comissão multipartidária encarregada de preparar o novo texto sobre o regime de trabalho agrário, a ninguém menos que os empresários agrupados em torno da CONFIEP (Confederação Nacional de Instituições Empresariais Privadas) e da Associação de Grêmios de Produtores Agrícolas do Peru (AGAP). São as câmaras de agroexportação, que têm interesses diametralmente opostos aos dos trabalhadores. Esses foram justamente os setores que se beneficiaram com o boom da agroexportação e com a legislação agrícola anterior.

Por isso, o projeto de lei que tramita no Congresso mantém privilégios dos empresários agroexportadores e da CONFIEP, como benefícios fiscais e salário fixo equivalente à “Remuneração Mínima de Vida”, sem possibilidade de aumento progressivo, conforme exigido pelos trabalhadores do campo.

O Peru vive uma forte crise política após a destituição de Martin Vizcarra envolvido em escândalos de corrupção, a breve presidência de Manuel Merino (que teve que renunciar em meio a protestos massivos) e o atual e fraco governo do centro-direita Francisco Sagasti, eleito em Congresso por uma coalizão que chega à centro-esquerda Frente Amplio. Mas o Congresso peruano que elegeu Sagasti e que hoje negocia a lei agrária é uma das instituições mais desacreditadas do país. É em meio a essa crise que ocorre a greve agrária, primeiro conflito operário de magnitude que Sagasti teve que enfrentar. Foi um primeiro "turno" que terminou em vitória quando a lei Fujimori foi derrotada.

Nessas horas, o segundo "round" dessa luta está se desenvolvendo. Até ao momento, as principais lideranças sindicais, a começar pela CGTP, deixaram os trabalhadores agrícolas isolados e não apelaram a qualquer ação nacional em seu apoio.

O resultado dessa luta depende muito do que pode acontecer no país no próximo
período.

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