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CORONAVÍRUS E LUTA DE CLASSES | "Temos fome" gritam manifestantes na Colômbia

A agitação e as manifestações na Colômbia continuam após a quarentena decretada pelo governo de Duque sem nenhuma medida social elementar para sobreviver nela.

terça-feira 21 de abril de 2020 | Edição do dia

O presidente direitista Iván Dique anunciou nesta segunda-feira que a quarentena para combater o coronavírus será prolongada até o próximo 11 de maio e que incluirá entre suas exceções os setores da construção e manufatureiro, no que diz respeito a uma quarentena que começou no último dia 25 de março e que já havia sido estendida até o 27 de abril. Isso tudo em um país onde metade do emprego é informal e que está impedido de realizar suas atividades para garantir seu sustento diário pela quarentena.

Duque também afirmou que “para proteger a vida e a saúde” dos colombianos é vital “manter este princípio de isolamento até o final da emergência sanitária”, mas não diz absolutamente nada dos milhares de pobres e trabalhadores informais que somam milhões na Colômbia que passam pela quarentena sem a possibilidade de obter os alimentos essenciais, o que transforma suas palavras em puro cinismo. Pelo contrário, por que acontecem as ondas de manifestações que se intensificam e se estendem nos diferente pontos do país, que são respondidas com repressão?

Nos grandes bairros populares e que concentram milhões de pobres em diferentes cidades do país foi encontrada também uma nova modalidade de manifestação: colocar um pano vermelho nas fachadas das casas “para informar que temos fome, que passamos muita necessidade”, como dizem seus habitantes.

Um pano vermelho como um grito por ajuda que se repete nas casas de muitíssimos lugares, principalmente nas moradias informais, e que começa a se expandir pelo país como novo símbolo de protesto contra a pobreza que vive que o sétimo país mais desigual do mundo, de acordo com o ranking estabelecido pelo Banco Mundial.
Não existem nenhum dia no qual não aconteça um panelaço em algum lugar, fechamento de rua ou qualquer tipo de manifestação para expressar o descontentamento social com cartazes com mensagens como: “Estão matando o povo de fome”. “As promessas passam e a fome fica”, e que começaram a acontecer dias antes do começo da quarentena.

São na maioria trabalhadores informais e dos grandes bairros pobres das principais cidades do país, mas também das zonas rurais. É um quadro que se desenvolve em diferentes bairros da cidade de Medellín, Bogotá, Cali e Pereira.
Nos últimos dias, em diferentes lugares de Bogotá é pedida ajuda para
as pessoas com baixos recursos que não tem como se manter frente à quarentena ocasionada pelo coronavírus. ASsim, neste domingo na Cidade Bolívar, no sul de Bogotá, apesar da quarentena social vigente em meio à emergência sanitária provocada pelo COVID-19, foram feitas manifestações.

Foram os moradores do bairro Arborizadora Alta que bloquearam vias e reteram alguns veículos, entre eles quatro ônibus, um transporte de combustível e vários caminhões. Ainda que os manifestantes tenham expressado que não vandalizaram nenhum veículo, o Esquadrão Móvil Anti-distúrbios (Esmad) se fez presente para reprimir, atirando contra os grupos de moradores que se manifestavam.

Também foram registrado incidentes nas proximidades do Palácio de Nariño, incluída a queima de pneus de carro e concentrações de manifestações nesse mesmo dia. Os manifestantes exigem que as autoridades os atendam para responder à crise. Denunciam que suas comunidades não estão recebendo as ajudas que o governo diz que disponibiliza. Cenas similares são observadas em muitas cidades do país desde que começou a quarentena.

O quadro da Colômbia é dramático, com milhões de trabalhadores com contratos precários, sem registro e informais, que não tem nenhum tipo de renda. A Colômbia tem uma população de 49,07 milhões de acordo com os últimos dados do Banco Mundial em 2017, deste total, 22,4 milhões tem os requisitos para trabalhar. No entanto, apenas 7 milhões tem um emprego formal e pelo menos outros 2 milhões alimentam os índices de desemprego.

E ainda pior, de acordo com o Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE), a informalidade trabalhista alcançou 62% em agosto. Os índices são ainda mais dramáticos no campo, onde a cifra é de 84%. Ou seja, pelo menos 14 milhões de pessoas correm o risco de passar fome porque não tem como se abastecer. Este é o quadro do plano de fundo das manifestações que se generalizaram no país após as medidas governamentais de quarentena.

Neste terrível contexto, desde o começo da quarentena acontecem demissões massivas de trabalhadores no setor petroleiro, na refinaria de Barrancabermeja, na de Cartagena e de alguns campos petroleiros no Magdalena Medio e no sul do país. “São entre seis e sete mil demissões” denunciam dirigentes sindicais do principal sindicato petroleiro União Sindical Operária. No Meta, o sindicato também denuncia a demissão de pelo menos 5 mil trabalhadores da indústria petroleira. Também acontecem demissões massivas em empresas do Avianda, nas cadeias e hoteis, nos call centers e outras indústrias e prestadores de serviços.

O clamor do povo começa a ser sentido nas ruas, onde a fome castiga os mais pobres. Um clamor que já se havia feito sentir no último dia 21 de novembro, mostrando a indignação do povo colombiano contra as políticas do Governo de Duque.

Os sindicatos tem que levantar as demandas mais elementares para responder à situação, começando pela reivindicação de nenhuma demissão, salário equivalente à cesta familiar (NdT: equivalente ao salário mínimo no DIEESE no Brasil), salário de quarentena equivalente à cesta familiar para todas e todos aqueles que tenham que cumprir o isolamento social obrigatório e não tenham uma licença de trabalho remunerada, estendido a todos os trabalhadores informais e precarizados, assim como um subsídio de quarentena equivalente à cesta familiar para todos os e as chefes do lar das famílias pobres. Medidas como parte de um programa operário e popular para enfrentar à crise.rte de un programa de emergencia obrero y popular para hacerle frente a la crisis.

Publicado originalmente em espanhol no La Izquierda Diario, integrante da Rede Internacional La Izquierda Diario, assim como o Esquerda Diário.




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