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ANÁLISE | Temer: uma derrota e uma vitória, e a contagem diária dos votos

No vai-e-vem das volúveis vontades de senhores e senhoras de fazenda, indústria e a soldo dos empresários no Congresso Nacional podemos medir, distorcidamente, a correlação de forças no país. Temer e os ataques capitalistas estão flanqueada por dois fatos de signos diferentes: a paralisação nacional de 28 de Abril e qual será o andamento da Lava Jato.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quarta-feira 19 de abril de 2017 | Edição do dia

O parlamento nunca é uma expressão direta da vontade popular. Mas os deputados, com ajuda da Globo, das igrejas, dos caixas um ou dois da Odebrecht e todas empresas da Lava Jato, e dos muitos outros esquemas que o mesmo judiciário guarda em segredo (como da Alstom, Siemens, entre outras), precisam se eleger. Eles têm um compromisso com seus “patrocinadores” de aprovar ataques capitalistas inauditos: reforma trabalhista, reforma da previdência, terceirização irrestrita. As pesquisas de opinião apontam para um lado. Os capitalistas e cargos no governo Temer para outro.

Enquanto isso aguarda-se o tête-à-tête de Lula e Moro no dia 03 com novas pesquisas eleitorais dando vitória a Lula se as eleições fossem hoje. Soma-se a isso boatos de “acordão” de Lula, Temer e FHC em prol do regime, e setores importantes do establishment político, como o ex-presidente do STF e ex-ministro de Lula, Nelson Jobim saindo em sua defesa. 2018 paira como um terceiro elemento junto à Lava Jato e a entrada em cena da classe trabalhadora, cruzando tudo na conjuntura, mas os contornos eleitorais futuros dependem em última instância dos ataques. O que serão as eleições futuras? O que acontecerá com Temer, tudo se altera com a aprovação ou não da reforma da Previdência. Nessa análise pretendemos alcançar somente até aí.

A votação da terceirização ampla geral e irrestrita (PL4302) realizada no dia 22/03 foi menor do que o previsto. Temer conquistou 231 votos. Isso acendeu luzes de alerta no planalto e na elite brasileira.

O Estadão criou um placar da Reforma da Previdência, a justiça liberou Temer para gastar centenas de milhões de reais com propaganda mentirosa para iludir o povo e ganhar votos nas redações de jornais, também a soldo. Com o número de votos obtidos na PL4302 não seria possível aprovar a mãe de todas as bombas: a reforma da previdência.

Ontem Temer sofreu nova derrota, o requerimento de aprovação de urgência da reforma trabalhista foi derrotado. Temer tinha conquistado 230 votos. O dólar subiu hoje. A Bovespa operou apreensiva. Tal como seu antigo aliado Eduardo Cunha, Temer e Rodrigo Maia insistiram na votação, mandaram reunir a base aliada, e ter uma “DR”. E hoje conseguiram emplacar o resultado esperado, obtiveram 287 votos, o PPS e PSB que antes tinham sufragado contra (com votos e ausências) lhe deram uma ajuda.

Essa votação deve dar alguma calmaria no mercado financeiro amanhã. Mas ainda jaz aquém do necessário para a reforma da previdência que é matéria constitucional, exige 308 votos favoráveis. Dia a dia o placar do jornal da família Mesquita mostra quem mudou de voto. Mesmo com as mudanças feitas pelo relator da reforma, ela ainda aparenta ter minoria na casa de Cunha.

O motivo de existência do governo Temer são esses ataques. Hipotecou seu futuro político, ignorando suas ridículas cifras de aprovação nesses ataques. Perder a votação não só altera os rumos de seu governo, como colocaria a classe trabalhadora em melhores condições frente a cada capitalista. Daí a contagem diária de votos, os intermináveis cafés da manhã e jantares para abrir o apetite dos deputados e senadores, daí os incansáveis editoriais argumentando a urgência das medidas etc.

Temer e os capitalistas terão que encontrar cargos, verbas, benesses ou maiores ameaças para mudar o quadro. Aí entra o papel contraditório da Lava Jato na conjuntura.

Se, no plano mais de longo prazo, tanto o STF, quanto a mídia e toda a operação tem um acordo comum em rifar todas as “global players” brasileiras e mudar a relação do Brasil no mundo, quebrando a Petrobras, ajudando a entrega do pré-sal, quebrando as empreiteiras para abrir espaço a empreiteiras estrangeiras, investigando só essa ala da elite pátria (no mesmo mês que se reinvestiga o “lulista” BTG-Pactual salvam o Itaú de Marina e do golpe institucional de uma dívida de R$ 25 bilhões), não há, ainda um pleno acordo para avançar a punir todos partidos e ir num caminho que trilhou as “mãos limpas” italiana, que rifou todos os principais partidos do regime.

Até aqui a Lava Jato foi ganhando corda e perdendo corda do STF e da mídia conforme sua utilidade para os ajustes. A “república de Curitiba” não, ela parece dar passos mais decididos em oferecer uma “renovação” do regime para oferecer um Doria ou Dallagnol à presidência, escolher quem e quais partidos ela dará um selo de “probo” e a quem não, tal como faz com as empresas ignorando quais investigar. Com o poder de parar os andamentos da operação e do que vai ao ar na TV, fomos tendo movimentos contraditórios: Renan vacilava em votar a PEC 55 era atacado, ajudava nisso era blindado. Cunha ajudava o impeachment, blindado. Votado o impeachment, rifado.

Carmen Lucia marcou para maio o julgamento de uma ação que pode acabar, parcialmente, com o foro privilegiado deixando no ar mais uma ameaça a parte dos parlamentares citados nas delações, aqueles que são acusados de crimes quando não tinham foro privilegiado poderiam ter seus casos indo parar nas mãos de um Moro ou de um Bretas do Rio. Estaria o STF dando um sinal que pode fortalecer um plano “mãos limpas”? Veremos com maior clareza nesse julgamento, e como se comportará a ala “independente” de Carmen Lucia, Rosa Weber e outros, face a Gilmar Mendes e Moraes que não devem poupar esforços em prol da casta política, como sempre fazem, em especial com seus comensais tucanos e peemedebistas.

Com suas eleições e futuros políticos em jogo os parlamentares calculam como devem votar nas reformas de Temer. Que essa votação só ocorra em maio, e uma cobertura midiática mais seletiva, por exemplo os grandes jornais citam hoje dos mil e um tucanos citados só o secundário Bruno Araújo, de Pernambuco, que é ministro de Temer mas não rifa o partido em sua base fundamental, o sudeste.

Do ponto de vista da cobertura midiática parece que estaríamos voltando a um modo “estejam avisados” e votem nos ataques que queremos. Isso será suficiente?

O que fazem deputados deletados e que se vendem por emendas e cargos, o que fazem juízes do STF em suas criativas jurisprudências ao sabor da política e seus interesses de classe e casta da toga, o que desejam as redações do Globo, Veja, Folha, Estado, etc, tudo isso escapa a ação dos trabalhadores. A contundência do dia 28 não. Isso servirá, no mínimo de aviso aos deputados. De aviso aos empresários, para Temer. Deixaram de Temer a classe trabalhadora depois de tanta conciliação garantidas por Lula, pelo PT e pela CUT, é preciso novamente ensina-los.

Partindo dessa luta defensiva que nos está imposta, em situação de tamanha crise política no país, pode-se juntar forças para partir para ofensiva, que a luta contra a perda de direitos seja um passo – firme – contra a escravidão assalariada, contra o capitalismo.




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