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ARTICULAÇÕES DE TEMER | Temer corre para lotear o governo golpista e garantir base

O primeiro passo para a consolidação do governo golpista foi garantir o apoio necessário na Câmara para pode aprovar o pedido de impeachment contra Dilma. Para isso, PT e os golpistas disputaram voto a voto com promessas de cargos e negociatas espúrias. Agora, Temer tem o desafio de acomodar em seu governo as ambições de todos os fisiologistas de plantão que precisa ter como apoiadores em seu futuro governo.

sábado 7 de maio de 2016 | Edição do dia

Em diversos artigos desenvolvemos a ideia de que o PT foi o responsável por abrir espaço e solidificar os nomes e partidos que articularam o golpe institucional que agora está tirando de cena o projeto de conciliação de classes petista. O projeto de uma “governabilidade” baseada em alianças com os setores mais reacionários da política brasileira, como Maluf, Collor, Sarney, a bancada evangélica, os ruralistas, a burguesia industrial, cobraram o seu preço de Dilma, que assistiu sem sequer tentar protagonizar uma luta séria contra o golpe, um a um esses partidos de direita saírem de sua suposta “base aliada” para debandar para o lado dos golpistas.

Agora, o sujo toma-lá-dá-cá da política burguesa vem puxar o pé de Temer às vésperas da consolidação do golpe no Senado, quando o vice-presidente golpista precisa conseguir compor a sua própria governabilidade para poder provar, nos 180 dias de afastamento de Dilma, que é uma figura capaz de unificar em torno de si os diversos setores da política burguesa para levar adiante a agenda de ataques profundos aos trabalhadores e setores oprimidos, tentando salvar os lucros e interesses imperialistas em meio à crise econômica no país.

Primeiro passo: limpar a sujeira para dar uma “cara ética” ao golpe

Foi com alívio que Temer e seus aliados próximos receberam a interferência do STF no parlamento para efetuar a cassação que Eduardo Cunha conseguiu impedir por meses a fio com suas manobras no Conselho de Ética da Câmara.

Cunha, com sua impopularidade recorde e as escandalosas acusações de corrupção que o levaram à condição de réu, evidenciava ainda mais a podridão reacionária do golpe, e desmascarava por demais o seu discurso hipócrita e moralista de que o impeachment seria “contra a corrupção” e “para limpar a política brasileira”. O “Fora Cunha” já era tão popular que até setores pró-golpe aderiam a essa palavra de ordem. A sua cassação pelo STF foi um alívio para Temer, que pôde assim se livrar de um aliado inconveniente com o qual teria que negociar. Um problema a menos para tentar se legitimar diante de sua “não-eleição” (e que nunca ocorreria, já que as pesquisas lhe davam 1% de intenção de votos se as eleições presidenciais fossem hoje) e diante do fato de que irá inevitavelmente compor a base de seu governo, tal como fizeram Dilma e Lula, com o que há de mais podre, reacionário e corrupto na política brasileira. Para o STF foi também muito bom, pois reforçam seu papel de árbitro diante dos impasses políticos da crise.

Triste papel cumpre, mais uma vez, um setor da esquerda, dessa vez com destaque para o Juntos, juventude ligada ao MES, corrente interna do PSOL à qual pertence Luciana Genro. Em um cartaz que divulgaram no Facebook diziam que foi “pelas mãos da juventude” que caiu Cunha. Reforçam assim, mais uma vez, a ilusão em instituições reacionárias como o STF e em suas manobras, e continuam fazendo o papel de “esquerda lava-jato”, com a linha política de exigir que sejam esses privilegiados os que se responsabilizem por punir seus próprios crimes e acabar com seus próprios privilégios. E dizem que suas manobras são “vitórias da juventude” ou dos trabalhadores…

A dificuldade em lotear o executivo

Temer já enfrente dificuldades com o PSD, partido de Kassab, que ocupava o Ministério das Cidades no governo Dilma e, no último minuto, aderiu publicamente ao lado dos golpistas orientando sua bancada a votar do lado vencedor. Um deputado próximo a Kassab afirmou: “Todos os partidos que orientaram a bancada a votar pelo impeachment aumentarão a participação na Esplanada. Menos o PSD”. Esse, aliás, está fora do páreo para garantir sua boquinha no Ministério das Cidades, um dos mais cobiçados por seu alto orçamento e por permitir uma grande visibilidade política, já que está a frente de medidas de grande popularidade, como o “Minha Casa, Minha Vida”. O ministério já tem destino quase certo: O PSDB, por meio de Bruno Araújo. Para o PSD foi oferecido o Ministério das Comunicações, o que não agradou o apetite de poder e verbas para poder saquear.

Com a bancada na Câmara do PMDB, partido do próprio Temer, partido que por si só é um dos maiores rejunte de fisiologistas de carreira nesse país, as coisas também não vão bem. Com Dilma, o partido ocupava o Ministério da Saúde com Marcelo Castro; agora, estão sendo oferecidas três pastas menores: Esportes, Desenvolvimento Social e Secretaria de Portos. A expressão usada por um deputado do partido, golpista de primeira hora, é bastante emblemática dos princípios nobres que orientam os parlamentares na “limpeza moral” da política brasileira: disse que os três cargos são a “xepa” do feirão ministerial.

Outra exigência dos que estão adquirindo os lotes do executivo de Temer em troca de seu apoio à governabilidade é que os ministérios sejam entregues de “porteira fechada”, no seu jargão de mercenários engravatados. Isso significa que os partidos que tomarem o feudo ministerial tem controle completo, podendo indicar os cargos de segundo e terceiro escalão na pasta, garantindo um rol muito maior de apadrinhamentos, nepotismos, tráfico de influência, corrupção e possibilidades de desvios de verba. Essa exigência é parte das demandas do PSD, PP, PMDB, PR, PSB e PTB.

Para além do loteamento dos cargos para conseguir compor a sua base aliada, há ainda uma fração minoritária do PSDB que, mesmo após o disciplinamento da maioria a aderir à posição de Serra e FHC de assumir cargos no governo, ainda considera que o partido deve ficar de fora.

De toda forma, em que pesem as dificuldades de Temer em domar a corja de parasitas e oportunistas que habitam o congresso e da qual ele próprio é um grande exemplar, não há dúvida que nas questões centrais para eles, ou seja, naquelas de atacar os direitos dos trabalhadores e fazer com que os mais pobres paguem pela crise dos patrões, sem dúvida ele terá pouca dificuldade em disciplinar os parlamentares.




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