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OPINIÃO | Summers, Yellen e as bolhas

O FED [banco central dos EUA] considera que ainda não é tempo de iniciar a subida das taxas de juros. O índice de crescimento norte-americano não modifica a situação estrutural. Bolhas que não conseguem estimula booms.

Paula BachBuenos Aires

quarta-feira 27 de maio de 2015 | 00:00

Sábado último, mencionamos a possibilidade de que Janet Yellen não cumpriria a promessa de elevar as taxas de juros em junho. Comentamos também os rumores de que esse aumento poderia ser postergado para depois de 2015. Há poucos dias o Federal Reserve [FED] divulgou as minutas da última reunião de abril, nas quais efetivamente alerta que a debilidade econômica dos Estados Unidos durante os primeiros meses do ano convenceu a maioria dos funcionários de que junho seria provavelmente muito cedo para começar a subir as taxas de referência.

Mas isso não significa que um aumento tenha ficado fora dos planos do FED, a despeito de até quando possa adiá-lo. De fato, e como destaca o Financial Times, o FED abandonou neste ano sua promessa de ser “paciente” antes de subir as taxas, mudando para um novo equilíbrio no qual possa ajustar a política tão logo decida que o panorama econômico seja suficientemente forte para possibilitar este aumento. Ainda que a subida não tenha sido efetivado no momento marcado, o FED já deu o sobreaviso aos “mercados” de que está com as mãos libres para aumentar as taxas quando lhe parecer conveniente. Aprofundaremos alguns elementos que deixamos pontuado na semana passada.

A chave mágica

Este sistema de mensagens cifradas e diálogo com os “mercados” gera a ideia de uma economia aparente, de um mundo no qual os principais atores são os proprietários de vultosas massas de dinheiro e o FED, possuidor de uma espécie de chave-mestra. O mundo da economia real – que temos denominado em outras oportunidades de “território” – parece ter se dissipado. Porém, isso é apenas uma imagem, ainda que correta, que se corresponde a um conteúdo em que o capital encontra sérias dificuldades para sua acumulação ampliada. Inclusive – e isso é muito importante – a melhora nada desprezível da dinâmica da economia norte-americana no ano passado não modifica essa situação em termos estruturais.

Isto é, sequer os 3,3% de crescimento dos Estados Unidos – admitindo que a recente baixa seja conjuntural – resolvem o problema da média no longo prazo, nem permite iludir-se sobre o retorno à “Grande Moderação” que, segundo Summers e outros economistas renomados, deu o tom nas últimas décadas prévias à crise de 2007-2008.

A baixa média de crescimento de 2% que marcou a economia norte-americana nos cinco anos posteriores ao seu ponto mais baixo em 2009, e que alarma Summers, não se altera significativamente com os 3,3% do ano passado, admitindo inclusive que se mantenha neste ano. Não se modifica o fato de que, como também assinala Summers, o crescimento atual dos Estados Unidos está muito abaixo do seu potencial estimado em 2008. Ocorre que não se produz o vigor esperado depois de uma grande recessão, e esta contradição se expressa na debilidade relativa do investimento diante da massa de capital dinheiro existente. Inclusive a oferta de dinheiro barato que as extremas baixas taxas de juros estimula, em grande parte não se dirige ao “território”, isto é, a investimentos reais na economia, mas se orienta ao mercado acionário que está retornando aos seus índices mais elevados. A armadilha que o FED não pode desarmar se manifesta exatamente nesta dualidade.

Nem as bolhas

Desta contradição se depreende a tese de Summers, ao afirmar que na atualidade – diferente das décadas passadas – nem sequer as bolhas podem tirar a economia do estancamento. Ou, o que é o mesmo, que para retornar à taxa de desemprego anterior à crise seria necessário um nível tão baixo de taxas que nem os “mercados” ou as intervenções governamentais poderiam alcançar. Pensando em termos do ocorrido nos últimos anos, pode-se comprovar que isto é o que vem sucedendo. As taxas de juros de referência do FED, em torno de 0%, regem nos Estados Unidos desde 2009 e apenas agora, seis anos depois, o desemprego – cujas formas de medição estão muito questionadas – está se aproximando dos níveis prévios à crise. Por sua vez, segundo o Financial Times, o emprego estaria aumentando de forma inesperadamente rápida em relação aos índices moderados de crescimento da economia norte-americana. Questão que, segundo o jornal, seria explicada pela queda do crescimento da produtividade que durante os últimos quatro anos vinha aumentando em torno de 0,6% em comparação com a norma de crescimento de 2% da última década. De modo que taxas de juros em mínimos históricos, ajudadas por um crescimento da produtividade particularmente baixo, somente depois de seis anos aproximam o desemprego do nível pré-crise. E isso ocorre justo no momento em que os índices das bolsas alcançam níveis recordes. É justamente o que Summers denomina “estancamento secular”, ou seja, um período no qual taxas de juros extremamente baixas não conseguem alavancar um boom no crescimento econômico. E quando a economia começa a rondar lentamente os níveis pré-crise são geradas condições muito preocupantes de vulnerabilidade financeira. Esta contradição é o que pressiona o FED atualmente.




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