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ANTI IMPERIALISMO | Sobre Jean Wyllys e seu embelezamento de Obama: “não, assim não podemos”!

Simone IshibashiRio de Janeiro

terça-feira 24 de janeiro de 2017 | Edição do dia

A ascensão de Trump à presidência dos Estados Unidos abriu inúmeros debates e incertezas. Não podia ser diferente, pois se trata da subida ao poder da cara mais machista e xenófoba do imperialismo. Combatê-lo é uma necessidade evidente, como se expressou nas multitudinárias marchas que tomaram as ruas de centenas de cidades nos Estados Unidos em 21 de janeiro.

Mas no afã de combater Trump, alguns terminam derrapando em posições equivocadas, chegando a embelezar os governos de Obama. Um deles foi Jean Wyllys, deputado federal do Rio pelo PSOL, que afirmou em um post em sua página do facebook que “há um legado, de importância histórica, em diferentes áreas, e que deve ser observado na sua verdadeira complexidade”. Defendendo questões tão diversas como o Obamacare, programa de saúde pública feito por Obama, o acordo nuclear com o Irã, a “mobilização pelo fechamento de Guantanamo”, que segundo Jean Wyllys só não foi adiante pela resistência no Congresso, o deputado do PSOL termina concluindo “Que pesem as críticas de uma continuação da subserviência do governo às vontades dos empresários e financistas de Wall Street e a manutenção do aparato bélico no exterior, coisas que já existiam muito antes de Obama, o que temos é um período no qual o presidente dos EUA se posicionou em favor das pessoas em maior situação de vulnerabilidade em diversas situações”.

Seria isso verdade? Vejamos.

Apesar de querer passar à história como alguém que restabeleceu as relações com Cuba e o Irã, Obama é o responsável pelo aprofundamento da crise no Iraque e na Síria, e seus governos foram extremamente beligerantes. Lançou um total de 26.171 bombas só no ano de 2016, sobre 7 países. Uma política beligerante e imperialista, que lançou a população de países como a Síria numa crise humanitária que perdura até hoje. Isso sem falar nas bombas que são lançadas pelos aliados de Obama, como a monarquia saudita e seus ataques contra o Iêmen.

No plano interno, apesar do desemprego ter diminuído desde a crise de 2008, o povo norte-americano continua sofrendo aumento da pobreza, já que dos 14 milhões de postos de trabalho criados a maioria é composta por vagas precárias. Tanto é que justamente nos anos Obama surge o movimento de trabalhadores pelo salário mínimo de 15 dólares, cujo piso nacional ainda é de 7,25 dólares por hora. Enquanto Obama deu 3 trilhões de dólares para salvar os magnatas do sistema financeiro e os bancos, a pobreza atinge 13,5% da população, enquanto a concentração de renda cresceu, com o 1% mais rico detendo 31% da renda total.

Nem mesmo o fato de Obama ter sido o primeiro presidente negro da história dos EUA se reverteu numa diminuição do racismo. Pelo contrário. Foi durante o seu mandato que alguns dos pontos de maior tensão racial ocorreram, como em Ferguson, Baltimore, Nova York e Charlote. O próprio surgimento do movimento Black LivesMatter é uma resposta ao racismo profundo, que se mostra também na situação econômica da população negra. Enquanto a média salarial de uma família branca era de 55 mil em 2013, a de uma família de outra etnia era de 34 mil.

No que diz respeito à Saúde pública, carro chefe dos planos “populares” de Obama, o programa de saúde Medicaid impõe uma cláusula em que se obriga a todo indivíduo a contratar um seguro de saúde no mercado. Essa medida assegura que 30 milhões de pessoas não possam ter cobertura médica de qualquer espécie, sobretudo os imigrantes sem registro.

Sobre a questão da imigração, nada mais longe da realidade que a interpretação de Jean Wyllys sobre a atuação de Obama. Para Wyllys “a reforma da imigração, cujo o objetivo era ampliar a cidadania de cidadãos em situação ilegal”. Na contramão disso que se deu é que Obama foi o presidente que mais deportou imigrantes que qualquer outro na história dos EUA, sendo responsável por mandar embora 2,5 milhões de pessoas, enquanto George W Bush deportou apenas 25% desse número.

Assim, a ascensão de Trump ao poder, que recoloca a necessidade de uma posição anti-imperialista, deve partir da necessidade de absoluta independência em relação a Obama, Hillary Clinton e ao Partido Democrata. Obama buscou aparecer como uma cara mais dialogada da ofensiva da burguesia imperialista, sobre os povos do mundo e contra o próprio povo norte-americano.

Não distinguir a retórica da verdade é um grave erro. Jean Wyllys diz que tem muitos motivos para lamentar o fim da era Obama, um embelezamento total do que esse significou na prática. Novamente fala de algo sem examinar a realidade para além da superfície, e termina colado com uma das facetas do imperialismo que Obama representa. Mais um desserviço à juventude e à classe trabalhadora. Ao contrário do que afirma Jean Wyllys, sem avançar para uma posição antiimperialista de fato, que não capitule a nenhum dos rostos que o imperialismo usa para massacrar os povos do mundo, não é possível haver uma posição efetivamente de esquerda. É preciso que avancemos para tirar conclusões opostas à de Jean Wyllys, cuja lógica do mal menor segue fazendo com que embeleze imensamente Obama. É preciso que haja independência total frente a qualquer uma das alas do imperialismo. Só assim poderemos levar adiante um combate claro nesses anos turbulentos que se anunciam.




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