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ANÁLISE | Sinais de “mal estar” entre a alta cúpula das Forças Armadas e Bolsonaro?

terça-feira 23 de março de 2021 | Edição do dia

As mais recentes bravatas que Bolsonaro proferiu em frente ao Palácio da Alvorada, diante daquele comum ritual panaca que se instala toda manhã de domingo para venerar o “mito”, parecem não ter sido muito bem quistas pela alta cúpula das Forças Armadas.

Se referindo às medidas de restrição de circulação adotadas por alguns governadores que tentam demagogicamente aparecer como “preocupados” diante do colapso dos sistemas de saúde locais, Bolsonaro apelou novamente ao discurso de que “Alguns tiranetes ou tiranos tolhem a liberdade de muitos de vocês”. O adendo é que, desta vez, ele buscou trazer para junto de si um aliado que, ao que indicam sinais, preferia ficar em seu cantinho: “Pode ter certeza, o nosso Exército é o verde oliva e é vocês também. Contem com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade”.

A dita insatisfação gerada, como de costume, aparece por via da grande imprensa que dá voz a um suposto sentimento que correria por cima nas Forças Armadas. De conteúdo, o que expressa é a provável busca por distanciamento entre o alto comando e as aventuras que Bolsonaro embarca neste momento.

Não é novidade para nenhum senso mínimo de decência que a alta cúpula das Forças Armadas constituem parte daquilo que há de mais execrável na realidade brasileira. Mas essa “evocação” à elas por parte de Bolsonaro acontece justamente no momento em que as mortes pelo coronavírus atingem o seu mais alto pico no país desde o início da pandemia, país que concentra 25% das mortes por covid em todo o mundo nos últimos 7 dias.

Acontece no momento em que Bolsonaro é pressionado por ministros do STF, governadores em todo país, por uma parcela de banqueiros e empresários do capital financeiro, no momento em que vai escalando os decibéis de gravidade da crise, com aumento do perigo de explosões sociais, como aponta o próprio FMI, e também no momento em que o figurão conciliador Lula ressurge, dessa vez reabilitado, acenando aos generais e ao conjunto dos atores do regime do golpe.

Após terem sido protagonistas nas políticas do governo Bolsonaro com um general da ativa ocupando o Ministério da Saúde enquanto o sistema de saúde desmoronava e milhares de vidas eram perdidas à espera de galões de oxigênio, a tentativa de limpar a imagem dos militares fica altamente prejudicada. A instituição que até a pandemia gozava de maior prestígio popular passa a enfrentar essa preocupação que tira o sono da alta cúpula das Forças Armadas. Portanto, embarcar neste momento nesse navio desgovernado de Bolsonaro traz perigos que querem se distanciar.

Isso não significa de nenhum ponto de vista uma divergência no sentido que caminha a barbárie sanitária, econômica e social levada adiante por Bolsonaro, mas sim a busca por não estar no centro da condução da crise junto ao governo quando as explosões sociais vierem. Porque sabem que virão. E virão como resposta ao desastre que juntos vêm promovendo, ao lado também do STF, do Congresso e dos governadores.

É por isso que não basta querer derrubar Bolsonaro. Colocá-lo de joelhos não fará retroceder os militares que hoje ocupam papel de ainda mais destaque na política – exatamente ao contrário, colocaria justamente Mourão na presidência. Somente uma força independente, que questione o conjunto desse regime político, das reformas e dos instrumentos resquícios da ditadura, como é a Lei de Segurança Nacional, é que teremos condição de interromper esse curso da barbárie.

Leia também: Fora Bolsonaro, Mourão e os militares




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