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Em meio à greve de mais de 70 dias e às vésperas dos Congressos da CSP-Conlutas e da ANEL, professores, trabalhadores de outros setores e estudantes participaram do seminário “Gênero e Marxismo”, na Casa Rosa, em Campinas.

terça-feira 26 de maio de 2015 | 00:30

O seminário foi organizado pelo Grupo de Mulheres Pão e Rosas e pelo Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), com o objetivo de resgatar a teoria marxista, para uma análise histórica e dialética das experiências e bases materiais da opressão às mulheres. Por isso, a bibliografia contou com o livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, escrito pelo revolucionário alemão Friedrich Engels, em 1884, e o livro A Precarização tem Rosto de Mulher, organizado por Diana Assunção, em 2011, com uma narrativa e reflexões das experiências de luta das trabalhadoras terceirizadas da Universidade de São Paulo.

Algumas definições foram discutidas, entre elas, a importância da compreensão de que a divisão da sociedade em classes foi o que originou a opressão à mulher. O desenvolvimento do pastoreio ocasionou a primeira divisão social do trabalho, tornou a propriedade comum em propriedade privada e dividiu a sociedade entre duas classes: senhores e escravos, explorados e exploradores. O homem, a quem era designada a atividade da caça, passou a ser dono dos rebanhos e de toda a riqueza acumulada em função dessa nova organização social. A mulher, designada às tarefas domésticas, ligadas à família e ao lar, viu, então, sua atividade social subjugada e desligada da produção da vida e dos âmbitos públicos das relações, pois, encarada também como uma propriedade do homem, nessa nova organização social teve apenas participação no consumo. Surge então o patriarcado e a opressão à mulher, em uma etapa do desenvolvimento da sociedade ocidental muito anterior ao capitalismo.

Outra definição importante foi a de Estado. O Estado foi o produto das disputas e interesses inconciliáveis das classes criadas. Surgiu como um meio necessário para estabilização das tensões sociais, para que a classe dominante pudesse seguir reproduzindo sua exploração. Com seus meios, forças repressivas e coercitivas, imposição da ideologia da classe dominante etc., o Estado impôs uma dominação política da classe dominante sobre a classe explorada. Hoje em sua forma capitalista de “república democrática”, o Estado, mantém até os dias atuais milhões de pessoas em condições de miséria e aperfeiçoou o uso da opressão como uma via de maior exploração, como se vê na realidade de milhares de mulheres, com seus corpos mutilados por jornadas extenuantes.

A partir de uma leitura atenciosa do capítulo “A opressão às mulheres” do livro A precarização tem rosto de mulher foi possível tirar lições da forte luta que as trabalhadoras terceirizadas da USP fizeram, em sua maioria mulheres negras e quase sem direitos trabalhistas. A organização dessas mulheres permitiu com que Silvana, uma das trabalhadoras que estava na “linha de frente” da greve, se defrontasse com as amarras impostas dentro de casa, fruto da própria opressão histórica, e se enfrentasse com essas contradições no sentido do avanço, não só em casa mas, também, na luta que estava travando em comum com seu companheiro, também grevista.

Em tempos de PL 4330 e das Medidas Provisórias de Dilma, que são ataques profundos a toda a classe trabalhadora, às mulheres os golpes desferidos são ainda maiores. A burguesia se unifica, com PT, PSDB e demais partidos da ordem buscando impor esses e mais ataques à nossa classe para que paguemos pela crise que criaram, escancarando cada vez mais a insuficiência desse regime de privilegiados, incapaz de atender às demandas dos trabalhadores. Nesse sentido a conclusão fundamental do seminário foi de que é necessário formar mulheres que tomem a frente da luta revolucionária, numa disputa política contra a opressão organizada e usada pelo Estado em nome da burguesia com o objetivo de manter na exploração e miséria toda a classe trabalhadora. É necessário que a opressão às mulheres seja encarada através da luta de classes e a sua organização pela emancipação também. Assim, não há “empoderamento” individual que seja capaz de desconstruir o machismo e toda a opressão. Faz-se necessário uma saída de classe, pois os inimigos das mulheres não são os homens, mas a classe burguesa. Caberá às mulheres retomar a organização e experiências históricas das revolucionárias russas, espanholas e cada uma que se colocou como sujeito que disputa a hegemonia sobre a consciência das massas para uma saída revolucionária, para a destruição do Estado capitalista, bem como de toda a ordem patriarcal e de exploração existente.

Ao final da atividade os participantes aderiram à campanha “Que todo político ganhe o mesmo que uma professora”, que questiona o salário dos políticos que, em meio a tantos escândalos de corrupção e cortes no orçamento, aumentaram os próprios salários e de seus subordinados enquanto o salário dos trabalhadores segue defasado.




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