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Segundo testemunha, vereador e miliciano já planejavam a morte de Marielle

Essas informações escancaram nada mais do que a extrema responsabilidade direta das polícias e do Estado nesse crime. Precisamos de uma investigação independente para que o caso seja verdadeiramente resolvido, porque se depender do presidente golpista Michel Temer, que afirmou cinicamente que as investigações estão "adiantadíssimas", e da polícia, a impunidade vai primar.

quarta-feira 9 de maio de 2018 | Edição do dia

Em depoimentos à Divisão de Homicídios (DH) da polícia civil, um homem que trabalhou para um dos grupos paramilitares do Rio de Janeiro contou que Orlando Oliveira de Araújo, ex policial militar preso por acusação de chefiar uma milícia em Curicica, e o vereador Marcelo Siciliano (PSH) queriam a morte de Marielle Franco, vereadora negra de esquerda que era relatora da intervenção federal no Rio de Janeiro, executada no dia 14 de março.

Siciliano, por outro lado, chamou a denúncia de “factóide” e afirmou que a relação com a vereadora era muito boa. Já se passaram mais de 50 dias após a morte de Marielle e a polícia e o Estado, que são responsáveis, só nos apresentam hipóteses com base em depoimentos. Por isso, precisamos mais do que nunca de uma investigação independente para que exista de fato justiça para Marielle e Anderson, para que a impunidade não vença.

O delator deu, em troca de proteção, informações de datas, locais e horários de reuniões entre o miliciano e o vereador. Forneceu detalhes de como a execução teria sido planejada, e, segundo ela, as conversas entre eles teriam começado em junho do ano passado. Em um dos três depoimentos prestados até agora, afirmou que presenciou, pelo menos, quatro conversas entre o vereador e o ex-policial e, também, forneceu o nome de quatro homens que teriam sido escolhidos para o assassinato, que estão sendo investigados pela polícia. No depoimento, foi afirmado que em junho do ano passado o delator presenciou uma conversa entre o vereador e o miliciano falando sobre Marielle.

— Eu estava numa mesa, a uma distância de pouco mais de um metro dos dois. Eles estavam sentados numa mesa ao lado. O vereador falou alto: “Tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando”. Depois, bateu forte com a mão na mesa e gritou: “Marielle, piranha do Freixo”. Depois, olhando para o ex-PM, disse: “Precisamos resolver isso logo” — afirmou a testemunha.

O ex policial, na época do início das reuniões, já estava foragido e tinha dois mandatos de prisão. Em outubro, foi preso por uma operação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança. O depoente afirmou que o vereador e o ex-PM tinham negócios em conjunto na Zona Oeste e falou o nome de pelo menos 15 pessoas, dentre elas empresários, bombeiros, e policiais que participavam do grupo comandado por eles. Segundo o delator, Siciliano financia várias ações da milícia.

A testemunha disse que acompanhou algumas reuniões pois, depois que a milícia tomou a comunidade na qual ele instalava equipamentos de TV a cabo, ele foi obrigado a trabalhar como coagido sob ameaça de morte por dois anos para o grupo chefiado pelo ex-PM. Também afirmou que as desavenças de Marielle com Siciliano havia começado quando ela passou a realizar trabalhos comunitários nos locais onde ele tinha influência e que eram de interesse das milícias, mas que ainda eram controladas pelo tráfico. Siciliano, no entanto, afirmou que ele não teve tantos votos na região que o delator aponta.

Foi dito, também, que mesmo depois de preso, o ex-PM continuou apoiando o vereador, e que tinha sido ordenado um levantamento dos hábitos da vereadora: locais onde costumava ir, trajetos que fazia após sair da câmara de vereadores, etc. Depois de mais de 50 dias da execução de Marielle, não temos como saber o que é verdade ou não vindo da investigação que polícia faz sem nos dar certezas, a mesma polícia que por “erros” da perícia inicial não conseguiu até agora chegar a conclusões reais, que no dia da execução expulsou do local testemunhas oculares, se recusando a pegar depoimentos.

Foi constatado que cinco câmeras localizadas no trajeto que a vereadora fez no dia de sua morte foram desligadas com antecedência. Segundo a DH, foi confirmado que a munição usada para o assassinato é original e foi vendida em 2006 para a polícia federal de Brasília e, além disso, o IML não fez o raio-x das vítimas para identificar a direção das balas. Até agora, o que temos são hipóteses baseadas em depoimentos e declarações, mostrando a verdadeira ineficiência do Estado e de seu braço armado de responder quem, de fato, matou Marielle e Anderson.

Essas informações escancaram nada mais do que a extrema responsabilidade direta das polícias e do Estado nesse crime. Precisamos de uma investigação independente para que o caso seja verdadeiramente resolvido, porque se depender do presidente golpista Michel Temer, que afirmou cinicamente que as investigações estão "adiantadíssimas", e da polícia, a impunidade vai primar.

Temos que exigir do Estado uma investigação independente, com os parlamentares do PSOL, organismos de direitos humanos, representantes dos sindicatos, intelectuais especialistas na crise social do Rio de Janeiro e outros setores que tenham legitimidade popular com garantia, por parte do Estado, dos recursos para trabalhar, acesso aos arquivos de investigação, contratação de peritos independentes, participar das produções de provas, entrevista com as testemunhas e ter acesso a todo o tipo de informação.

O PSOL precisa fazer um chamado a todos que querem justiça de fato para Marielle e Anderson, colocando todos os sindicatos e entidades estudantis que fazem parte, assim como seus parlamentares, a serviço de construir uma grande mobilização, construindo um plano de lutas urgente, ligado ao combate contra os outros ataques em curso, como a prisão de lula e os ataques aos direitos econômicos e sociais.




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