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RIO DE JANEIRO | São Cosme e Damião atravessado pelo racismo: já são 5 crianças negras assassinadas no governo Witzel

Não houve Dia de "São Cosme e Damião" para as cinco crianças assassinadas pela polícia de Witzel no Rio de Janeiro.

Renato ShakurEstudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF

sexta-feira 27 de setembro de 2019 | Edição do dia

Hoje era pra ser mais um dia de São Cosme e Damião como outro qualquer, a criançada correndo atrás de doces nas ruas e pelos bairros, da zona norte, baixada, etc. No dia de 27 de setembro vemos milhares de crianças sorridentes com cada saco de doces que recebe de algum devoto seja dos médicos santificados Cosme e Damião, ou por adoração a Ibejy, culto ao gêmeos feitos pelo iorubás trazido na tradição da cultura negra. A felicidade aumenta no prazer de descobrir que cada saco guarda uma diversidade sem tamanho de bananada, pé-de-moleque, maria mole, etc. e a brincadeira é pegar a maior quantidade de sacos de doce que tiver ao alcance da vista ou da barriga.

Era para ser mais um dia desse, feliz onde a maior preocupação das crianças é de quantos sacos cada uma consegue levar pra casa, mas no país de Bolsonaro e Witzel a realidade é outra, bem mais cruel e que a preocupação das crianças e de suas famílias é se elas permanecerão vivas. O racismo de Bolsonaro e Witzel foi capaz de retirar até o mínimo de felicidade das famílias dos trabalhadores, atualmente já somam 1.249 famílias dilaceradas pela política racista e assassina de Witzel, 17 crianças feridas e 5 mortas só nesses 9 primeiros meses de governo.

A menina Agatha Félix foi mais um caso que chocou e sensibilizou vários trabalhadores e trabalhadoras, pais e mães de família. O avô de Ágatha expressando toda sua indignação não entendia porquê da polícia matar sua neta com um tiro de fuzil nas costas, uma menina cheia de sonhos que a única arma que tinha na mochila era “lápis, cadernos, apontador e livro”. A brutalidade e a covardia dessa política sanguinária de Witzel vem se mostrando não apenas uma guerra aberta contra os negros, mas um perigo contra as vidas das crianças negras nas favelas e periferias.

Hoje era pra ser mais um dia normal, um dia feliz e da saudável brincadeira de quem pega mais sacos de doces de São Cosme e Damião, mas para a família de Jenifer não vai ser assim, nem para família de Kauã Rosário, Kauê, Kauan Peixoto e Ágatha. Num dia em que a maior preocupação dos familiares dessas crianças negras seria dividir os doces com os amigos e os primos, não comer antes no almoço e escovar bem dentes, hoje não vão se preocupar com isso, pois a brutalidade e covardia da polícia interrompeu a vida dessas crianças.

Fico imaginando num dia como esses, como seria maravilhoso para o avô de Ágatha, um trabalhador negro que sempre cuidou dela com muito carinho, colocando na aula de inglês, balé, etc., ver a felicidade de sua neta voltar cheias de sacos de São Cosme e Damião pra casa, mas infelizmente o capitalismo rasga a vida dos trabalhadores e seus filhos, para que eles não a desfrutem em todo seu potencial e plenitude. Nos solidarizamos com a família de Ágatha e com a família e amigos de todas as crianças assassinadas pela política racista de Witzel, estamos com todas as mães que tiveram seus filhos vitimados por essa política de extermínio, com os trabalhadores e moradores do Complexo do Alemão que saíram atos exigindo justiça por Ágatha para transformar nossa tristeza e ódio numa luta contra o extermínio das nossas crianças e da nossa juventude. Basta de sangue negro escorrendo nas favelas e periferias!




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