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EUA | Sanders apoia o “patriotismo corporativo”

“Precisamos reinstalar uma ética do patriotismo corporativo”. Ainda que essas palavras pareçam algo que Donald Trump diria, sairam da boca de Bernie Sanders.

terça-feira 6 de dezembro de 2016 | Edição do dia

O artigo original foi publicado no dia 3 de dezembro na página Left Voice. Versão em inglês: Sanders Supports "Corporate Patriotism".

Todos estão falando sobre o acordo que Donald Trump fez recentemente com a United Technologies, uma corporação que possui a empresa de aparelhos de ar condicionado, Carrier. De acordo com relatórios, Carrier planejava terceirizar 2100 postos de trabalho no México, mas após negociações com Trump decidiu manter 1000 destes postos de trabalho nos Estados Unidos. Após um mês de cobertura midiática negativa sobre suas escolhas para o gabinete, Trump está usando esses números como comprovação de que ele se sairá bem na sua promessa de trazer de volta os empregos manufatureiros. Em troca, Trump garantirá benefícios regulatórios e reduções de impostos. Trump está vendendo isto como uma vitória para a classe trabalhadora, mesmo com 1000 pessoas perdendo seus empregos. Claramente não é uma vitória e as reduções de impostos garantidos à United Technologies significam que a classe trabalhadora vai continuar carregando o peso da lentíssima economia nas costas.

No primeiro de dezembro, Bernie Sanders publicou uma resposta escandalosa a estes acontecimentos. O título do artigo é “Carrier acabou de mostrar às corporações como derrotar Donald Trump”, como se Trump e as corporações estivessem de alguma maneira opostas. O argumento de Sanders é que Carrier manipulou Trump a prover reduções de impostos ao colocar 2100 empregos em risco e que agora empresas por todo o EUA seguirão o mesmo padrão. Ele disse “United Technologies fez Trump de refém e venceu. E isso deveria mandar uma onda de choques amedrontadores a todos os trabalhadores por todo o país.” Novamente Sanders coloca Trump e as corporações como antagônicos, tão antagônicos que Trump foi “feito de refém” por uma corporação e assim forçado a dar reduções de impostos. Essa análise faz parecer que Trump e as corporações não estiveram sempre do mesmo lado, unificados contra a classe trabalhadora. “Uma onda de choques amedrontadores” de uma presidência do Trump realmente sacudiu a maior parte da classe trabalhadora americana, que não votou em Trump (muitos simplesmente não votaram).

Nessas eleições Trump esbravejou contra as elites de Wall Street e o establishment de Washington, jurando “secar o pântano”. Sem dúvida, as maiores corporações apoiaram Clinton nas eleições e os planos de Trump podem mexer algumas penas corporativas. Elites pró-globalização que buscam trabalho barato em outros países não apoiariam os planos de Trump para eliminar os tratados de livre comércio e o aumento de impostos sobre produtos chineses. Ademais, Trump fez promessas aos votantes trabalhadores de que os EUA seriam reindustrializados e seus empregos voltariam a existir. Contudo, como consegue enxergar qualquer pessoa progressiva, Trump, o magnata bilionário, planeja governar para fazer valer os interesses da classe dominante. Assim, não deveria ser nenhuma surpresa que ele esteja garantindo reduções de impostos e favores regulatórios para corporações. Trump e o restante da classe bilionária podem ter alguns desentendimentos, mas ambos concordam que os lucros das corporações devem ser protegidos às custas da classe trabalhadora.

Qual solução Sanders dá para os acordos de Trump? Ele diz: “Precisamos reinstalar uma ética do patriotismo corporativo” Essa citação parece algo que Donald Trump diria, mas ao invés disso, foi o supostamente socialista Bernie Sanders quem o disse. Sanders chama os trabalhadores para mandar um recado em alto e bom som às corporações - palavras de luta! Este recado em alto e bom som não é uma das máximas de Marx como “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”, mas sim um chamado às corporações a serem mais “patrioticas” - opondo os trabalhadores americanos contra a classe trabalhadora mundial. Parece que Sanders não tem clareza sobre quem é o real inimigo, quando este escolhe falar de patriotismo corporativo em vez da solidariedade de classe internacional.

Neste artigo, Sanders reitera seu apoio inicial para qualquer iniciativa “amigável aos trabalhadores” que o presidente eleito possa ter, depositando esperança em Trump no exato momento que pessoas em todo o país tomam as ruas contra ele. Em vez de denunciar Trump como inimigo da classe trabalhadora, este “progressivo” símbolo anti-establishment planeja dar uma chance para Trump. Isso, obviamente, após meses de campanha para Clinton dizendo inclusive que Trump traria o apocalipse. Contudo, quando Sanders conclui “Se Donald Trump não vai se levantar pela classe trabalhadora americana, nós devemos tomar este papel”, como se em algum momento tivesse existido uma dúvida de que Trump colocaria sua presidência a serviço dos mais abastados.

Estas afirmações de Sanders descaracterizam grosseiramente Trump, sugerindo que ele poderia de alguma forma refletir os interesses da classe trabalhadora. Elas deveriam dissipar quaisquer ilusões de que Sanders é um socialista e luta pela classe trabalhadora.

Os próprios trabalhadores tem providenciado alternativas radicais a falências, golpes e passividade. Nos EUA e em todo mundo existem exemplos de trabalhadores tomando fábricas e produzindo sob controle operário. Nos EUA, a luta da “Republic Windows and Doors” é um famoso exemplo destes. Na Argentina, fábricas como Zanon estão sob controle operário há 15 anos e Madygraf há dois. O caminho a seguir não está nas reduções de impostos de Trump para os ricos ou no movimento de Sanders pelo patriotismo corporativo. O caminho a seguir está nas respostas radicais da classe trabalhadora.




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