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DENÚNCIA | SAMU chamou IML sem nem saber se a pessoa estava morta, relata trabalhadora da saúde

Veja relato de trabalhadora da saúde em hospital da zona metropolitana de Porto Alegre sobre a precária situação de trabalho frente à pandemia

quinta-feira 23 de abril de 2020 | Edição do dia

Os ataques do governo do Estado Rio Grande do Sul na estrutura da Saúde pública são cada vez mais sentidos, não só pelos usuários mas também pelos trabalhadores da área da saúde do estado que estão na linha de frente na batalha contra a COVID-19. Tratam-se de problemas de longa data. No governo Sartori, houve cortes a saúde. Em 2015 o governo estado decretou o corte de 20% na Saúde, Educação, Transporte e Segurança usando a justificativa de enfrentar o rombo de R$ 5,4 bilhões no financeiro; essa medida implicou inclusive no parcelamento de salário dos professores das escolas públicas. Já em 2016 deixou de aplicar quase RS1 bilhão na saúde – infligindo a lei federal de 2012 que determina o investimento de 12% das receitas no SUS. E em 2017 esses números refletiram na queda de investimentos de até 11,2% na saúde e na educação. Isto na onda dos cortes que o Governo realizou em 2015 de 20% em setores essenciais como saúde, educação e transporte, demonstrando um verdadeiro descaso com a vida da população e dos trabalhadores.

O fechamento gradativo das unidades de saúdes distritais, os postinhos, iniciados na gestão de governo de Sartori e perpetuados por e aplicados em Porto Alegre por Nelson Marchezan Jr. anunciaram qual seria o destino da saúde no estado.

Frente à pandemia do COVID-19, a saúde pública do estado sucateada pelos interesses privatistas do governo de Eduardo leite, aprofundando firmemente na mesma continuidade os ataques de Sartori chegam a um limite estarrecedor e brutal a nível de colapso no sistema público de saúde em Porto Alegre. É nesse cenário, agora com Leite mantendo a mesma política de Sartori, que a saúde pública no Rio Grande do Sul chega para enfrentar o coronavírus.

O Esquerda Diário recebeu um relato de uma trabalhadora da área da saúde na região metropolitana de Porto Alegre da qual não gostariam de se identificar que escancara cada vez mais quão desumanas são as condições das quais estão sendo submetidas as famílias, os profissionais da saúde e a população em geral dentro e fora dos hospitais públicos da região metropolitana

Relato de uma trabalhadora da área de enfermagem da região metropolitana de porto alegre.

“Os trabalhadores estão sendo submetidos a condições extremamente arriscadas. As máscaras que estão sendo distribuídas são bastante ineficazes para conter a infecção. Seria aconselhável todos os trabalhadores se utilizarem de máscaras N45, mas estas estão sendo destinadas apenas aos profissionais que, majoritariamente médicos, estão em contato direto com os pacientes infectados. Essa lógica não faz sentido, pois os profissionais dos quais tem contato inicial com o paciente tais como os auxiliares da triagem, os auxiliares que aplicam medicações para dores e crises respiratórias, e os que cuidam da farmácia são os primeiros a terem contato com os pacientes infectados. Até o teste ser realizado todos os profissionais ficam expostos enquanto dão os devidos cuidados ao paciente mas sem máscaras seguras e equipamentos de segurança e proteção. Eu fui informada sobre o caso de um advogado que estava em quarentena e acabou tendo uma crise, até então desconhecida. Uma amiga o achou o corpo (não se sabe já falecido) em sua casa e chamou a SAMU para o socorro. Os paramédicos se negaram a tocar no corpo e chamaram diretamente o IML enquanto isolaram a amiga dele em um quarto na mesma casa até que os profissionais da remoção chegassem. Levaram ela pro hospital pra fazer o teste e este deu negativo mas não fizeram no corpo do advogado. Os médicos disseram que não era COVID-19, mas mesmo assim ordenaram velório com caixão fechado e com todas as restrições de velório para contaminados não deixando a família ter contato com o corpo. Se não era corona por que ordenaram esse processo? E outra, segundo os próprios médicos ele faleceu de complicações respiratórias bem parecidas com a SARS. Eles diagnosticaram a morte como um ataque de asma ou alguma outra doença respiratória com base no histórico dele que teve alguns ataques de bronquite asmática na infância. Eles não tocaram no corpo. Ninguém tocou a não ser o IML.”

Ela continua

Outro caso que aconteceu em Esteio, foi de uma médica que furtou um teste pra fazer em si mesma, fez o teste de “brincadeira”, e acabou se surpreendendo. O teste deu positivo. Essa médica estava assintomática e estava trabalhando no hospital da cidade e em alguns postos de bairros. Mesmo que ela ela tenha roubado o teste, esses só são permitidos para profissionais que estão com sintomas avançados. Quantas pessoas essa médica assintomática infectou nos bairros em que ela trabalhava nos postinhos? isso é absurdo.

Os hospitais estão mentindo. Eles estão tendo que criar notícias não verdadeiras para não criar alarme. É tudo uma grande mentira. No hospital Getúlio Vargas foi publicada uma nota esses dias afirmando que o hospital conta com 15 leitos livres e a maioria com respirador. Segundo pessoas conhecidas minhas tem apenas um respirador e ao menos 8 desses leitos estão ocupados.”

Relatos como dessa trabalhadora escancaram alguns dos problemas não veiculados na grande mídia e tampouco ditos pelos governantes – o problema da subnotificação e da ausência de testes. Os governos e os hospitais estão colocando profissionais da saúde para trabalhar sem a testagem adequada. Como o relato diz, testes são feitos apenas para pacientes com sintomas graves, mesmo no caso de profissionais da saúde. Isso é um absurdo, pois a ausência de testes impede com que possamos isolar quem de fato precisa ser isolado e impedir o contágio do vírus. Ao mesmo tempo, pessoas estão morrendo e não sendo notificadas, diminuindo as estatísticas no estado, o que leva o governo Leite a tomar medidas de maior flexibilização do isolamento social.

Todo esse cenário é uma bomba relógio onde os profissionais da saúde serão os primeiros afetados, seguidos dos demais trabalhadores que seguem na correria do dia a dia, como rodoviários, telemarketing, garis e varredores, informais, caixas de supermercado, etc. Ou seja, os trabalhadores em serviços precários, com baixos salários, e expostos ao vírus.

É urgente que a população seja testada em massa para fazer com que o combate ao vírus seja organizado de maneira racional. Também urgente é a necessidade de EPI’s adequados aos trabalhadores na linha de frente, em especial os da saúde, que amargam com máscaras de baixa qualidade (quando existem). Também se faz necessário um sistema de saúde racional que esteja a favor de suprir toda a demanda que se coloca no momento, e nesse sentido já que os trabalhadores são a linha de frente nessa luta, que o SUS esteja 100% sob controle das trabalhadoras e trabalhadores da saúde. Para isso é necessário a revogação da lei do teto de gastos e o não pagamento da dívida pública para que assim possamos direcionar os recursos nas áreas prioritárias como a saúde e não para os bolsos dos grandes banqueiros do qual Bolsonaro se coloca na linha de frente para salvar os lucros mesmo que isso custe o colapso da saúde pública e consequentemente nossas vidas. Somente os trabalhadores da saúde junto com o restante da classe trabalhadora podem dar a resposta para a crise da COVID-19.




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