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PETRÓLEO | Rússia e Arábia Saudita estudam diminuir oferta de petróleo: acomodação em meio a tendência de baixa

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sexta-feira 29 de janeiro de 2016 | 00:00

Depois de tocar um piso de mais de uma década o preço do petróleo está se recompondo levemente. Chegando no piso de 30 dólares o barril, e mesmo abaixo disto, a mercadoria que já chegou a cotações de cerca de 120 dólares, agora está sendo programada para vendas futuras a 34 dólares. Uma alta de mais dez por cento nos últimos dias mas que ainda está muito longe de retomar os picos anteriores e não dá um respiro a países dependentes como a Venezuela nem um respiro contra as intenções de Dilma de privatizar partes da Petrobras.

Esta alta tem como pano de fundo diversas especulações sobre a redução da oferta pelos países exportadores. Hoje alguns anúncios parecem indicar algum elemento de verdade nas especulações e os preços subiram.

O Ministro de Energia da Rússia, Alexander Novak, disse nesta quinta-feira que os produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) poderiam discutir em fevereiro um corte de 5% na produção, acrescentando que ainda é muito cedo para falar sobre qualquer acordo.

"Existem muitas questões a serem conversadas sobre um corte na produção. A fim de começar a trabalhar através dessas questões, nós precisamos de um acordo geral, mas é muito cedo para falar sobre isso. Este será o assunto da reunião e da discussão em fevereiro", disse Novak a repórteres, de acordo com a agência estatal de notícias russa Tass.

Novak disse que não existe nenhuma decisão ainda sobre a reunião, que foi proposta pela Venezuela, se teria a presença de ministros ou de outras autoridades. A confirmação da reunião contribuiu para subir os preços do petróleo no mercado internacional e com isto também as ações da Petrobras, com os investidores contentes com medidas que acelerarão a privatização de parte dos ativos da empresa.
A confirmação desta reunião hoje continuou a tendência de alta mostrada já ontem quando o ministro de energia do Iraque anunciou que seria possível um acordo e que possivelmente a Arábia Saudita toparia a reunião.

Com a expansão da produção em países não membros do cartel da OPEP, tais como a Rússia, México e o próprio Brasil um acordo entre o maior produtor da OPEP (a Arábia Saudita) e o maior produtor de fora do cartel (a Rússia) é crucial para reduzir a oferta de petróleo e assim subir o preço da cobiçada matéria-prima.

Alta pontual em meio a um cenário econômico e geopolítico que pressiona para a baixa

Há muita discussão entre analistas do motivo de fundo para a rápida queda do petróleo nos últimos anos. Um principal motivo de fundo seria a redução no crescimento da economia mundial, sobretudo da China. Este motivo econômico fundamental que reduz a expectativa de crescimento da demanda não parece ter nenhuma perspectiva de mudança importante nos próximos anos, visto que o gigante asiático se debate entre contradições internas para girar sua economia para maior consumo interno ao custo de afetar os lucros dos exportadores ou ao contrário reduzir o valor dos salários para manter seu parque industrial exportador a pleno vapor. A combinação de interesses entre os setores vai diminuindo e as perspectivas “de confluência virtuosa” diminuem, e mais que isto, tal como outros BRICS a China pode a depender do desenvolvimento de suas contradições transitar de estimulo à economia mundial para seu avesso: motor de crises.

Outro motivo para a tendência de queda da commodity seria a expansão da oferta na última década com saltos na produção em países que não são membros do cartel da OPEP, como Rússia, México e Brasil, e sobretudo com a exploração em grande escala do gás de xisto betuminoso (shale gas) nos EUA. A altamente poluente tecnologia do fracking tem permitido que este país retire grandes volumes deste gás não convencional a preços baixos.

Uma das especulações para a manutenção da oferta pela OPEP mesmo com redução do consumo seria uma tentativa da Arábia Saudita e outros imensos produtores de minarem os investimentos no gás de xisto betuminoso nos EUA ou mesmo em outras províncias petrolíferas com custos mais elevados como o próprio pré-sal brasileiro.

Com o fim do embargo ao Irã e ao mesmo tempo um salto nas tensões geopolíticas entre este país e a Arábia Saudita, muito se especula que o país que é junto de Israel o maior aliado do imperialismo no Oriente Médio esteja forçando a manutenção de preços baixos para que seu vizinho e adversário estratégico não atraia investimentos e assim não ganhe participação no mercado internacional de petróleo. Ou mesmo pressionar que cortará mais a produção e elevará o preço do barril para que o fim do embargo ao Irã não signifique fim de todas as sanções. O interesse estratégico e de longo prazo se sobrepõe as perdas de hoje nestes cálculos.

Como maior produtor do mundo a Arábia Saudita e outros países do Golfo que são seus aliados procuram, mesmo que a custas de perder dinheiro momentaneamente minar seus concorrentes no futuro e preparar maiores lucros amanhã.

Analistas financeiros também destacam como interessa a alguns setores do establishment norte-americano uma leve alta do petróleo, pois seus preços muito baixos estariam gerando uma deflação naquele país e atrasando o aumento dos juros por parte da FED.

Seja pelo ângulo da economia como da geopolítica os movimentos fundamentais apontam a um longo período de petróleo com baixos preços. Com oscilações acima e abaixo ou mesmo alguma tendência a acomodação em um patamar historicamente baixo mas que ainda exigiria nova alta de 10%, talvez o petróleo pode evoluir para um patamar de 40 dólares.

Os mercados acionários comemorarão mas as pressões sobre a Venezuela e sua gigantesca dependência do petróleo ou da Petrobras com dívidas estratosféricas devido a corrupção e projetos políticos faraônicos e irracionais seguirá mesmo com estas altas que geram comemorações de um dia mas não resolvem o questionamento estratégico posto nos próximos anos. Os trabalhadores da indústria do petróleo já somam um número estimado de 200 mil demissões em todo o mundo desde o começo da queda do preço do barril, uma estabilização em preços ainda baixos seria usado pelos monopólios para continuar a demitir, agora com a desculpa de corte na produção. As perspectivas, a depender das empresas estrangeiras, da Petrobras e do governo Dilma é dos petroleiros brasileiros aumentarem estas cifras.

Com informações da Agência Estado




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