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DEBATE | Resposta ao editorial da Folha de São Paulo deste domingo

A Folha reivindicou como bons sinais da economia o que na verdade é uma operação política e ataque especulativo do capital financeiro. Querem enganar os trabalhadores e pressionar para obter maiores lucros. Estes setores capitalistas foram parte dos que o PT mais alimentou em seus governos. Os trabalhadores têm alternativa entre estes blocos?

Flávia SilvaCampinas @FFerreiraFlavia

segunda-feira 7 de março de 2016 | 13:54

Neste domingo (06), o editorial do diário Folha, intitulado “Está no preço”, discutia “ entras as variáveis a instigar a oferta e a demanda [de dólares e investimentos], há de ser considerada a continuidade de um governo cuja impotência obstrui a recuperação da economia” e ainda que “ a conexão entre a paralisia decisória de Brasília e a severa recessão é evidenciada pelos (...) números do Produto Interno Bruto [PIB]” .

O artigo conclui com uma afirmação falaciosa e de cunho liberal, que é “a ausência de liderança política -e, em consequência, de solução para o Orçamento federal – que exacerba o pessimismo nos mercados e os ajustes no trabalho [ leia-se aumento no desemprego e queda nos salários], moedas e ações”. Leia aqui a versão completa da análise sobre a desvalorização do dólar nesta sexta-feira.

Capital especulativo e o imperialismo: interesses de lucros por trás da Lava-Jato

Não é a primeira vez que as bolsas de valores oscilam tanto ao sabor dos ventos da Lava-Jato e dos rumos da crise política que se arrasta no país, vimos este filme com a saída de Levy do Ministério da Fazenda e com a abertura do processo de impeachment de Dilma por Cunha. Toda esta oscilação que leva a alterações bruscas na cotação do dólar, no caso desta sexta (04), com a valorização da moeda, na medida em que entraram mais dólares no país, injetados por investidores estrangeiros em sua maioria que compraram ações de empresas na Bolsa brasileira, dentre elas da Petrobrás e Bancos.

Este movimento de especulação dos capitais na Bolsa que reduziu o preço do dólar foi vangloriado pelo editorial da Folha de São Paulo, em sintonia com outros editoriais econômicos do Estado de São Paulo e colunistas da Globo. O motivo foi que este movimento supostamente indicaria que “bons ventos” viriam para a economia brasileira com a proximidade de uma resolução da crise política a partir de uma “ruptura” com a situação atual, que ainda não está definida qual será. Mas que estaria mais próximo do impeachment seja via TSE ou pelo processo na Câmara.

A economia brasileira na Era Lula-Dilma aprofundou sua dependência com o capital estrangeiro, com as finanças internacionais, o capital especulativo atraído por vantajosas altas taxas de juros. Esse dinheiro irrigou o mercado de consumo nacional com crédito barato e favoreceu uma maior dependência da economia a variação dos preços e da demanda mundial por matérias-primas como soja, milho, minério de ferro, petróleo.

A quantidade de capital estrangeiro que buscou se valorizar no país nestes últimos 15 anos é muito grande e pode estar com seus ganhos ameaçados com instabilidade política e econômica pela qual passa o país, e mais ainda, com a perspectiva cada vez mais prolongada de uma recessão mundial (baixo crescimento das economias europeias, dos EUA) agravada pela queda no ritmo de crescimento da economia chinesa, faz com que os capitais imperialistas aumentem a sua pressão em direção aos elos débeis da economia mundial como o Brasil.

O roubo do superávit primário e o que está por trás do “Orçamento federal” e a crise fiscal

Toda esta pressão do imperialismo se instala na “garantia” de que o país será capaz de cumprir com as metas de superávit primário (meta fiscal), de remuneração dos capitais estrangeiros investidos aqui, ou seja, com os lucros e os ganhos destes.
Para o imperialismo, as políticas de Dilma até o momento, não estariam sendo suficientes para esta “garantia” de “meta fiscal” ao capital especulativo, daí estes capitais terem pressionado o giro à direita de Dilma contra os trabalhadores, se apoiando no exemplo de [Maurício Macri na Argentina- http://www.esquerdadiario.com.br/A-24%C2%AA-fase-da-Lava-Jato-e-os-giros-a-direita-na-superestrutura-politica-sul-americana] (giro este que foi cuja última medida foi o recente e escandaloso acordo Dilma-Serra para entrega do Pré-sal aos monopólios estrangeiros).

Porém, do ponto de vista dos lucros dos capitalistas, é preciso um giro ainda maior à direita de Dilma, por isto, os “mercados” (especuladores) comemoraram uma mais alta probabilidade de impeachment na conjuntura política a partir da condução coercitiva de Lula nesta sexta-feira.

A política econômica de Dilma: os trabalhadores pagando pela crise

No entanto, com essa denúncia do caráter especulativo e político das oscilações “favoráveis” da economia, para enganar os trabalhadores e pressionar para maiores concessões ao grande capital, não queremos aqui defender a política econômica de Dilma ao denunciar a falácia do argumento da Folha, que favorece indiretamente o uso do mecanismo reacionário do impeachment apoiado pelos interesses de lucros dos capitais imperialistas para aprofundar os ajustes contra os trabalhadores que já vem sendo aplicados pelo governo do PT.

O governo Dilma começa 2015 com uma série de ataques que tendem a se aprofundar por meio dos chamados “ ajustes estruturais”. Nesta lista de ataques estão a adoção do PPE (“Plano de Proteção ao Empresário”, com redução de jornada e de salários), os cortes no seguro desemprego e seguro defeso, cortes nos gastos sociais, e em programas do próprio governo como Minha Casa Minha Vida e Prouni e FIES.

Adiciona-se ainda, o aumento de tarifas em serviços básicos como energia, além de medidas que ampliam a privatização de portos, aeroportos e estradas e o próprio desmonte e privatização da Petrobrás. Todos estes ataques, se somarão a outras propostas de agenda neoliberal de Dilma e Nelson Barbosa, como a Reforma da Previdência (aumento da idade mínima para a aposentadoria) e maiores cortes de gastos públicos e com o funcionalismo a fim de destinar uma soma ainda maior de dinheiro público para o pagamento dos juros da dívida aos banqueiros e especuladores capitalistas.

Uma saída independente

Não há neutralidade tanto na investigação da Lava-Jato, quanto no editorial econômico da Folha de São Paulo. Aos trabalhadores e a juventude não interessa nenhuma das saídas econômicas para a crise que vem sendo aplicadas ou que estão propostas pelo governo do PT ou esse capital que pressiona com ataques especulativos.

Por estes motivos, o Esquerda Diário impulsionado pelo Movimento Revolucionário de Trabalhadores defende a construção, a partir das lutas em curso no país como as dos professores e secundaristas do Rio de Janeiro e os trabalhadores da Mabe e da GM, de uma saída independente dos governos e dos patrões para a atual crise política e econômica.


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