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PSICÓLOGA JÁ FOI REPREENDIDA POR CONSELHO DE PSICOLOGIA | Responsável por liminar que autoriza "cura gay" comparou a militância LGBT ao nazismo

segunda-feira 18 de setembro de 2017 | Edição do dia

Em 2009, a psicóloga Rozângela Alves Justino se tornou célebre ao defender publicamente que a homossexualidade é um transtorno e que deveria ser curada. Ela foi publicamente censurada pelo Conselho Federal de Psicologia que desde 1999 proíbe qualquer tipo de terapia com o absurdo propósito de "curar" a homossexualidade. A resolução do CFP afirma que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que "os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades".

Quando Rozângela foi punida pelo CFP, o bispo da Diocese de Recife da Igreja Anglicana do Cone Sul da América, reverendo Robinson Cavalcanti, declarou seu apoio à psicóloga, considerando que o resultado do julgamento foi um "ato de perseguição heterofóbica" do Conselho Federal de Psicologia. E a própria "psicóloga" afirmou que "o movimento pró-homossexualismo tem feito alianças com conselhos de psicologia e quer implantar a ditadura gay no país".

Após o caso, a revista Veja decidiu ceder suas páginas para que Rozângela propagandeasse suas ideias numa escandalosa entrevista. Nesse mesmo período, ela mantinha um blog onde divulgava ações de sua campanha pela "liberdade" de "curar" homossexuais.

A liminar que foi parcialmente aceita pela Justiça Federal e autoriza o uso de terapias chamadas de "reversão sexual" para "curar" homossexuais é de autoria de Rozângela, que não tem pudor de falar aos quatro ventos suas posições abertamente homofóbicas e defender sua intervenção contra a homossexualidade em seu consultório.

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Ela afirma que o homossexualidade é um "transtorno" que merece tratamento, baseando suas declarações absurdas em argumentos como a culpa que atinge os pacientes que viriam a seu consultório procurando "se curar". Evidentemente não passa pela cabeça reacionária de Rozângela que a culpa pode ser causada pelo fato de que há gente como ela, que trata a sexualidade alheia como uma doença a ser erradicada.

Na entrevista, disse também como se recusaria a atender um paciente gay que procurasse orientação psicológica para poder enfrentar a tarefa de assumir publicamente sua sexualidade (e não "curar-se" dela). A "psicóloga" afirma que atende os pacientes "de acordo com suas possibilidades". Evidentemente, aceitar a homossexualidade de um paciente não está dentro de suas possibilidades.

Sobre a decisão do Conselho Federal de Psicologia (CFP) de repreender sua prática, ela chega a afirmar que "no conselho muitos homossexuais, e eles estão deliberando em causa própria", ou seja, quem não compartilha com sua lavagem-cerebral antigay só poderia, na visão de Rozângela, fazer parte da "conspiração gay". Em seus estreitos limites de intolerância, ninguém pode aceitar livremente a homossexualidade alheia a não ser que seja também gay, ou, em sua visão, "doente".

Mas a questão de quem é o doente poderia entrar em questão quando entramos mais a fundo nas teorias conspiratórias de Rozângela a respeito do "complô gay". Veja o que ela diz: "esse conselho fez aliança com um movimento politicamente organizado que busca a heterodestruição e a desconstrução social através do movimento feminista e do movimento pró-homossexualista, formados por pessoas que trabalham contra as normas e os valores sociais."

Vídeo de Rozangela Justino contra os homossexuais

Não é surpreendente que ela seja contra o feminismo e associe esse ao movimento "pró-homossexualista", e veja nisso a ameaça aos "valores sociais" (claramente os únicos "valores sociais" são os dela, os demais seriam a corrupção que visa a "desconstrução social", levando o "caos gay" a todos os âmbitos da sociedade). Contudo, o que espanta ainda mais é os níveis verdadeiramente delirantes a que chega Rozângela ao associar os "pró-homossexualistas" ao nazismo: "O ativismo pró-homossexualismo está diretamente ligado ao nazismo. Escrevi um artigo em que mostro que os dois movimentos têm coisas em comum. (...) As políticas públicas pró-homossexualismo querem, por exemplo, criar uma nova raça e eliminar pessoas. (...) Essas pessoas que estão homossexuais estão ligadas a todo um poder nazista de controle mundial."

As ideias delirantes de Rozângela não param aí, e remontam ao início de seu encontro com a igreja evangélica e sua cruzada contra a homossexualidade: " Nos anos 70, aconteceu algo muito estranho na minha vida. Eu comprei um disco do Chico Buarque. De um lado estavam as músicas normais dele. Do outro, em vez de tocar Carolina, vinha um chamamento. Eram todas canções evangélicas. Falavam da criação de Deus e do chamamento da ovelha perdida. Fui tentar trocar o LP e, na loja, vi que todos os discos estavam certinhos, menos o meu. Fiquei pensando se Deus estava falando comigo."

Na entrevista, também transparecem traços paranóides: a foto de Rozângela (veja no abaixo) traz ela mascarada e disfarçada. Ao ser questionada pelo motivo, ela fala sobre ser perseguida, inclusive possivelmente pelo repórter da Veja: "Trabalho num clima de medo, clandestinamente, porque sou muito ameaçada. Aliás, estou fazendo esta entrevista e nem sei se você não está a serviço dos ativistas pró-homossexualimo. Eu estou correndo risco."

Ela procura construir uma imagem de que quer ajudar, afirmando absurdos como de que a homossexualidade é causada por abusos sexuais infantis, e de que as pessoas não são gays, mas "estão gays", e ela os acolhe.

Não se trata aqui de fazer um diagnóstico das causas ou condições que levam Rozângela a defender suas ideias obscurantistas de que os homossexuais devem ser "curados" e "salvos" de suas mãos, mas sim de vermos em que se fundamenta a liminar que foi acolhida parcialmente pela justiça federal. São ideias como essas que estão por trás das "terapias de reversão sexual" aprovadas pelo judiciário brasileiro. Enquanto isso, censuram peças com protagonistas travestis, apreendem quadros que denunciam o machismo e pedofilia, acabam com exposições com temática LGBT.

Não podemos aceitar que nos tirem a liberdade sobre nossos corpos e mentes. Basta de criminalização e patologização dos LGBTs!

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Em 1935, Freud já dizia que a homossexualidade não era “doença” e não devia ser “curada”




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