×

I SEMINÁRIO DE NEGROS E NEGRAS DA USP | Resoluções, balanço e perspectivas

Nesse artigo de encerramento, Marcelo “Pablito”, Diretor da Secretaria de Negros, Negras e do Combate ao Racismo do Sindicato de Trabalhadores da USP (SINTUSP), fala sobre as resoluções aprovadas no último dia de discussões desse importante Encontro e apresenta um balanço e as perspectivas a partir de agora.

terça-feira 23 de junho de 2015 | 00:30

Terminou nesse domingo, dia 21/06, o I Seminário de Negros e Negras da USP. Foram três dias de intenso debate sobre a conjuntura nacional, internacional e a situação do negro. Tiveram painéis que discutiram a mulher negra, o negro LGBT, as religiões afrodescendentes e a violência policial. Além disso, duas mesas de debate pautaram a educação e a ausência de políticas positivas para o povo negro, assim como o cenário de ataques à juventude e à classe trabalhadora com os ajustes do governo federal e as leis, como a redução da maioridade penal, em trânsito no Congresso, que atacam diretamente a vida dos negros e negras.

Nesse artigo de encerramento, Marcello “Pablito”, Diretor da Secretaria de Negros, Negras e do Combate ao Racismo do Sindicato de Trabalhadores da USP (SINTUSP), fala sobre as resoluções aprovadas no último dia de discussões desse importante Encontro e apresenta um balanço e as perspectivas a partir de agora.

“Importante apontar aqui que a primeira resolução da Plenária foi um posicionamento unânime contra a perseguição aos lutadores, trabalhadores, estudantes da USP que vem sendo atacados pela Reitoria e sobre a questão do meu processo.”

Sobre a situação internacional: EUA, Haiti, África e Europa
“Na Plenária Final foram votados uma série de elementos do ponto de vista da situação internacional no que atinge os negros. Então saiu como resolução o repúdio ao assassinato dos negros na Carolina do Sul; um posicionamento do Seminário contra o ódio e racismo que vem sendo perpetrado contra os negros, indígenas e imigrantes nos EUA; também em apoio as mobilizações que estão ocorrendo em Ferguson e Baltimore, exigindo a punição dos assassinos de Mike Brown e Erick Garner e de todos os negros que vem sendo assassinados nas periferias norte-americanas; e exigimos a libertação imediata de todos os Panteras Negras.

Foi discutido também a situação dos imigrantes, principalmente do norte da África, que tentam entrar na Europa e o quanto as leis nacionalistas e protecionistas mostram mais uma vez que a crise econômica tende a aumentar o racismo e a xenofobia e os negros, os imigrantes e os setores mais oprimidos são aqueles que primeiro pagam pela crise econômica. Aprovamos uma moção exigindo a auto-determinação de todos os povos africanos e a garantia de que todos os imigrantes que estão na Europa tenham os mesmos direitos civis, trabalhistas, etc, para não aceitar que a crise econômica seja descarregada nas costas desse setor da classe trabalhadora.

Um dos outros elementos que foi discutido foi a campanha em defesa e solidariedade aos imigrantes haitianos e pela retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti.”

Sobre a situação nacional: Terceirização, maioridade penal e raízes afrodescendentes
“Do ponto de vista da situação nacional foi votada resolução contra a PL 4330, por entender que ela vai ampliar ainda em maior escala a terceirização, que atinge em primeiro lugar as mulheres negras. Foi votado uma resolução pelo fim do trabalho precário, por iguais direitos e iguais salários entre trabalhadores brancos e negros e o salário mínimo do DIEESE para todos com a efetivação dos terceirizados com iguais direitos e salários.

Sobre a questão do genocídio da população negra, foi votado contra a repressão policial e os autos de resistência, pela retirada das UPPS e da polícia dos morros e favelas e abaixo a redução da maioridade penal. Inclusive foi aprovada a incorporação ao ato do dia 30/06, que vai acontecer em Brasília contra a redução da maioridade penal.

Diante dos casos de intolerância e agressão contra praticantes do candomblé foi votada uma campanha contra a perseguição às religiões de matriz africana. E do ponto de vista dos quilombolas e indígenas, a exigência de que o governo reconheça todos os territórios que hoje vem sendo invadidos por conta da especulação imobiliária e dos interesses das empreiteiras e do agronegócio.

Manifesto por uma Frente Negra da USP

“Foi aprovado no final um manifesto no sentido de tentar unificar trabalhadores, estudantes e professores negros da USP, fazendo um chamado amplo a todos os setores, coletivos, etc, que se organizam na universidade no sentido de conformar uma frente negra pra combater o racismo na universidade e exigindo cotas raciais já rumo ao fim do vestibular.”

Balanço e perspectivas do I Seminário de Negros e Negras da USP
“Do ponto de vista do balanço do Seminário é importante ressaltar que, em um primeiro momento, a organização do Seminário cometeu erros que levaram, inclusive, a que os trabalhadores não estivessem desde o primeiro momento na convocatória deste Seminário. Corrigiram esse erro. E nesse marco, o Seminário teve um papel importante do ponto de vista da situação interna que tem a Universidade, onde a Reitoria vem fazendo um projeto de desmonte da Universidade Pública e a tendência é que a universidade se torne ainda mais elitista e racista do que ela já é hoje.

E do ponto de vista da situação nacional também é importante, porque começa a se agrupar um setor de vanguarda no movimento negro, que esse Seminário conseguiu reunir, que agora tem a tarefa de se dirigir a todos os setores do movimento negro que estão fora da universidade, as entidades do movimento negro, para se posicionarem claramente contra a redução da maioridade penal, pelas cotas raciais, contra a terceirização, pela retirada das tropas brasileiras do Haiti e organizar um combate de maneira independente do governo e dos capitalistas, porque essa é a única via de conseguir atender as reivindicações dos setores negros em nosso país. Então teve esse papel importante, mas que daí pra frente fica o desafio de aglutinar em torno dos setores que estavam lá outros trabalhadores, estudantes, movimentos que estão fora da universidade para lutar contra as medidas de ajuste do governo, contra o desmonte da universidade e contra as medidas de precarização que atingem em primeiro lugar os negros do conjunto do país.”




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias