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ORIENTE MÉDIO | #ResistePalestina: as facas de uma nova Intifada?

sexta-feira 16 de outubro de 2015 | 00:00

Fotografia: EFE

Sete israelenses e trinta palestinos terminaram assassinados junto a vários feridos em uma espiral de violência iniciada na Cidade Velha de Jerusalém oriental, o epicentro dos enfrentamentos e uma das regiões mais convulsionadas do planeta. Os ataques individuais com facas de cozinha e chaves de fenda, e até veículos que investem contra pedestres, combinaram-se com protestos de rua à base de pedras e coquetéis Molotov, onde mais de mil palestinos foram feridos e outros 600 acabaram detidos, segundo a organização de direitos humanos israelense Betselem.

A Força de Defesa Israelense (FDI) pôs em prática seu novo protocolo de disparar “frente à menor suspeita”. A televisão europeia reproduziu um vídeo que mostrou a ação dos “mistaravim”, os temíveis agentes israelenses, infiltrados nas barricadas que incitavam os jovens a jogar pedras para depois abrir fogo contra eles e prendê-los.

Se bem no início os enfrentamentos estavam circunscritos à Jerusalém oriental, o campo de refugiados de Shuafat, o norte de Ramallah e as colônias judias na Cisjordânia, rapidamente se espalharam à Gaza e às cidades israelenses de Petaj Tikva, Kiriat Gat, Jaffa, nas imediações de Tel Aviv, assim como em Raanana, Hedera, Afula, Nazareth e Dimona.

A figura das facas inspirou medo nas massas israelenses depois de vinte anos de relativa tranquilidade (exceto 2006 durante a segunda Guerra do Líbano que afetou a Galileia, a zona norte israelense). O prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, chamou a população a armar-se para circular pela cidade. O premier direitista Benjamin Netanyahu e todo o establishment internacional se “surpreendem” frente à crise que denominam “onda de terror”, a mesma que os palestinos se vêm obrigados a padecer cotidianamente em épocas de relativa estabilidade, fruto de uma política repressiva permanente. Para sua preocupação, todas as pesquisas de opinião mostraram que 50% dos palestinos é propenso à luta armada e apenas 30% está a favor de reiniciar negociações diplomáticas com o governo israelense.

Depois de uma reunião de emergência, Netanyahu mobilizou seis companhias da FDI e autorizou o recrutamento de centenas de guardas de segurança, depois de aumentar as penas de prisão para oito anos para os “lançadores de pedras” e habilitar a demolição das moradias relacionadas com os suspeitos de “terrorismo”. Em tom provocador, concluiu que os cadáveres dos palestinos não seriam devolvidos para evitar “uma exibição de apoio ao terrorismo”.

Os “meninos de Oslo”

Diferente das intifadas de 1987 e 2000, até o momento as dezenas de protestos de rua são agrupamentos espontâneos, carentes de direção política e centralização (produto da grande fragmentação territorial imposta pela FDI e pelas colônias judias) e protagonizadas por jovens predominantemente laicos e sem filiação política. De caráter anárquico, os jovens se auto-convocam mediante as redes sociais e se reconhecem como “os meninos de Oslo”.

O apelido alude à fonte de suas penúrias ancoradas nos fraudulentos acordos de paz de 1993, assinados por todo o secretariado do Fatah, os sionistas e pelos EUA, que só serviram para estender a colonização judia da Cisjordânia com 500 mil colonos armados estabelecidos em mais de 50% deste território palestino, ocupando assim quase 85% da superfície da velha Palestina histórica. As novas gerações depreciam estes acordos que Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina e signatário dos mesmos, deixou sem efeito há poucas semanas na Assembleia Geral da ONU. A falta de legitimidade do arqui-corrompido Abbas se expressa também em sua política repressiva contra os jovens desempregados dos bairros mais pobres, pelas mãos dos corpos de segurança instruídos pela FDI. Estes jovens foram educados em sua infância pela operação Escudo Defensivo de 2002, a resposta militar israelense que esmagou a Segunda Intifada com mais de 5.000 mortos, seguindo este abc com as “detenções administrativas” nas prisões israelenses, a demarcação do Muro do Apartheid e os operativos de guerra contra Gaza (Margem Protetora em 2014, Pilar Defensivo em 2012 e Chumbo Fundido em 2009), que transformaram essa franja em um campo de concentração a céu aberto, com 1,6 milhões de párias que suportam um bloqueio por terra, ar e mar desde 2007.

Um salto qualitativo

A faísca que incendiou o estado de rebelião foi a infinidade de provocações e batidas que a FDI lançou sobre a Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar santo dos muçulmanos, onde se encontra a mesquita Al Aqsa. Nessa região de 17 hectares as autoridades israelenses e o Rabinato pretendem construir o chamado Templo do Monte por causa do movimento de colonos e suas ilusões milenaristas de reeditar “o reino de David”, a ideologia reacionária empregada para justificar o expansionismo a um Grande Israel. Assim se propõem a consumar a “judaização” da Jerusalém oriental, uma região historicamente árabe, ocupada depois da Guerra dos Seis Dias de 1967 (junto à Gaza, Cisjordânia, a península do Sinai e os Altos do Golã) e anexada ao Estado judeu, ainda que sem reconhecimento da ONU. Cabe recordar que a Segunda Intifada começou com a provocação do genocida e líder do Likud Ariel Sharon em sua visita à Esplanada das Mesquitas, fazendo apologia à posse judia daquela área.

O salto qualitativo na escalada de violência resulta do notório incremento dos enfrentamentos observados durante os últimos anos. Segundo o Shin Bet, a principal instituição de segurança do Estado sionista, se em 2011 foram registrados 320 incidentes, em 2013 alcançaram 1.271 enquanto se quintuplicaram os incidentes com armas de fogo. Em seu quarto mandato, os sucessivos governos de Netanyahu radicalizaram sua política xenófoba como expressão da direitização da sociedade israelense, até consumar um governo de direita “quimicamente puro”, formado pelo Likud, o ultra-nacionalista Habait Hayeudi de Naftali Bennet e os judeus ortodoxos de Shas e Judaísmo Unido pela Torá, que expressam a aliança entre a direita, os movimentos de colonos e o Rabinato e suas frações mais fundamentalistas. Como produto deste caminho, o movimento de colonos aumentou suas ações de vandalismo contra olivares, mesquitas, igrejas e moradias palestinas, tal como ocorreu há dois meses na aldeia de Duma, que terminou no assassinato de um bebê de apenas 18 meses e seus pais. O desenvolvimento destas bandas fascistas que assinam seus atentados com a consigna Tag Mejir, alude ao preço que devem pagar os palestinos por negarem-se a migrar de suas terras.

Só a destruição do Estado de Israel, um estado terrorista baseado na limpeza étnica do povo palestino, pode assentar as bases para uma genuína relação fraternal entre árabes e judeus e a plena liberdade de culto, pois não se trata de uma “guerra contra os infiéis”, como de forma reacionária diz o Hamas de acordo à Sharia, senão que do legítimo e pleno direito à autodeterminação nacional do povo palestino, incompatível com a vigência deste estado racista e colonialista.




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