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USP | Representante dos trabalhadores da USP no CO diz: esse Conselho precisa ser dissolvido

“O Conselho Universitário é formado por uma casta que está desmontando a universidade e fazendo negociatas com os recursos dela para manter seus privilégios. Somente destruindo essa estrutura de poder, e impondo uma Assembleia Estatuinte que abra caminho para que trabalhadores, professores e a maioria estudantil controlem a universidade, ela poderá se desenvolver a serviço dos trabalhadores e do povo pobre.”

segunda-feira 11 de junho de 2018 | Edição do dia

No dia 29 de Maio, o Conselho Universitário da USP aprovou um reajuste de 1,5% nos salários dos trabalhadores e professores, o que significa 32 reais no piso salarial dos funcionários. Uma semana depois, foi aprovado na Assembleia Legislativa um aumento no teto dos supersalários do funcionalismo público, pagos somente a uma casta minoritária do Estado, que inclui o Reitor da USP, Vahan Agopyan, e a grande maioria do Conselho Universitário. De R$ 21,6 mil reais para R$ 30,4 mil reais, um aumento de R$ 9 mil. Tudo isso em meio a uma greve nas universidades estaduais paulistas, com adesão das três categorias da USP. Frente a isso, entrevistamos Bruno Gilga, representante dos trabalhadores da USP no Conselho Universitário.

Como é formado o Conselho Universitário?

B.G.: O Conselho Universitário é formado por uma casta parasita, a grande maioria de professores titulares que não passa por nenhuma eleição direta e recebe super-salários. São quase 100 dos cerca de 120 membros, e usam seus cargos em proveito próprio ampliando a terceirização e o peso das fundações privadas na USP: para que se tenha ideia, segundo a Associação dos Docentes da USP, 40% dos professores que compõem o CO é dirigente de fundações privadas que lucram milhões de reais ao ano com consultorias e cursos pagos oferecidos com os laboratórios, equipamentos e professores da USP, pagando uma taxa de 5% a 15% do que ganharem, sem nenhum risco. Já os 14 mil trabalhadores têm somente 3 cadeiras. A mesma quantidade, por exemplo, que as Federações patronais, de fora da universidade. E os cerca de 90 mil estudantes, têm 10 representantes de graduação e 5 de pós graduação. É um teatro, uma farsa de “democracia” que não consegue disfarçar que está não só distante, mas voltado contra os interesses da universidade e da esmagadora maioria de sua comunidade.

Qual a relação entre o Conselho Universitário e a greve em curso?

B.G.: O Conselho Universitário votou essa proposta de arrocho salarial. Vota também, todos os anos, os valores cada vez mais insuficientes para a permanência estudantil. Aprovou também no ano passado - lembremos, literalmente sobre o sangue de estudantes e trabalhadores, derramado por uma repressão brutalmente violenta ordenada pela reitoria e pelo governo e realizada pelo batalhão “universitário” da PM - os “Parâmetros de Sustentabilidade” conhecidos como “PEC do Fim da USP”. Esses parâmetros determinam a continuidade, pelos próximos anos, de uma política pela qual a reitoria cortou mais de 3 mil postos de trabalho na sua última gestão; quase não contrata professores há cinco anos, deixando as salas cada vez mais superlotadas e os cursos dependentes de professores com contratos temporários e salários de R$1200 a R$1800; fechou o pronto socorro e grande parte dos serviços do Hospital Universitário, do qual depende grande parte da população da região, preparando sua desvinculação da universidade e precarizando os cursos da saúde; fechou creches que atendiam trabalhadoras e estudantes da USP, passando por cima inclusive de determinações judiciais, atacando a permanência das estudantes mães e os direitos das mulheres e crianças; entregou quase todos os restaurantes para empresas terceirizadas que lucram milhões contratando trabalhadores terceirizados que ganha metade ou um terço dos salários dos efetivos, e trabalham em condições muito piores, como no caso das trabalhadoras terceirizadas que compartilham o local de trabalho e a função com efetivos no Restaurante Central, mas diferente destes, passam fome por não terem o direito de comer a comida que servem, e que no fim do dia vai para o lixo. Tudo isso pelas políticas definidas por esse CO, para dar alguns exemplos.

E como tentam justificar essa política?

B.G.: Dizendo que falta dinheiro. Mas eles não vão reclamar para a ALESP ou para o governador Márcio França que é preciso investir mais nas universidades e na educação. Sequer denunciam que há anos os governos de Alckmin e França simplesmente não repassam integralmente os 9,57% do ICMS que a lei determina para as universidades, retirando ilegalmente dos seus orçamentos centenas de milhões ao ano. Vão à ALESP e ao Palácio dos Bandeirantes é para reclamar o aumento do teto dos seus salários, e conquistar um aumento de R$9 mil nos seus vencimentos, que custará mais do que o reajuste de 1,5% nos salários dos outros quase 20 mil trabalhadores e professores. Sem contar os demais privilégios, como as diárias que pagam ilegalmente para si mesmos, como um “auxílio-moradia” irregular, que somaram mais de R$60 mil só para o antigo reitor no último ano, e que estão sendo cobradas pelo Ministério Público de Contas. Para isso não falta dinheiro, enquanto na reunião do CO, que aprovou o arrocho, houve até um setor, como o diretor da Física, que defendeu não realizar sequer esse reajuste salarial, com a demagogia de que isso impediria de ampliar as políticas de permanência estudantil. Querem nos dividir, e que disputemos suas migalhas, enquanto só aumentam seus privilégios.

Por isso lutamos contra esses privilégios, como o aumento do teto salarial, e também por mais verbas para as universidades e para toda a educação. E é preciso lutar não somente pelo aumento do repasse do ICMS, que é um imposto que pesa mais sobre os mais pobres. Mas também por impostos progressivos sobre os mais ricos, e especialmente pelo não pagamento da dívida pública, pela qual um punhado de bancos e investidores, grande parte imperialistas, sugam por ano o equivalente a duzentas vezes todo o orçamento da USP!

E qual a alternativa a esse Conselho Universitário?

B.G.: Esse Conselho precisa ser dissolvido! Não é possível qualquer conciliação, qualquer saída sob o controle dessa estrutura de poder. E somente a mobilização massiva de estudantes, trabalhadores e professores, com sua auto-organização, pode acabar com essa estrutura de poder e dissolver o Conselho Universitário e o reitorado, impondo uma Assembleia Estatuinte Livre e Soberana que redefina toda a organização da universidade. Através dela, defendemos um governo universitário dos três setores, proporcional ao peso de cada um, com maioria estudantil, e aliado ao povo pobre. Somente um governo universitário assim poderá gerir a universidade em função não mais dos interesses dos empresários representados pela burocracia universitária, mas dos interesses dos trabalhadores e do povo pobre, garantindo também assim, verdadeiramente, a autonomia universitária e a liberdade de pesquisa e ensino.




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