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SAMPAPREV 2 | Relato de uma servidora: "sindicatos foram coniventes com a repressão policial em SP"

Nós do Esquerda Diário publicamos aqui um relato enviado a nós por uma ATE do município de São Paulo, que lutou desde o início juntamente com milhares de servidores públicos contra os ataques do governo de Nunes. Com direções sindicais que burocraticamente não permitiram a massificação desta luta, no último dia os servidores foram brutalmente reprimidos pela GCM e a PM, com bombas e balas de borracha, com a conivência dessas burocracias.

quinta-feira 11 de novembro de 2021 | Edição do dia

(Foto: reprodução de vídeo do g1)

"Depois de semanas de luta, em incansáveis atos debaixo de chuva ou sol, nós servidores municipais de São Paulo expressamos ontem nossa indignação com mais força.

Isso porque já estávamos indignados com a crueldade do ataque do Sampaprev 2, encomendado pelo prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) e vereadores como Holiday e Janaina Lima, e ainda tivemos que lidar com o jeito burocrático das direções das entidades, como SINPEEM e SINDSEP, que não abriram espaço real para nós da base falarmos nas assembleias, nem colocaram em votação todas as propostas.

Na maioria esmagadora das escolas, essas direções não impulsionaram discussões com os educadores para construir a greve. Tampouco conversas com a população para que soubesse sobre o que estava acontecendo, o que contribuiria para nos aproximar da comunidade escolar.

Na minha unidade escolar também não vi essa tentativa de convencimento, muito pelo contrário, depois de decretada a greve, o representante sindical sequer compareceu na escola para esclarecer até mesmo nós, que estávamos a favor da mobilização, do que levou a tomá-la naquele momento, muitos dos setores com mais disposição de luta ficaram sem entender em um primeiro momento.

Era de se esperar que parte se revoltasse cada vez mais, e ontem, durante um dia decisivo de votação, foi possível assistir uma série de trabalhadores que expressaram sua radicalidade e indignação também contra as direções sindicais, especialmente de Claudio Fonseca à frente do SINPEEM, que cinicamente falava sobre "respeitar a democracia" tendo iniciado e encerrado a greve a toque de caixa sem buscar massificar assembleias de base, nem impulsionar um comando de greve.

Quando a GCM começou a reprimir os manifestantes, a máscara da direção do SINPEEM e das outras entidades presentes começou a cair. Foi possível assistir a falas que alegavam que os servidores ali eram infiltrados do MBL e bolsonaristas que queriam dividir o movimento. Mas os protestos que aconteciam até então eram contra os políticos que, enquanto aumentam seus salários, estão cortando nossos direitos e deixando a população na fila do osso, do lixo, da fome.

A greve que foi decidida por cima, de alguma forma, segundo Cláudio Fonseca, tinha sido decidida pela maioria que seria pacífica. Decisão essa que eu, servidora municipal que redijo esse texto, jamais pude sequer opinar. Não se trata de defender ações isoladas ou violência gratuita, se trata de querermos pelo menos ter voz nas nossas assembleias, podermos ser sujeitos da nossa própria luta.

Após tentar convencer a maioria de que haviam infiltrados, a burocracia começou a apontar para alguns manifestantes isolados e solicitar que a polícia revistasse suas mochilas em busca de aterfatos explosivos.

Pude assistir a revoltante cena de dois PMs coagindo um jovem negro que teve que sair às pressas do local, e só não foi levado porque a vanguarda que estava sendo chamada de todos os nomes possíveis o defendeu imediatamente, fazendo um cerco contra os PMs.

Enquanto essa barbaridade acontecia literalmente embaixo do nariz de Cláudio Fonseca, as falas seguiam alegando que a aglomeração que estava acontecendo era uma discussão entre ativistas. A burocracia se aproveitava do fato de que a maioria não podia ver o que estava acontecendo para encobrir uma ação policial injusta e racista.

Quando a própria direção nos rouba o direito à democracia de base, como ela mesma pode se indignar frente a uma vanguarda que quer fazer diferente, que tenta lutar da maneira que pode para não assistir seu futuro ser retirado com os braços cruzados?

Se há algo que ficou óbvio é que os servidores queriam lutar até o último segundo, mesmo depois que a repressão explodiu, depois de mais de seis horas de manifestação, tomando bomba, senhoras pegavam o megafone totalmente energizadas gritando palavras de ordem contra Holiday, Nunes, Milton Leite e todos aqueles que estavam nos atacando.

Mas a burocracia dividiu o movimento causando desconfiança entre nós, chamando nossos próprios companheiros de luta de infiltrados, agindo com conivência frente a intimidação de um jovem negro.

Nossas divergências não podem ser decididas com violência se essa violência parte de um ativista que grita contra o carro de som, mas pode ser resolvida com a violência policial? Violência essa que recaiu sobre a base enquanto a direção se escondia no seu carro de som e chegava a ameaçar ir embora com o mesmo.

Nenhum movimento, partido, grupo ou coletivo pode encher a boca para dizer que é de esquerda se encobre a ação policial contra negros. Mesmo que realmente tivéssemos decidido pela maioria que seríamos pacíficos, o que sequer tivemos a oportunidade de decidir, e se tratasse de um setor que estivesse indo contra uma decisão democrática, nossa postura precisa ser de defesa dos nossos, não jogamos nossos companheiros na fogueira para salvar a nós mesmos.

Mas não era o caso. O caso era que todos aqueles que gritavam indignados contra a burocracia eram servidores que não aguentavam mais não serem ouvidos, fomos acusados de não saber respeitar decisões democráticas por entidades que decidiram o fim da greve depois da meia noite em uma reunião de cúpula.

Fomos derrotados, mas cada servidor deve estar moralizado sabendo que deu literalmente seu sangue por essa luta, e devemos aprender com o show de horrores que aconteceu nesta quarta feira que é urgente superarmos a burocracia sindical se quisermos construir realmente nossa vitória."

Nós, do Esquerda Diário e do Movimento Nossa Classe Educação, deixamos aqui nossa solidariedade a todos aqueles que foram perseguidos, reprimidos e coagidos. Jamais abaixaremos a cabeça para os ataques dos governos e seguiremos na luta ao lado de toda a classe trabalhadora.




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