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GREVE: SAÚDE PÚBLICA DE MG | Relato: a greve da saúde em MG (Fhemig) tem rosto de mulher e negra

“Nosso direito a gente vai arrancar com greve!”, elas dizem.

MaréProfessora designada na rede estadual de MG

terça-feira 21 de janeiro de 2020 | Edição do dia

No pátio de um hospital, com seus uniformes, elas reclamam seus direitos e acham graça das tentativas dos patrões de enganá-las.

Um repasse da reunião que ocorreu com os representantes do governo do empresário Zema. É claro que eles propõem que acabe a greve. A primeira a se levantar e pegar o microfone, negra, diz seu nome, onde trabalha, e, curta e grossa, anuncia o sentimento de tantas outras ali presentes: “não tem isso de acabar com a greve não, eles não apresentaram proposta nenhuma, nada do que a gente tá pedindo foi atendido... se parar a greve agora a gente joga fora os dias que lutamos até aqui, e é capaz a gente perder a ajuda de custo”.

Aplaudida, é seguida por outra: “e o reajuste salarial?”, e outra “eu vou me aposentar, vocês também, com essa aposentadoria de miséria?”, e outra “eu tô há trinta anos nesse lugar, nada caiu do céu, tudo a gente conseguiu com greve”, e outra “qualquer pessoa na rua concorda que a gente tem que ter 13º, a gente tem que ir pra rua, falar com a população como tá a situação do trabalho de quem cuida da saúde do povo”.

Quando algum trabalhador se mostrava receoso, já que fazer greve é sinônimo de risco da perseguição da chefia, saber que pode haver corte de ponto, e que pode haver uma divisão entre poucos que mais lutam e outros que encontram mais dificuldades para isso, elas diziam “pois então a gente tem que ampliar a greve”, “vamos fazer manifestação”, “vamos pra Assembleia Legislativa”, e por aí vai.

Elas nem tremeram com a proposta do Zema de pagar uma parte do funcionalismo público e outra parte manter à míngua. Não titubearam frente à acusação da direção de Fhemig de ilegalidade da greve. Riram da proposta de acabar com a greve para então negociar. “Aqui ó...”, diz uma, gesticulando. “Isso aqui é meu direito”, diz outra, batendo no peito.

Se é verdade que existem muitos desafios pela frente para conquistar o que estas trabalhadoras e trabalhadores exigem, é verdade também que, na linha de frente desta empreitada, estão os que mais sofrem com o velho, e portanto têm mais vontade de lutar por uma nova realidade.

A despeito do machismo, do assédio, da discriminação que as mulheres negras sofrem; mesmo sendo elas a maioria entre as primeiras vítimas dos cortes na saúde, na educação, dos assassinatos pela polícia ou pelo descaso, das ditas “tragédias” como os rompimentos de barragens ou as enchentes (que são crimes capitalistas)... apesar disso, ou talvez por causa disso, a greve da Fhemig tem rosto de mulher negra.

A vitória (não da greve, mas a vitória de todos os explorados e oprimidos por esse sistema de miséria) será como algo assim: as mulheres, negros e negras, LGBTs, indígenas, da classe trabalhadora – e não empresários como o Zema – decidindo seu porvir.




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