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ELEIÇÕES DCE USP | Reinventar o DCE da USP por um movimento estudantil subversivo e aliado aos trabalhadores

A chapa Primavera nos Dentes para o DCE da USP em 2018, debate qual entidade precisamos para que o movimento estudantil possa se colocar em cena como um fator no cenário político nacional

Flávia ToledoSão Paulo

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

segunda-feira 6 de novembro de 2017 | Edição do dia

Estamos em meio ao processo eleitoral para o DCE da USP, um momento em que todos os setores do movimento estudantil buscam os estudantes para apresentar seus programas e pedir voto. Nós, da Primavera Nos Dentes, achamos que este é o melhor momento para debatermos as tarefas do movimento estudantil e sobre a própria entidade, que deveria representar os estudantes.

Nacionalmente, uma série de ataques recaem sobre a juventude. Altas taxas de desemprego, trabalho precário, censura e ataque à liberdade de expressão, reformas reacionárias sobre a educação impedindo o livre debate sobre gênero e sexualidade… Querem que nossa geração, seja uma geração sem perspectivas para o futuro, que não tem qualquer garantia de estabilidade, com altos índices de doenças psicológicas. Há uma forte crise de representatividade e uma busca incessante por respostas radicais à crise política, social e econômica que vivemos.

Esse espaço de dúvida que se abre frente à crise, sobre qual a saída para os inúmeros problemas que estão colocados, é um espaço em disputa. Por um lado, a direita apresenta os seus palhaços de juventude do MBL como referências políticas, criando campanhas que movem importantes setores, como a defesa do reacionário Escola Sem Partido, apresentando respostas às indignações reais da população como a precarização da educação pública. E um pequeno setor se influencia por figuras mais à direita do que os liberais do MBL, como o setor pró-Bolsonaro. Que agora quer disputar nossa entidade por meio da Chapa Abstenção.

Por outro lado, a juventude que não confia na direita e que se posicionou contra o golpe institucional saiu às ruas contra essa mesma direita contra a liminar da cura gay recentemente, e travou importantes combates em defesa da educação nos últimos anos, como nas ocupações de secundaristas em 2015. Esse setor mais progressista da juventude historicamente se ligou ao movimento estudantil, como um espaço de intenso debate, formação e politização, servindo para canalizar a indignação de amplos setores. O DCE da USP, por exemplo, carrega na sua história a consigna “abaixo a ditadura”, sendo a primeira entidade a levantar essa política e alastrando o debate. Mas nos últimos anos a entidade tem ficado a margem desses grandes desafios, afastada da base dos estudantes, incapaz de organizá-os para ser um fator nos grandes acontecimentos nacionais, como a luta contra o golpe institucional e nas greves gerais do primeiro semestre, contra as reformas do governo golpista de Temer.

Essa é a grande tarefa do movimento estudantil nesse momento: ser uma referência política para a juventude que está indignada com os ataques da direita e que busca por uma resposta. Mas é preciso que o movimento estudantil esteja à altura dessa tarefa.

Um movimento estudantil subversivo e aliado aos trabalhadores

Para que o movimento estudantil possa tomar pra si a tarefa grandiosa de dar vazão à indignação da juventude, ele precisa ser subversivo. Ir na contramão do discurso reacionário propagado pela direita, subverter o elitismo da universidade e superar os entraves impostos por setores do movimento que não querem mobilizar os estudantes, mantendo uma passividade que nos coloca à mercê dos ataques da reitoria e dos governos.

Precisamos de um movimento estudantil vivo, que exista no cotidiano dos estudantes e que abra a universidade para quem não conseguiu romper o filtro social do vestibular. Pra isso, precisamos debater grandes temas e ideias. Debater a situação da universidade e da educação, a saúde precária que o capitalismo nos impõe, as condições precárias de trabalho da juventude, e também debater opressões, sexualidade, drogas, lazer, cultura, cada questão candente à juventude que precisa ser livre pra criar, se expressar e lutar por melhores condições de vida, estudo e trabalho. Precisamos retomar um movimento estudantil de combate à moral burguesa, como foi feito no Maio de 68 francês, em profunda aliança com os trabalhadores da USP e de fora dela.

E para isso nossa entidade precisa ser independente. A chapa Nossa Voz, composta por setores como UJS (maior burocracia da história do movimento estudantil brasileiro), Balaio - núcleo de estudantes petistas da USP e Levante Popular da Juventude, tentam mascarar sob o falso discurso de que outro DCE é possivel, que na verdade o que eles defendem é um DCE que mantenha a passividade e o imobilismo. Pois a única alternativa possível para esse setor, é que Lula se elega em 2018, mesmo que isso signifique perdoar os golpistas que tanto nos atacam, conciliar com Renan, Sarney e os grandes empresários para manter a governabilidade. Para nós da chapa Primavera nos Dentes, a única alternativa possível para derrotar os ataques e defender a universidade e a educação públicas, é confiar em nossas próprias forças e nos organizar de forma independente dos governos que nos atacam, onde a única aliança possível é com a classe trabalhadora.

Tudo isso demanda um avanço na democracia de base do movimento estudantil, com assembleias massivas, espaços de deliberação bem convocados e que estejam abertos às necessidades mais urgentes dos estudantes e da juventude de conjunto. E isso passa por uma reinvenção do DCE. Para que possa representar realmente os estudantes, é preciso que a gestão da nossa entidade seja proporcional, com todas as chapas compondo a direção do DCE proporcionalmente ao número de votos que tiverem no processo eleitoral. Dessa forma, todas as posições do movimento estudantil estariam representadas na gestão, fazendo com que as discussões sejam sempre vivas e que os estudantes possam fazer experiência com as mais diferentes posições a respeito dos mais variados temas, podendo pela experiência prática escolher a que melhor responder aos seus anseios. Para nós essa forma de conceber a entidade, seria um enorme avanço na nossa organização enquanto movimento estudantil, pois necessariamente todas as chapas precisariam estar em permanente contato com o conjunto dos estudantes para poder defender suas posições e assim teríamos uma entidade sempre viva e presente.

Para que o DCE esteja a altura de organizar os estudantes para respondermos o momento político que vivemos, queremos reinventar nossa entidade, retomando o espírito subversivo que sempre permeou o movimento estudantil nos grandes momentos da história. Se aliando a única classe que pode transformar radicalmente a sociedade, a classe trabalhadora.




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