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ARGENTINA | Reforma da Previdência na Argentina: derrota do Governo, triunfo da mobilização

Fracassou a manobra do Governo argentino de adiantar a sessão para tentar esconder o repúdio ao saque aos aposentados. O triunfo da mobilização, apesar do papel das cúpulas sindicais, demonstra que há forças para derrubar as reformas que atacam as condições de vida do povo trabalhador, e também a escalada repressiva.

Fernando ScolnikBuenos Aires | @FernandoScolnik

sexta-feira 15 de dezembro de 2017 | Edição do dia

A grosseira manobra que o Governo nacional da Argentina tentou ao adiantar em uma semana a sessão que tentava votar o saqueio aos aposentados, terminou em uma importante derrota e crise do macrismo.

Se Cambiemos buscou com esse artefato que não se expressasse o enorme repúdio popular a suas medidas, e votar o ataque sem mobilização fora do Congresso Nacional, ficou claro que seu fracasso foi absoluto.

As mobilizações em distintos pontos da Argentina, a repressão por parte da Polícia Militar responsável pela morte de Santiago Maldonado, e finalmente o levantamento da sessão, falam por si só.

Há quase dois meses das eleições do dia 22 de outubro, o Governo argentino, muito longe do exitismo inicial que quiseram transmitir em seus meios de comunicação, ainda não conseguiu aprovar nenhuma das reformas que propôs como parte essencial de sua política de “reformismo permanente” a favor dos grandes empresários para a segunda parte de seu mandato. A estas dificuldades há que se somar uma economia com mais incógnitas que certezas, o recente fracasso dos acordos com a União Europeia e a crise do submarino.

Se algo é necessário sublinhar, é que a sessão desta quinta-feira de deputados foi derrotada pela mobilização que expressou o repúdio das massas frente ao ataque aos aposentados, apesar do papel da maior parte das cúpulas sindicais. Enquanto que a CGT, de forma insólita, convocou (e já levantou) uma paralisação nacional para o dia posterior ao tratamento da lei, as CTA, não só não pararam em todos seus grêmios (como o SUBTE, um serviço estratégico), mas também convocaram uma mobilização para esta quinta-feira em um horário tardio, depois do horário de convocatória à sessão em deputados.

Em compensação, o PTS e o sindicalismo combativo nucleado no Movimento de Agrupações Classistas (MAC) e outras agrupações, estiveram na linha de frente do combate desde cedo, continuando com sua política de chamar a enfrentar as reformas do macrismo desde que foram anunciadas. Esses setores se mobilizaram desde manhã em Callao e Corrientes e distintos pontos de toda a Argentina, para confluir em seguida com outros setores de distintos grêmios (entre eles colunas da UOM ou SUTECBA), movimentos sociais (como a CTEP e Bairros de Pé), federações e centros de estudantes e partidos de esquerda (como o PO, MAS e MST) nas imediações do Congresso Nacional, enfrentando a repressão por todo o centro da capital argentina durante muitas horas.

Os deputados, Nicolás del Caño e Nathalia González Seligre (PTS-FIT), que estiveram desde cedo nas ruas com a mobilização, também deram a luta dentro do recinto, assim como Romina del Plá (PO-FIT). Por sua parte, figuras como a deputada da cidade de Buenos Aires, Myriam Bregman, acompanharam a luta potencializando nos meios de comunicação uma voz de denúncia contra a militarização, a repressão e as reformas do Governo.

Se apesar das conduções sindicais se derrotou a sessão de deputados, o que é claro é que há uma enorme força social disposta a enfrentar todas as reformas do Governo (da previdência, tributária e trabalhista), assim como os tarifaços e as demissões.

Pela tarde, primeiro Elisa Carrió, e em seguida Marcos Peña não só justificaram a repressão, mas também deixaram claro que logo depois da derrota tentarão seguir com seus planos de ataques ao povo trabalhador, em benefício dos grandes empresários.

Se bem tentarão novas manobras, como talvez fazer alguma “concessão” para continuar com o essencial dos ataques, o que hoje ficou demonstrado é que se podem derrotar os planos do Governo.

Nenhuma confiança se pode ter nos deputados das distintas variantes do peronismo que hoje não deram quórum, pressionados pela mobilização popular, e que em muitos casos respondem a governadores que haviam pactuado o ataque com o macrismo. Dois anos de Cambiemos aprovando leis em minoria dão conta disso.

Hoje mais que nunca, todos os sindicatos que dizem se opor à política econômica do macrismo devem convocar uma paralisação e plano de luta nacional com continuidade até derrotar todas as reformas, a escalada repressiva e os tarifaços. Esses grêmios, estratégicos, podem paralisar o país e mobilizar a centenas de milhares de pessoas. Há forças para ganhar.




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