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RESPOSTA À COLUNA DO ESTADÃO | Rebeldes com causa em defesa do futuro

Bolívar Lamounier, cientista político, escreveu em sua coluna para o jornal O Estado de São Paulo três motivos que julga serem as motivações de luta do movimento estudantil brasileiro, em especial os motivos das ocupações secundaristas que incendeiam o país.

segunda-feira 31 de outubro de 2016 | Edição do dia

Foto: UOL

Antes de começar sua argumentação, Lamounier coloca o pressuposto de que o método de ocupações é um método violento, pois anula a possibilidade de diálogo com o governo e as autoridades que estão trabalhando no projeto da Reforma: “A primeira questão a considerar é, pois, por que dezenas de milhares de estudantes e professores optaram por uma tática violenta (ocupação é violência), descartando liminarmente o diálogo com as autoridades do governo, com os especialistas que trabalharam no projeto da reforma e com outras comunidades potencialmente interessadas. Por que uma tática que os isola, quando só teriam a ganhar ampliando o alcance de sua manifestação? Por que não uma série bem organizada de debates, pacífica e ordeira, tecnologia que nossa sociedade, felizmente, domina há tanto tempo?”, afirma Lamounier

Então, a primeira questão a se considerar é, de fato, a desconstrução do argumento de Lamounier de que o método de ocupações é violento pelo quê a própria História tem nos contado. Desde o começo de 2016, a juventude brasileira assiste o golpe institucional ser consumado, com as manobras palacianas da direita e apoio do Judiciário. Após a consumação, as medidas do golpista Temer nos descem goela abaixo, sem nem ao menos algum espaço de discussão, como a Reforma do Ensino Médio e a aprovação da PEC 241 na Câmara de Deputados.

Diante dos ataques, a juventude brasileira não se cala. Em nossos métodos, que são os métodos que estão a nosso favor, e não a favor dos inimigos golpistas, lutamos por educação pública, gratuita e de qualidade. Lutamos pela não implementação da Reforma do Ensino Médio e para barrar a PEC do Fim do Mundo, como ocupamos escolas contra a Reorganização Escolar de Alckmin (PSDB - SP) e contra a tomada das escolas pelas OSs de Perillo (PSDB - GO).

Do descontentamento à imposição do sujeito político

As três hipóteses que o autor coloca em seu texto são a necessidade da sociedade discutir as medidas educacionais tomadas nacionalmente, o descontentamento político dos jovens com a política e a influência do pensamento de esquerda na direção do movimento estudantil, em “grau crescente de plausabilidade”.

Ao contrário do que ele propõe, as ocupações são, sim, uma forma de botar em discussão os ataques do governo Temer à educação. São espaços ricos de debates, como vemos nas oficinas, reuniões e assembleias que ocorrem dentro das ocupações, em que argumentos são construídos e afinados para barrar os golpes.

Já em relação às duas últimas hipóteses, Lamounier também explana de um ponto de vista conservador. O descontentamento político da juventude brasileira é um reflexo da profunda crise de representatividade que o país se encontra. De um lado, a direita golpista se fortalecendo (como pudemos ver nessas eleições) e o nosso futuro sendo bucha de canhão para garantir o lucro dos gestores que querem transformar a política em governo empresarial abertamente, o PMDB e o PSDB. Por outro lado, mais um bloco burguês que está a serviço dos empresários no sentido de conter as massas revoltosas, o PT com sua gigante central sindical, a CUT, e seus aliados, o PCdoB na direção da UNE, a maior entidade estudantil do Brasil - nenhuma delas servindo à luta contra os ataques.

Ele justifica essa ânsia de subverter a ordem com o argumento de “ativismo romântico”, o que, de fato, pode gerar e incitar rumos do movimento de descarrilamento e fortalecimento da correlação de forças para a repressão, mas não podemos negar essa ânsia, e, sim, canalizá-la para a auto-organização dos estudantes em linha de frente e caixa de ressonância de um movimento de massas.

Além do mais, quando Lamounier disserta sobre a politização de esquerda e a influência que a esquerda tem no movimento, ele expressa de forma exagerada e reacionária essa influência. A esquerda precisa se fundir com essa juventude combativa que só cresce no Brasil. Só assim poderemos organizar nossas forças e travar uma frente única contra o Estado repressor e seus agentes conservadores.

Assim, perante a falta de alternativa para essa juventude, que em sua maioria é diretamente trabalhadora, resta-nos assumir a responsabilidade de subverter a ordem e tomar o posto de sujeito político que barra os ataques à educação e utiliza sua extrema politização como arma de combate. Inspirados na luta dos secundaristas de São Paulo do fim de 2015, que barraram a Reorganização Escolar, mais uma vez os estudantes tomam as rédeas da situação e ocupam suas escolas para mostrar que têm total capacidade de discutir seu próprio futuro.

Não vamos aceitar calados os ataques e vamos utilizar dos nossos métodos, que são legítimos. Exemplos de combate devem nos incendiar todos os dias, afinal a politização contra o golpe e por educação pública, gratuita e de qualidade é muita! #OcupaTudo




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